O RESGASTE DE SEMENTES CRIOULAS EM COMUNIDADES TRADICIONAIS DO ESTADO DO MARANHÃO

O uso abusivo de recursos naturais em conjunto com a massificação da agricultura convencional resultou, ao longo dos anos, em erosão genética e diminuição de recursos naturais. Nesse sentido, a busca por métodos de produção mais sustentáveis tem sido priorizada a fim de diminuir ou estagnar tais impactos. Assim, surge o resgaste do uso de sementes crioulas, ou seja, sementes adaptadas às condições locais, melhoradas ao longo de gerações pelas comunidades tradicionais, que são fundamentais para a soberania da agricultura familiar. Logo, esta pesquisa buscou identificar e caracterizar variedades de sementes crioulas em comunidades tradicionais do Território da Cidadania do Baixo Munim (MA). Foram selecionados 42 grupos familiares, divididos em 17 comunidades tradicionais localizadas nos municípios de Morros, Cachoeira Grande e Rosário. Através de aplicação de questionários semiestruturados, turnês guiadas e coletas nos cultivos levantaram-se as etnovariedades de sementes locais cultivadas, bem como as principais características morfológicas e de produção, segundo os próprios agricultores. Ao final, foram identificadas 16 variedades de arroz (Oryza sativa), 41 de mandioca e 7 de macaxeira (Manihot esculenta), 9 de milho (Zea mays), 8 de feijão (Vignia sp), 6 de melancia (Citrullus lanatus), 9 de inhame (Dioscorea sp.), 4 de maxixe (Cucumis anguria L), 4 de quiabo (Abelmoschus esculentus), 4 de abóbora (Cucurbita sp.), sendo caracterizadas como as principais culturais alimentícias locais. Observou-se que apesar da facilidade de acesso a sementes melhoradas no mercado, ainda existe um grande banco de sementes crioulas na região, que possibilita a manutenção da agrobiodiversidade local. Além disso, o conhecimento tradicional associado a cada variedade (saberes relacionados a desenvolvimento vegetativo, rendimento, características morfológicas e fisiológicas) apresenta-se como uma riqueza cultural de grande valia para o desenvolvimento de futuras pesquisas associadas a este conhecimento. O despertar da importância do resgate e conservação destes recursos se reflete na soberania e a segurança alimentar do campo, amenizando o processo de erosão genética, e, consequentemente, trazendo benefícios para o desenvolvimento de uma agricultura pautada na sustentabilidade.