Agroecologia nos municípios


A iniciativa Agroecologia nos Municípios chega em Santa Luzia do Itanhi a partir das relações da ReSeA com o Movimento da Mulher Trabalhadora Rural (MMTR-NE) e com a experiência agroecológica do Sítio Pé de Mato. Estas organizações locais, compostas por militantes experientes, como Verônica Santana, Madalena Santana, Edson Souza e Zé Roberto, envolvidos ativamente na política do município, possuem uma rica história de luta pela terra, que resultou na conquista e constituição do Assentamento Vitória da União, hoje lugar de acolhida da iniciativa AnM.
 
O contexto social e político do município de Santa Luzia do Itanhi está fortemente marcado pelo latifúndio e intervenção do agronegócio. Apesar de a maioria da população residir em área rural e desenvolver suas atividades de geração de renda neste espaço, a dificuldade de acesso à políticas públicas direcionadas à agricultura familiar e à pesca é grande, e fator limitante ao desenvolvimento econômico local. De tal contexto, parte a necessidade latente de organização social, uma vez que o quadro atual é caracterizado pelo baixo número de associações ativas (com trabalho de base junto à associadas/dos), bem como dos conselhos municipais, a exemplo do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS). Nesse sentido, a iniciativa AnM surge em Santa Luzia do Itanhi como oportunidade de transformação social.
 
Entendendo o papel central das redes de Agroecologia no desenrolar das ações da incidência política, criamos uma comissão dentro da ReSeA para acompanhar os passos dados no município, e nesta comissão, também refletir sobre as possibilidades de realização da iniciativa em outros municípios sergipanos.
 
Desde o início das articulações para construção da iniciativa AnM, vimos que era preciso ampliar o debate com a sociedade civil, trazendo para a roda o maior número possível de comunidades e organizações locais. Assim, realizamos em 03 de setembro de 2021 a Oficina Mobilizadora ‘Agroecologia nos Municípios’ – diálogos e percepções sobre o foco de incidência no município, que contou com a presença de representantes de associações, movimentos, quilombolas e da gestão pública municipal. Como frutos da oficina, muitos produtos da comunicação, dados sobre o contexto social e político do município, e a constituição de uma comissão local, para dar seguimento aos trabalhos.
 
Após o momento da oficina mobilizadora, engajadas/dos em conhecer mais de perto as realidades do município, realizamos visitas às principais comunidades quilombolas do Território Luziense. A partir das visitas, estreitamos as relações com as lideranças locais, em especial Zé Raimundo - Secretário Municipal de Pesca e Aquicultura, e Nide – secretária adjunta da pasta mesma pasta, assim como pudemos compreender melhor as demandas do movimento quilombola.
 
Realizamos ainda, no mês de outubro de 2021, a primeira reunião da comissão local, com o intuito de construir um plano de ação. Constam neste plano, as atividades e tarefas referentes a temas transversais, tais como: reativação dos conselhos e associações; implementação da lei 10.639; aumento do percentual de compras e inclusão do pescado no PNAE; organização das feiras tradicionais quilombolas; dentre outros temas.
 
No que diz respeito aos desafios, há limitações impostas pela ausência de recursos financeiros, principalmente para garantir a alimentação e os materiais gráficos para cada momento de reunião/oficina, aliados ainda aos custos de deslocamento. Muitos diálogos foram sendo feitos através das plataformas de reunião virtual (Google Meet, Jitsi meet, Whatsapp), porém com dificuldades de participação, uma vez que o acesso à internet e tecnologias associadas ainda é um grande gargalo para as comunidades rurais e municípios interioranos, como é o caso de Santa Luzia do Itanhi. Assim, tais recursos têm sido garantidos a partir do esforço coletivo das organizações envolvidas e da ReSeA.
 
Também há desafios do ponto de vista da comunicação, no que diz respeito à aproximação de sujeitas/os com perfil para a comunicação popular. No contexto da realização da oficina mobilizadora, alguns contatos e reuniões foram feitas, porém, efetivamente a comunicação do processo foi e tem sido feita pelas mesmas figuras do grupo local e consultorias da ANA, fato que nos fez refletir sobre a necessidade de sensibilização das/dos comunicadoras/es, a partir de um processo de formação para a comunicação agroecológica.
 
Toda esta caminhada, construída com muito diálogo, cuidado e reflexão, nos trouxe até um entendimento coletivo sobre duas principais linhas de incidência política em Santa Luzia do Itanhi: Comercialização dos produtos da agricultura familiar, camponesa e quilombola, pesca e aquicultura; e Fortalecimento da organização social. Com tais definições, inauguramos um processo para fora, de diálogos e intervenções junto às diferentes esferas do poder público municipal e parcerias identificadas, com ações mais direcionadas à concretização das demandas referentes à cada linha de incidência.
 
O saldo político que a ReSeA obtêm ao final da iniciativa AnM é positivo, os laços entre MMTR-NE e demais grupos envolvidos foram estreitados, os espaços organizativos criados pela iniciativa AnM (Comissão  Ampliada AnM – Santa Luzia do Itanhi; Comissão ‘ReSeA nos municípios’), foram muito importantes, e ainda que não tenhamos conquistado militantes orgânicos para a rede, entendo que este passo ainda pode ser dado, na medida em que a rede mantenha a dinâmica de encontros, mesmo que virtuais, espaços para trocas de experiências e diálogos em torno da incidência política.
A assinatura da carta compromisso da Campanha ‘Agroecologia nas Eleições’ foi um primeiro passo em direção à garantia, pela gestão pública, dos direitos sociais, políticos, econômicos e ambientais aos quais se relaciona a Agroecologia. A cobrança por tal compromisso, contudo, é tarefa que só a sociedade civil organizada pode cumprir, por isso a estratégia de construção do poder popular precisa estar no centro da atuação das organizações e movimentos sociais.
Neste sentido é que a ReSeA e consultorias da ANA tem buscado mostrar a importância da reorganização do CMDRS, ainda que, num primeiro momento não venham todas as associações do município, dadas as condições que a conjuntura atual impõe, mas a reconstituição deste espaço legítimo de exercício da democracia participativa pode aglutinar as forças sociais que colocarão em pauta a Agroecologia em Santa Luzia do Itanhi.

2. Antecedentes da experiência

2.1 Faça um resumo dos antecedentes da experiência que antecederam a iniciativa Agroecologia nos Municípios.

Os antecedentes da experiência em Santa Luzia do Itanhy perpassam as relações entre MMTR-NE, Assentamento Vitória da União e ReSeA, em virtude de agendas da rede, como as Caravanas Agroecológicas e a construção do Plano Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica (PLEAPO), mas também pela relação mais direta entre MMTR-NE e Articulação Nacional de Agroecologia. Essas relações ganham força também em 2020, com as mobilizações em torno da Campanha “Agroecologia nas Eleições”, cuja carta compromisso foi assinada pelo candidato à prefeito de Santa Luzia do Itanhi, Adauto Dantas do Amor Cardoso (PSD), que foi eleito, e pelo candidato à vereador no mesmo município, José Roberto Celestino (PT), que não foi eleito, mas está atuando como secretário municipal de agricultura. A assinaturas das cartas foram colhidas por meio da atuação de militantes locais organizadas/dos no Movimento da Mulher Trabalhadora Rural (MMTR-NE) e no Partido dos Trabalhadores (PT), agricultoras/es agroecológicas/os.

3. Participação social e política na experiência de incidência

3.3 A experiência de incidência é realizada conjuntamente a organizações da sociedade civil (grupos, coletivos, organizações, movimentos sociais e outros)?Sim

Indique o perfil dos/as participantes da sociedade civil com quem a experiência de incidência foi articulada durante a iniciativa.

  • Cooperativas e Associações
  • Redes
  • Grupos e coletivos
  • Movimentos Sociais

3.5 Em que âmbito se deu a participação da sociedade civil no processo de incidência?

  • Na articulação com atores políticos (esfera municipal)
  • Mobilização e fortalecimento de grupos da sociedade civil

3.6 Dentre as pessoas protagonistas, marque o grupo com maior participação:Mulheres

3.7 Dentre as pessoas protagonistas, marque o grupo com maior participação:Negros/as

3.8 Dentre as pessoas protagonistas, marque o grupo de faixa etária com maior participação:30 - 59 anos

3.10 Como você qualifica os espaços de participação social no município de incidência?Restritos/limitados (participação meramente formal em algumas etapas do processo)

3.10. 1 Faça uma breve consideração sobre a qualificação dos espaços de participação social a partir da resposta anteriorOs espaços de participação social ditos como legítimos estão, em sua maioria, inativos. Segue essa linha também as associações locais, com raras exceções em que a entidade está ativa, organizada e fazendo trabalho de base junto às/aos associadas/dos. Tal cenário pode ser retratado pelo fato de que a oficina mobilizadora AnM em Santa Luzia do Itanhi, foi o primeiro encontro entre diferentes organizações do campo num período de 8 anos. Há muitas experiências desenvolvidas, mas de forma desarticulada.

3.12 Descreva os resultados e aprendizados do processo de participação da sociedade civil na experiência de incidência.

A iniciativa Agroecologia nos Municípios está deixando em solo sergipano uma semente boa, crioula, a ser semeada em outros territórios de atuação da ReSeA e movimentos que a compõe. A experiência desenvolvida mostra que esse olhar para as políticas públicas em nível local, a incidência sobre os PPA’s e LOA’s dos municípios, a organização da sociedade civil em conselhos efetivos como CAE (Conselho da Alimentação Escolar) e CMDRS, são passos firmes em direção à soberania alimentar e autonomia do campesinato, que vem resistindo bravamente ao projeto de morte que o capitalismo tem para o campo. Não realizamos, dentro do horizonte temporal da iniciativa AnM enquanto projeto, a institucionalização de uma política pública, porém o caminho trilhado até aqui mostra que a sociedade civil foi mobilizada e segue buscando seu fortalecimento, agora instrumentalizada por um plano de ação municipal. 

3.13 Descreva as fragilidades e desafios/dificuldades do processo de participação da sociedade civil na experiência de incidência.

Algumas fragilidades e desafios se colocaram durante o processo, como a dificuldade de aproximar comunicadores populares, as disputas políticas no município, dado que existem resistências à atuação dos movimentos sociais dentro da gestão, e talvez por isso, a não aproximação de parlamentares à iniciativa. Observo que a atuação direta das/dos militantes na gestão pública (secretarias) contribuiu muito para a iniciativa AnM, no que diz respeito ao acesso a algumas estruturas para as reuniões, por exemplo. Tivemos facilidade em conseguir um local adequado para reunir, acesso à materiais impressos e alguns equipamentos audiovisuais, em parceria, principalmente, com a Secretaria Municipal de Educação. Entretanto, foi preciso em diversos momentos adequar a agenda da iniciativa AnM às demandas expressas das secretarias e/ou agendas mais amplas da gestão que exigiam a presença das/dos militantes, e nesse sentido, muitas atividades propostas foram sendo adiadas. Cabe ressaltar ainda que, durante todo o processo, foi preciso lidar com a realidade da pandemia de covid-19. Esta realidade atinge diretamente o trabalho das organizações sociais, seja pelo aspecto da saúde pública ou pelas limitações que impõe ao trabalho de base, este que é o alicerce das movimentações para a garantia dos direitos do povo. 


NomeMovimento da Mulher Trabalhadora Rural

Qual o papel da organização na iniciativa?

  • Participante
  • Facilitadora do processo participativo

NomeRede Sergipana de Agroecologia

Qual o papel da organização na iniciativa?Facilitadora do processo participativo

NomeAssociação dos Assentados do Projeto Vitória da União

Qual o papel da organização na iniciativa?

  • Facilitadora do processo participativo
  • Participante

NomeMovimento Camponês Popular

Qual o papel da organização na iniciativa?Participante

NomeMovimento Quilombola de Sergipe

Qual o papel da organização na iniciativa?Participante

NomeMovimento de Mulheres Afro-Empreendedoras

Qual o papel da organização na iniciativa?Participante

4. Institucionalidade

4.1 Quais esferas públicas estiveram associadas?Executivo

4.2 A experiência se deu de forma suprapartidária? Não se aplica

4.3 A experiência se deu de forma intersecretarial/intersetorial? Sim

4.4 Houve envolvimento de conselhos municipais?Não

4.5 A experiência resultou em alguma institucionalização?Não foi institucionalizada

4.6 A experiência está relacionada a outras políticas públicas municipais?Não

4.7 A experiência está relacionada a alguma política pública estadual?Não

4.8 A experiência está relacionada a alguma política pública federal?Sim

Indique o perfil dos/as participantes do Executivo com quem a experiência de incidência foi articulada durante a iniciativa.Secretária/o Municipal

Quais políticas federais?

  • Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
  • Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)

5. Anexos

5.3 Adicione links que complementem a compreensão da experiência de incidência.https://www.facebook.com/redesergipanadeagroecologia/photos/pcb.4890514927644516/4890512237644785/

Anexos

Apresentação dos trabalhos em grupo durante Oficina Mobilizadora Agroecologia nos Municípios. Foto: Priscila Viana
Momento de reflexão coletiva sobre a iniciativa AnM, no Assentamento Vitória da União. Foto: Alex Macedo.
Visita à comunidade quilombola Ilha do Crasto, Santa Luzia do Itanhi/SE. Foto: Priscila Viana.
Segunda reunião da Comissão Ampliada AnM em Santa Luzia do Itanhi/SE. Foto: José Roberto Celestino.
Oficina mobilizadora 'Agroecologia nos municípios' em Santa Luzia do Itanhi/SE. Foto: Vivian Loch

Anexo 6

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Anexo 7

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Anexo 8

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Anexo 9

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Anexo 10

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Carta compromisso da Campanha 'Agroecologia nas Eleições' assinada por Zé Roberto, atual secretário de Agricultura de Santa Luzia. Foto: ReSeA. do Itanhi/SE.