Rede de Comercialização Solidária Trem Bão



A Rede “Trem Bão”, fundada em 2014, se caracteriza por uma Rede de Comercialização Solidária de produtos em transição agroecológica, estando ativa na cidade de Assis/SP e região. Sendo assim, é também reconhecida como Empreendimento de Economia Solidária (EES), em que o trabalho é norteado pelos princípios do cooperativismo e da autogestão. 
Provenientes da Agricultura Familiar dos agricultores assentados residentes do PDS (Projeto de Desenvolvimento Sustentável) “Boa Esperança”, localizado no município de João Ramalho/SP, os produtos ofertados variam entre hortaliças, verduras, raízes, frutas, chás, temperos e processados manufaturados. 

Semanalmente, as 8 agricultoras e agricultores que compõem a Rede se reúnem para, através de um rodízio estabelecido pelo grupo, definir qual produto será entregue por cada produtor na semana em questão. Os encontros são mediados pela equipe gestora da Rede responsável por assessorar o Empreendimento de Economia Solidária (EES).
Toda quarta-feira, ocorre a chamada “entrega das cestas”, feira onde as consumidoras e consumidores se reúnem para buscar suas respectivas cestas e demais produtos encomendados através do “Extra”, ferramenta criada para suprir a demanda de escoamento de outros produtos que não compõem a cesta semanal como manufaturados, por exemplo, ou produtos ofertados em menor quantidade.
Atualmente, a Trem Bão fornece alimentação saudável a 54 núcleos (casas, famílias, amigos e pessoas que dividem os custos e o consumo das cestas e produtos), portanto, fornecendo 54 cestas com 8 produtos cada totalizando, aproximadamente, 250 pessoas consumidoras.
Para auxiliar o processo de formação e desenvolvimento da Rede, a Trem Bão conta com uma equipe gestora, intitulada “Gestão da Trem Bão”, composta por em média 15 pessoas, sendo o grupo aberto a novos integrantes e tendo certa fluidez em sua composição, realizando encontros semanais para tratar demandas, pautar propostas e elaborar projetos visando o desenvolvimento e a harmonia na Rede.
A Gestão se dividem em “Trens”, sendo os trens da Harmonia (1); Gula (2); Bufunfa (3) e Roça (4). Responsáveis por (1) articular as equipes dos Trens, fortalecer o diálogo entre consumidoras/es e produtoras/es, organizar eventos e encontros formativos e mediar a entrada e saída de consumidoras/es; (2) organizar e realizar as entregas das cestas, destinar as que eventualmente não são retiradas e sistematizar os pedidos e entregas de encomendas do Extra; (3) gerir financeiramente a Rede, registrando entradas e saídas, realizar o pagamento das produtoras/es e a prestação de contas, a fim de manter a transparência no EES, manejar e mediar contato com consumidoras/es em situação de dívida; e por fim (4), responsável por assessorar, com auxílio da Incubadora de Cooperativas Populares Unesp Assis, a Cooperativa dos Agricultores Agroecológicos Boa Esperança (COOAABE), da qual as produtoras/es fazem parte, bem como mediar os encontros semanais e construir o planejamento da produção conjuntamente a fim de atingir a cesta ideal, composta pela variedade de produtos hortifrutigranjeiros supracitados.
Bimestralmente, alternando entre uma vez no campo e outra na cidade, ocorrem as Assembleias da Rede Trem Bão, espaço destinado à confraternização entre os integrantes da rede (consumidoras/es e produtoras/es), discussão e encaminhamento de pautas e propostas, socialização da prestação de contas, abertura para novos integrantes da Gestão e afins, se caracterizando como espaço fundamental de formação para aquelas/es que compõem a Trem Bão.

Através do manejo agroecológico da produção no campo, sobretudo da não utilização de insumos químicos, agrotóxicos e demais venenos, assim como o manejo ecológico e adequado de resíduos, a Trem Bão se fortalece como polo de fomento à alimentação saudável e à promoção de saúde coletiva, permeando os cuidados com quem produz e quem consome. Da mesma forma, os espaços de acolhimento aos consumidores também propõem uma forma outra de relação com o alimento, o consumo e a gestão financeira na construção de uma comercialização saudável e solidária.
As integrantes da Trem Bão frequentemente trazem relatos de como a Rede proporciona uma alternativa às compras realizadas em mercados, onde não se sabe a origem do produto final, e nem sob quais condições este foi produzido. Também ressaltam que a variedade de produtos recebidos semanalmente, através de sua diversidade e qualidade, promovem a educação alimentar contínua, apresentando novas possibilidades de composição da alimentação através da comida de verdade e da troca de saberes e afetos com as mãos que produzem o nosso alimento,  integrando saúde física e mental, reconhecendo que são indissociáveis. 

Mesmo através do acesso à políticas em compras públicas para a Agricultura Familiar, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que se dá de forma não contínua, a Trem Bão é a principal fonte de renda das agricultoras e agricultores que a integram. 
Até o presente momento, a Rede movimentou cerca de R$60.000 (sessenta mil reais) no ano de 2020. Realizando uma prospecção, podemos sugerir que até o final do ano a Rede movimente cerca de R$85.000 (oitenta e cinco mil reais), em média R$7.000 (sete mil reais) mensais. Tal quantia se divide em: pagamento das produtoras/es, feito integralmente, pagamento das colaboradoras/es da Gestão, sendo esta uma contrapartida simbólica pelo trabalho exercido, e depósito no “Fundo” da Trem Bão, recurso utilizado para manter e custear atividades de funcionamento da Rede, tais como: transporte entre as cidades de Assis e João Ramalho, tanto semanalmente nas entregas das cestas quanto em eventos pontuais (Assembleias e outros encontros formativos), organização de eventos, compra de materiais, empréstimos às produtoras/es para aprimoramento da produção e afins. 

A experiência de trabalho em rede fornece, sobretudo, diversos aprendizados. O processo formativo é constante e impacta diretamente em cada integrante desta. Através dos encontros de Integração, Oficinas, Assembleias, Mutirões e demais encontros, observamos além do constante processo de formação do sujeito que atua em rede, diversas trocas de saberes entre as comunidades envolvidas, entre campo e cidade, entre o saber técnico e o saber popular, tecendo assim experiências de compartilhamento no processo de construção e desenvolvimento do aprendizado individual e coletivo.

“A Rede me proporciona uma relação alternativa a ir ao mercado e pegar itens nas prateleiras. Através da Rede, me alimento de produtos sem veneno e de qualidade que foram cultivados por produtores receptivos e próximos dos consumidores, proporcionando trocas de saberes e afetos. Aprendo que o consumo é um ato político e que é através da participação de todas as partes- produtores e consumidores- que uma comercialização saudável e solidária pode ser feita, beneficiando a todes.”

“Eu e as pessoas com quem dividimos sentimos que as cestas da Rede Trem Bão facilitam no consumo de produtos que vem toda semana sempre mostrando variedade e qualidade nos itens. Também pela questão financeira, na qual, todas nós conseguimos manter esse compromisso como consumidoras, além disso, houve melhoria em relação a experiência com a nossa alimentação.”

“Pertencer e fazer parte da construção da Rede, onde posso ter acesso a uma alimentação saudável, e conhecer e interagir com as pessoas envolvidas, tanto da roça como da cidade.”

“por ter acesso a comida de verdade, que promove renda aos agricultores da reforma agraria de maneira digna”

“Por ser produtos orgânicos, contato direto com o produtor, por traser saúde pra nós e para o solo”

“Questão financeira e em busca de uma alimentação mais saudável”
“Para comer de maneira mais saudável e consciente”

“A agroecologia é a maneira mais sustentável e sadia tanto em segurança alimentar como para os solos, flora e fauna…”

Diante do exposto, consideramos a Rede Trem Bão uma estratégia de promoção à saúde, assim como promotora do direito humano à alimentação adequada, segurança alimentar e nutricional e soberania alimentar. Estratégias agroecológicas de consumo consciente tem o potencial de reduzir a cadeia de produção, conectando produtores e consumidores, reduzindo os impactos ambientais e os danos à saúde coletiva.

2. Duração da experiência

Essa é uma experiência criada em resposta aos efeitos da crise sanitária decorrente da pandemia do Coronavírus (Covid-19)? Em parte, a experiência já acontecia mas houve ajustes devido à pandemia

3. Identificação do tipo experiência

Esta experiência é/foi realizada no Brasil?Sim

Selecione o tipo de experiênciaComercialização

Tipo(s) de produto(s) comercializado(s)

  • Alimento beneficiado (polpa, doce, geléia, etc)
  • Alimento in natura
  • Tempero
  • Plantas medicinais ou outro produto terapêutico (pomada, óleo, unguento, etc)

Forma como comercializa o(s) produto(s)

  • Feira
  • Cestas agroecológicas

4. Sujeitos

Você considera que a experiência tem uma atuação em Rede? Não

Qual(is) a(s) identidade(s) do(s) grupo(s) social(is) e coletivo(s) que participa(m) da construção desta experiência?Agricultoras/es assentadas/os da Reforma Agrária e consumidoras e consumidores

Sexo - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • Masculino
  • Feminino

Cor ou raça - indique o(s) grupo(s) que participa(m) da experiência

  • Parda
  • Preta
  • Amarela

Se há uma cor ou raça com maior participação, indiqueBranca

Faixa etária - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • Até 6 anos
  • De 30 a 60 anos
  • De 15 a 29 anos
  • De 7 a 14 anos
  • Acima de 60 anos

Indicação do gênero das pessoas participantesHomens e mulheres cis e trans, pessoas não binária

6. Localização e abrangência espacial

Esta experiência está sendo cadastrada pelo celular (via aplicativo ODK Collect)? Não

7. Práticas em saúde e agroecologia

Águas e saneamento

  • Cisterna
  • Gestão de resíduos
  • Captação de água de chuva
  • Sistema de irrigação
  • Bacia de evapotranspiração (BET) ou sistemas de tratamento por zonas de raízes

Práticas Agroalimentares (produção/beneficiamento/consumo)

  • Produção animal (ex. caprinocultura, ovinocultura, avicultura, etc.)
  • Quintais sócio-produtivos (horticultura, pomar, etc.)
  • Feiras agroecológicas
  • Agrofloresta
  • Plantas alimentícias não convencionais (PANCs)
  • Compostagem
  • Adubação verde

Práticas Populares e Tradicionais de Cuidado em Saúde ou Saúde Popular

  • Dietas alimentares
  • Remédios caseiros a partir de plantas medicinais

Esta prática é considerada uma tecnologia social pelos protagonistas da experiência? Sim

O que estimula a adoção dessa(s) prática(s)?

  • Curso de capacitação e treinamento
  • Intercâmbio/vivência
  • Participação em redes de aprendizados e conhecimentos
  • Rodas de conversa e oficinas
  • Ancestralidade/trajetória de vida/memória afetiva

8. Políticas públicas

Caso a experiência tenha acessado uma ou mais políticas públicas brasileiras, indiqueNenhuma

9. Resistências e ameaças

Algo ameaça esta experiência?

  • Racismo
  • Agrotóxico
  • Violência do Estado
  • Contaminação/poluição ambiental
  • Disputa territorial ou dificuldade de acesso ao território
  • Violência de gênero (contra mulher, LGBTQIAP+fobia)
  • Sucessão geracional frágil ou inexistente
  • Transgênico

Há conflito(s) ambiental(is) no(s) território(s) onde essa experiência acontece?Sim

Indique o(s) município(s) e respectiva(s) Unidade(s) Federativa(s) onde acontece o conflitoJoão Ramalho - SP

Grupo(s) social(is) atingido(s) pelo conflito ambiental

  • Agricultor(a) familiar
  • Trabalhadoras/es rurais sem terra

Atividade(s) geradora(s) do conflito

  • Transgênicos
  • Atuação do Judiciário e/ou do Ministério Público
  • Agroindústria/agronegócio
  • Agrotóxicos
  • Atuação de entidades governamentais
  • Monoculturas
  • Pecuária
  • Especulação imobiliária

Impactos Socioambientais da(s) atividade(s)

  • Assoreamento de recurso hídrico
  • Contaminação ou intoxicação por substâncias nocivas
  • Alteração no regime tradicional de uso e ocupação do território
  • Desmatamento
  • Desertificação
  • Alteração no ciclo reprodutivo da fauna
  • Erosão do solo
  • Exploração no trabalho
  • Incêndios e/ou queimadas
  • Falta de saneamento básico
  • Poluição atmosférica
  • Mudanças climáticas
  • Poluição de recurso hídrico
  • Poluição do solo
  • Precarização/riscos no ambiente de trabalho

Possíveis danos à saúde decorrentes da atividade e/ou do conflito

  • Acidentes
  • Contaminação ou intoxicação por agrotóxicos
  • Doenças respiratórias
  • Contaminação química
  • Piora na qualidade de vida
  • Doenças não transmissíveis ou crônicas
  • Falta de atendimento médico

A experiência aqui cadastrada está envolvida nesse(s) conflito(s) ambiental(is)? Sim, a experiência é ameaçada pelo conflito

11. Estratégias de Comunicação e Anexos

Que tipo(s) de ferramenta(s) utiliza para divulgar a experiência e se comunicar com os envolvidos?

  • E-mail
  • Facebook/Messenger
  • Instagram
  • Whatsapp/Telegram

12. Redes em saúde e agroecologia

De que forma sua organização poderia colaborar na criação e/ou fortalecimento dessas redes?Através de articulação local, regional ou nacional.

Anexos