PROJETO AGROFLORESTAR
O aumento da degradação ambiental tem gerado preocupação tanto por parte da sociedade, quanto nas esferas político-administrativas. Neste sentido, observa-se a crescente incorporações de sanções mais restritivas no aspecto legal e nas preferências do mercado consumidor sobre as atividades de produção que causem alguma forma de degradação ambiental. Adicionalmente, esta tendência mundial tem implicações para o desenvolvimento do espaço rural e agroecológico, uma vez que, nos últimos anos, a sociedade tem cobrado insistentemente que as atividades produtivas estejam integradas com a preservação e até com a recuperação dos recursos naturais.
Historicamente, a estratégia adotada para o desenvolvimento da região Amazônica tem se baseado na implementação de projetos de assentamento ou colonização, migrando agricultores de outras regiões do Brasil, principalmente do Nordeste para a Amazônia. Estes agricultores detêm, em geral, pouco ou nenhum conhecimento sobre o potencial de uso das espécies vegetais amazônicas e adotam a agricultura itinerante de derruba e queima como prática comum, substituindo grandes extensões de floresta primárias por fisionomias de floresta secundária, capoeiras e pastagens. Como resultado deste modelo de desenvolvimento têm-se observado taxas crescente de desmatamento e um número também crescente de focos de calor (queimadas) e de grandes incêndios florestais.
Esse quadro não é diferente em Roraima. Em 1998 o estado de Roraima foi atingido por um dos maiores incêndios florestal já registrado no País. Nessa ocasião as principais frentes de fogo se alastraram por cerca de 400km lineares em toda a porção centro-oeste de Roraima, entre os cursos dos rios Mucajaí e Uraricoera. Em 2003 esta área foi novamente assolada por um grande incêndio florestal, não por um acaso, pois nessa área encontra-se a maior rede de estradas vicinais e de colonização do Estado.
A Associação de preservação do Apiaú - APPA, uma associação que congrega agricultores familiares, objetivando: "produzir desenvolvimento na prática de preservação ambiental" (Estatuto Social da APPA) tem sede na colônia do Apiaú, município de Mucajaí,uma das áreas mais atingidas pelos incêndios de 1998 e 2003. Esta colônia, fundada no ano de 1980, é atualmente a de maior importância para este município.
Trabalhando em parceria com a Embrapa Roraima desde 1999, em projetos de pesquisa participativa para o desenvolvimento de sistemas alternativos a prática de derruba e queima, a APPA vem praticando a introdução de sistema denominado Sistemas Agroflorestais - SAF, onde o uso do fogo foi completamente abolido desde então nas propriedades que participam deste projeto. No entanto, como se trata de uma região muito sensível ao período de seca, a queimada de 2003 atingiu os sistemas já instalados.
Os esforços, atualmente, voltam-se para recomposição e ampliação dos SAF's, com efetivo incremento no plantio de fruteiras para o aproveitamento no processamento de polpas de frutas e comercialização do produto, além da recuperação das áreas de reserva legal e de preservação permanente.
• Como resultado tem-se a consolidação de uma agroindústria de processamento de frutas, inaugurada em abril de 2009, com capacidade de despolpamento de 200kg/polpa/hora e toda estruturada para o funcionamento, além do fortalecimento da associação de preservação Ambiental do Apiáu, da valorização da questão de gênero dentro da comunidade, da introdução de sistema de irrigação em algumas propriedades e planos de expansão, a construção de viveiros florestais para a produção de mudas de madeiráveis e fruteiras, como: açaí (Euterpe oleráceae), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), graviola (Anona SP.), banana (Musa sp.), frejó (Cordian sp.), andiroba (Carapa guianensis), eucalipto (Eucalyptus camaldulensis) e paricá (Schizolobium amazonium) que em novos consórcios e manejo adequado providenciarão a matéria-prima para a agroindústria. Além da introdução de sistemas silvipastoris, pela criação de ovinos, aumentando a oferta de proteína animal para as famílias e oferta de esterco para incrementar a produção de mudas e o desenvolvimento dos sistemas. Complementarmente temos as iniciativas dos associados com a criação de aves, bovinos, suínos e com a piscicultura, e pela Embrapa Roraima a capacitação e difusão local e nacionalmente das ações e resultados dos trabalhos com Saf’s, como estratégia de desenvolvimento regional sustentável, a capacitação dos agricultores familiares (Viveiros florestais e produção de mudas, coleta e armazenamento de sementes florestais, desenho e manejo de sistemas agroflorestais, plantações florestais, manejo florestal, associativismo, comercialização, estudos de mercado, formação de capacitadores rurais) e aspectos gerenciais e agronômicos através da incubação, em ação, da agroindústria em parceria com o SENAI, visando à construção de um Plano de Negócios e Gerenciamento do Empreendimento e a certificação pela aplicação de processo de boas práticas. Outros pontos conquistados são a recuperação de áreas degradadas, a intensificação e diversificação da produção sem a necessidade de utilização do fogo, a redução do desflorestamento, além do estímulo da comunidade e o permanente estado de construção do conhecimento e compromisso com o paradigma da sustentabilidade.