Sertão.Net
Um grupo de agricultores familiares dos municípios de Cafarnaum, Umburanas e Ourolândia, no semiárido da Bahia, desenvolve práticas agroecológicas e permaculturais que permitem a recuperação do solo degradado e a produção de alimentos para a segurança alimentar de suas famílias, aproveitando os recursos locais e reduzindo o uso de insumos externos às suas propriedades. Tais conhecimentos necessitavam ser divulgados e ampliados por meio de trocas com outros agricultores que habitam regiões semiáridas.
Por este motivo, criou-se o projeto Sertão.Net, que consiste no intercâmbio de experiências entre este grupo e outros grupos de agricultores de uma região semiárida da Índia, no estado de Karnataka, que também desenvolvem práticas agroecológicas. As trocas de conhecimentos acontecem por meio de videoconferências realizadas com um software livre, cada uma tratando sobre um tema acordado previamente (uso da água, bancos de sementes, horticultura, plantio, manejo e colheita, sistemas de produção integrados etc). Os agricultores brasileiros também aprenderam a filmar e fotografar suas práticas, realizando vídeos e apresentações que são postadas no blog do projeto. Desta maneira, tornam acessíveis suas experiências para um público mais amplo do que as suas comunidades de origem.
Cerca de 30 vídeos foram produzidos pelos agricultores em oito meses de realização do projeto. Eles abordam temas como ervas medicinais, uso de palma forrageira para cobertura do solo, processamento de frutas da caatinga, benefícios do umbu, campos de policultura, técnicas de armazenamento de sementes, criação de abelhas nativas em sistemas agroflorestais, impactos dos agrotóxicos nas lavouras do semiárido. Como resultados, percebe-se a construção de um novo espaço de construção de conhecimentos baseado na partilha das experiências vividas pelos agricultores baianos e indianos; a capacitação e o empoderamento dos agricultores baianos com relação ao uso de equipamentos e produção de informações, bem como à disseminação das mesmas; a ampliação do diálogo entre o saber popular, os conhecimentos empíricos, e o saber técnico; a revalorização dos conhecimentos tradicionais e da diversidade cultural; um estímulo à cooperação sul-sul graças à parceria estabelecida entre as organizações brasileiras e indianas envolvidas com o projeto.