Oficina de Culinária e Agroecologia



As Oficinas de Culinária e Agroecologia têm como objetivos: ampliar o consumo dos produtos agroecológicos da agricultura familiar; valorizar os produtos da sociobiodiversidade da região; resgatar o consumo destes produtos de forma in natura, processados por agroindústrias familiares, em preparações culinárias para autoconsumo ou para venda/comercialização (geração de renda); sensibilizar o cuidado consigo, com o outro, com as águas, os solos e as florestas; resgatar e valorizar a cultura alimentar; fortalecer a segurança alimentar e nutricional, a soberania alimentar e os movimentos socioambientais voltados à agroecologia, à conservação ambiental e economia solidária.
             Essa ação de sensibilização e educação ambiental, alimentar e nutricional é feita na Oficina a partir de uma roda de conversa motivada por um “painel da sociobiodiversidade” que possui alimentos agroecológicos diferenciados: tubérculos e raízes, frutas nativas, legumes, hortaliças, plantas alimentícias não convencionais (PANC), medicinais, aromáticas e condimentares, sementes crioulas, entre outros. Considera-se um momento de troca de saberes e conhecimentos sobre os alimentos, a agroecologia, os agrotóxicos, a indústria alimentar, os hábitos alimentares, as preparações culinárias, a cultura alimentar em diferentes gerações e localidades, etc. Tem um período de duração de 4 a 8 horas.
             Também é feito o preparo e degustação de receitas elaboradas durante a Oficina: o uso e o não uso de certos alimentos nas preparações, a combinação de especiarias condimentares, o sabor dos alimentos agroecológicos e muitas histórias das preparações nas famílias e comunidade.  Entre as receitas elaboradas destaca-se: cuscuz com legumes e PANC, torta de raízes e PANC,  biomassa de banana verde, bolo de açaí juçara com biomassa de banana verde, trufa de cacau com biomassa de banana verde, pasta de inhame/inhamese, tubérculos assados com ervas, tapioca roxa com açaí juçara, molho de açaí juçara, sal temperado e sucos de frutas nativas. Em versões mais antigas da oficina, também costumavam ser preparados o molho de moranga (como sugestão de substituição ao molho de tomate) e saladas verdes que incluiam a diversidade de PANC.
As fichas de avaliação aplicadas ao final das oficinas contribuem para qualificar as ações seguintes e construir atividades em projetos posteriores.
É importante registrar que as oficinas nasceram como uma ferramenta de apoio ao trabalho de assessoria a famílias agricultoras na transição agroecológica. Seus objetivos focavam na segurança alimentar e nutricional de famílias agricultoras e consumidoras, por meio do aproveitamento integral e consciente da diversidade disponível. Mas também sempre objetivaram a construção social de mercados, especialmente por meio da inserção dessas receitas nos cardápios escolares, contribuindo para o fortalecimento da agricultura familiar na Alimentação Escolar.

As oficinas iniciaram em 2006, no projeto Agroculturas, proposto pela ANAMA a Chamada pública de ATER feita pelo extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Depois elas seguiram sendo propostas em diversos projetos financiados pela Petrobras e Fundação Luterana de Diaconia (FLD). 
Dentre os projetos financiados pela Petrobras, os mais atuais foram as diferentes fases do Projeto Taramandahy. As avaliações feitas com os participantes ao final das oficinas fez com que a Fase III deste projeto incluísse não só as oficinas, mas também o Curso de Culinária, Gastronomia e Saúde, com carga horária de 40 horas,  realizado nos meses de outubro de 2018 e fevereiro e março de 2019. Foram 4 encontros presenciais, incluindo uma saída de campo para inspirações culinárias e de educação ambiental e alimentar. Além do Curso, a Fase 3 também proporcionou um Intercâmbio de Inspirações Ecopedagógicas, Gastronômicas e de Turismo Rural realizado em junho de 2019, que levou cerca de 35 pessoas para conhecerem a experiência de Educação alimentar e ambiental da EEEF Guerreiro Lima, em Viamão, e os sítios Granja Lia e Capororoca da rota conhecida como “Caminhos Rurais” de Porto Alegre.
As Oficinas, realizadas com a articulação de parcerias e redes as Oficinas, assim como o Curso e o Intercâmbio, envolveram pessoas de diferentes áreas técnicas, sociais, ambientais, educacionais, de produção rural, entre outras, nos municípios de Maquiné, Osório, Imbé, Terra de Areia, Itati e Três Forquilhas. Agricultoras, agentes de saúde, de assistência social, de turismo rural, educadores, estudantes, merendeiras, nutricionistas, empreendedores rurais e urbanos, técnicos de diferentes áreas, representantes de comunidades indígenas, agentes comunitários,  empreendedores rurais e urbanos, famílias de baixa renda, consumidores em geral, entre outros, fizeram parte das turmas das Oficinas. Nesse sentido, vale frisar que a organização e realização das oficinas é precedida por intensa articulação e mobilização. Muitas das parcerias conquistadas e capital social tecido no território em torno da agroecologia e alimentação saudável decorre destes processos de preparação das oficinas.

Algumas oficinas realizadas em 2019 tiveram a parceria da nutricionista e mestre em fitotecnia Irany Arteche, criadora do acrônimo “PANC”, e do botânico e doutor em fitotecnia Valdely Kinnupp, autor do livro “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil: guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas” (2014), escrito em co-autoria com o botânico Harri Lorenzi. Os mesmos contribuíram significativamente para ampliar o reconhecimento das plantas alimentícias não convencionais (PANC), do potencial de geração de renda, assim como seus usos em inúmeras preparações culinárias. Essa parceria contribuiu para ampliar o público beneficiário e difundir os alimentos da sociobiodiversidade na região.             Na articulação dessas Oficinas voltadas à identificação e usos das Plantas Alimentícias Não Convencionais, as parcerias com as comunidades indígenas da região também foram importantes e enriqueceram significativamente as trocas de conhecimentos e saberes compartilhados nessas vivências. Uma delas, que ocorreu na aldeia de Maquiné, teve a integração dos professores das escolas das aldeias Nhu’u Porã, de Torres, Kuaray Rexë, de Osório, e Tekoá Ka’aguy Porã, de Maquiné. Outra integrou o engenheiro agrônomo Nuno Madeira, da Embrapa Hortaliças/Brasília-DF, e representantes de outras 7 aldeias dos municípios de Barra do Ribeiro, Mariana Pimentel, Camaquã e Cristal e da Tekoá Ghyrá Nhendú, localizada na Linha Solidão, em Maquiné. Essas oficinas tiveram o apoio importante da Rede de Orgânicos de Osório e do Centro Ecológico de Dom Pedro de Alcântara, desde a concepção até a motivação de seguir articulando e realizando mais encontros como estes na região, em outras aldeias indígenas e em diversos outros coletivos e espaços comunitários.



Essa experiência vem proporcionando: 
a) desdobramentos em saúde e qualidade de vida: aumento do consumo de alimentos agroecológicos, ou orgânicos; aumento da produção para autoconsumo; aumento da diversificação do cardápio alimentar (prato com alimentos diversificados), inclusive em escolas cujas merendeiras e nutricionistas já participaram das atividades;
b) geração de renda: elaboração de produtos da sociobiodiversidade para venda como, por exemplo: polpa ou suco de frutas nativas da época, cuscus de forno com PANC, flocada de banana com açaí juçara, pães com açaí juçara ou com PANC, lasanha com entrecasca de aipim, tapioca roxa(com açaí juçara, biomassa de banana verde, sal temperado, pasta de inhame ou cará da terra, sal temperado, entre diversos outros. Também motivou a diversificação de cardápios de empreendimentos como o serviço de coquetéis, de refeição, de venda direta para vizinhos ou turistas, em feiras, entre outros.

1. Identificação

Nome da organização que está registrando a experiênciaAção Nascente Maquiné - ANAMA

3. Identificação do tipo experiência

Esta experiência é/foi realizada no Brasil?Sim

Selecione o tipo de experiênciaAlimentação e nutrição

4. Sujeitos

Você considera que a experiência tem uma atuação em Rede? Sim

Sexo - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • Feminino
  • Masculino

Se há um sexo com maior participação, indique Feminino

Faixa etária - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • Acima de 60 anos
  • De 30 a 60 anos
  • De 15 a 29 anos

Se há uma faixa etária com maior participação, indiqueDe 30 a 60 anos

6. Localização e abrangência espacial

Esta experiência está sendo cadastrada pelo celular (via aplicativo ODK Collect)? Não

7. Práticas em saúde e agroecologia

Águas e saneamentoGestão de resíduos

Práticas Agroalimentares (produção/beneficiamento/consumo)

  • Quintais sócio-produtivos (horticultura, pomar, etc.)
  • Feiras agroecológicas
  • Agrofloresta
  • Plantas alimentícias não convencionais (PANCs)

Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) Plantas medicinais e fitoterapia

Práticas Populares e Tradicionais de Cuidado em Saúde ou Saúde Popular Remédios caseiros a partir de plantas medicinais

Esta prática é considerada uma tecnologia social pelos protagonistas da experiência? Sim

O que estimula a adoção dessa(s) prática(s)?

  • Intercâmbio/vivência
  • Participação em redes de aprendizados e conhecimentos
  • Curso de capacitação e treinamento
  • Rodas de conversa e oficinas

8. Políticas públicas

Caso a experiência tenha acessado uma ou mais políticas públicas brasileiras, indiquePrograma de Fortalecimento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica (Programa Ecoforte)

9. Resistências e ameaças

Algo ameaça esta experiência?

  • Contaminação/poluição ambiental
  • Disputa territorial ou dificuldade de acesso ao território
  • Agrotóxico

Há conflito(s) ambiental(is) no(s) território(s) onde essa experiência acontece?Sim

Indique o(s) município(s) e respectiva(s) Unidade(s) Federativa(s) onde acontece o conflitoMaquiné

Grupo(s) social(is) atingido(s) pelo conflito ambiental

  • Agricultor(a) familiar
  • Povos indígenas

Atividade(s) geradora(s) do conflito

  • Especulação imobiliária
  • Agroindústria/agronegócio
  • Monoculturas
  • Agrotóxicos

Impactos Socioambientais da(s) atividade(s)

  • Contaminação ou intoxicação por substâncias nocivas
  • Poluição de recurso hídrico
  • Falta de saneamento básico

Possíveis danos à saúde decorrentes da atividade e/ou do conflito

  • Contaminação ou intoxicação por agrotóxicos
  • Insegurança alimentar e nutricional
  • Piora na qualidade de vida
  • Obesidade

A experiência aqui cadastrada está envolvida nesse(s) conflito(s) ambiental(is)? Sim, a experiência contribui para o enfrentamento do conflito

11. Estratégias de Comunicação e Anexos

Que tipo(s) de ferramenta(s) utiliza para divulgar a experiência e se comunicar com os envolvidos?

  • Facebook/Messenger
  • Site
  • E-mail
  • Whatsapp/Telegram
  • Instagram

12. Redes em saúde e agroecologia

De que forma sua organização poderia colaborar na criação e/ou fortalecimento dessas redes?

A Anama atua em Redes como a da Rede Ecovida de Agroecologia, a Rede Juçara, a Cadeia das Frutas Nativas e a Rede de Educação Ambiental do Litoral Norte. Há vários desafios para se “criar” uma rede, por isso no momento atual nosso foco principal está no fortalecimento das existentes. Apesar de viver difíceis períodos sem projetos que possibilitam a continuidade da remuneração e animação de todo esse trabalho, muitas pessoas da ANAMA seguem um contato frequente com a rede de pessoas que organizações que vem sendo tecida em torno das ações de Culinária e Agroecologia, e outras derivadas, como apontamos em alguns momentos (outros cursos, intercâmbios e vivências).

Além disso, estamos dispostos a integrar também a Aliança para Alimentação Adequada e Saúdavel, importante espaço de convergência e incidência construído no país.

Por fim, mas não menos importante: a Anama possui um belo Centro de Referências Ambientais, com uma cozinha preparada para ser um espaço de realização de atividades voltadas à saúde e à agroecologia, que pode servir como um local de acolhimento e articulação para iniciativas irmãs no território.