Produzindo sem o uso do fogo

Seu Darci e dona Neuza moram desde 1988 em uma área de assentamento de reforma agrária, em Brasiléia, Acre. No início a família plantava arroz, feijão, milho e mandioca. Em 1990 iniciou a formação de pastagem, mas o baixo preço e a dificuldade com o escoamento da produção fizeram com que começassem uma transição para a agroecologia, melhorando a alimentação do gado (através do manejo de pastagem) e diversificando a produção (implantando sistemas agroflorestais). Perceberam que deveriam parar de produzir sem o uso do fogo porque a propriedade já estava no limite dos 20% permitidos para o desmatamento, além do alto custo da mão-de-obra, dos riscos das derrubadas e queimadas, e da diminuição da produtividade. Passaram a fazer o manejo utilizando a puerária, o feijão-de-porco, a mucuna e outras leguminosas que reforçam a terra. Essa idéia surgiu a partir de um intercâmbio em uma propriedade que trabalhava com leguminosas, em outro município. Foi quando seu Darci e dona Neuza receberam algumas sementes e aproveitaram uma área de meio hectare (5.000 m²) que não produzia mais para fizer o plantio das leguminosas. Depois de oito meses, fizeram a roçagem dessa área e, no mês seguinte, o plantio do feijão. Após a colheita a terra ficou em descanso e, em novembro, plantaram mandioca e milho. A produção de todos esses plantios foi o dobro do que se tinha o costume de colher em área de derruba e queima. Hoje a família tem dois hectares onde fazem o rodízio. Utilizam um hectare por ano, enquanto o outro hectare fica em descanso. E assim já estão há três anos produzindo sem o uso do fogo. A família percebeu que são muitos os benefícios gerados pela prática do uso de leguminosa sem o uso do fogo: não é mais preciso desmatar e queimar; não secam as vertentes; e economicamente não necessita de muitos recursos e mão-de-obra; aumenta a qualidade e quantidade do produto em uma área de manejo; além de se ter uma grande variedade de produtos em uma mesma área (feijão, arroz, milho, mandioca, banana, café, cupuaçu, graviola, cedro, mogno, paricá e outras). A família conta ainda que aprendeu a diversificar quando trabalhavam no Paraná, com uns japoneses, que plantavam frutas e verduras. Observavam que conseguia uma renda superior a de outras pessoas que trabalhavam com monocultivo. Daí a família teve a idéia, em 1992, de iniciar o plantio de espécies de frutíferas como cupuaçu, graviola, açaí, banana, pupunha e outras da região Amazônica. A partir de 1995 iniciou-se a produção e venda destas frutas. Agora nós temos uma renda maior. Por ano, só com a polpa do cupuaçu, tiramos R$ 2.500,00, não contando com os outros produtos do Sistema Agroflorestal. Temos tudo perto de casa e sem precisar desmatar, queimar e com isso é menos trabalho pra família, contam seu Darci e dona Neuza.