MUDA-SP e a Rede Metropolitana de Agroecologia
Essa experiência esteve focada no fortalecimento do Movimento Urbano de Agroecologia (MUDA-SP) e na realização de ações e articulações nos temas relacionados à agroecologia urbana e à Segurança e Soberania Alimentar, entendendo que a sociedade civil organizada é fundamental para fazer pressão popular por políticas públicas e pelo cumprimento dos direitos humanos básicos, tão abandonados no atual contexto brasileiro.
A oportunidade identificada para essa incidência foi a grande mobilização em torno do tema da fome e da insegurança alimentar pela qual milhões de brasileiros têm sido afetados. Nesse sentido, o MUDA-SP foi provocado pela Campanha Gente é Pra Brilhar a pensar como a agricultura urbana pode ser uma estratégia para a superação da fome nos centros urbanos.
A Campanha Gente é Pra Brilhar (não para morrer de fome) nasceu, em 2020, para denunciar os retrocessos nas políticas alimentares e o aumento da fome no país. Com táticas diferentes de mobilização social, a campanha surgiu por iniciativa do Coletivo Banquetaço, que, em 2017, organizou sua primeira manifestação pública contra a farinata/ração humana, proposta de João Doria Jr para resolver o problema alimentar da população paulistana pobre. Com a necessidade cada vez maior de defender o Direito Humano à Alimentação Adequada, em 2019, ocorreram Banquetaços no Brasil todo, como uma resposta à extinção do CONSEA logo no início do governo Bolsonaro, produzindo e distribuindo alimentos agroecológicos de qualidade e com diversidade e solidariedade.
O aprofundamento das crises sanitária, política, econômica e ambiental tem aumentado a fome no Brasil e, em 2021, a Campanha passou a ampliar suas ações para envolver mais esferas dos sistemas alimentares. Foi então que a Campanha juntou forças com o Movimento Urbano de Agroecologia - MUDA-SP para pensar conjuntamente estratégias para superação da fome por meio da agricultura urbana.
Essa união foi importante para uma reflexão conjunta acerca da totalidade do sistema agroalimentar, considerando desde a questão agrária e a situação das agricultoras/agricultores familiares, passando pela distribuição e logística dos alimentos, até o descarte e a doação de alimentos que, muitas vezes é feita com produtos ultraprocessados, gerando ainda mais lucro à indústria alimentícia. Apesar disso, assistimos no território da metrópole paulistana um grande envolvimento dos movimentos camponeses pela inserção de alimentos frescos e saudáveis nas cestas doadas às periferias e favelas, levando não apenas saúde, mas também dignidade a essas pessoas em situação de vulnerabilidade.
Essa provocação feita pela campanha Gente é Pra Brilhar levou o MUDA-SP a articular diversos grupos e movimentos que tem plantado na Região Metropolitana de São Paulo, desde movimentos sociais como MTST e MST até grupos de bairros mais privilegiados, mas que compreendem a importância ambiental e pedagógica da agroecologia urbana.
Apesar do envolvimento de, aproximadamente, 70 iniciativas, foi avaliado que não há uma unidade política que une essas experiências.
Assim, a incidência buscou a criação de uma instância ampliada do MUDA-SP que envolve uma série de iniciativas da agroecologia na RMSP. A articulação foi feita a partir de uma lista de contatos de iniciativas e organizações que praticam a agroecologia. Os contatos foram acionados e convidados para uma reunião online que contou com a presença de, aproximadamente, 50 pessoas. Depois disso, estimulamos a realização, na semana da Alimentação, em outubro, de pequenos mutirões, os mutirinhos nos bairros, chamados de Compostaços e Cultivaços. Eles se somaram com as demais atividades que a Campanha Gente é pra brilhar realizou na ocasião. Assim, as pessoas colocaram a mão na massa e puderam se encontrar em espaço aberto, sem aglomeração. Outras pessoas se envolveram nas atividades chamadas “Marmitaço” (produção e doação de marmitas), “Mudaço” (doação de mudas) e “Artivaço” (momento de expressão artística para a reflexão sobre a fome na Avenida Paulista).
Essas atividades foram capazes de mobilizar as pessoas para a causa da fome, pois foram realizadas presencialmente (com segurança) e partiram do protagonismo e autonomia dos grupos. A partir daí começou-se a conversar sobre as principais demandas da agroecologia na RMSP e está sendo construído um material que sintetiza essas demandas.
A avaliação das atividades do Compostaço e Cultivaço feita pelos próprios participantes, por meio da ferramenta jamboard sugeriu a importância de conexão com a terra nesses momentos difíceis. “Mexer com a terra nos dá esperança”, apontou uma das participantes. Como dificuldades, foram relatadas: 1) o receio de aglomeração por conta da transmissão da COVID 19; 2) o planejamento dos plantios (qual planta vai bem com qual) e 3) a manutenção dessas atividades, como algo que seja incorporado ao cotidiano dos cidadãos e que aconteça organicamente sem ter que fazer tudo às pressas na véspera.
Ocorreram, aproximadamente, 40 iniciativas de Compostaço e Cultivaço na Região Metroploitana de São Paulo. Nas semanas seguintes a elas, foi realizada uma avaliação online e foi sugerida a continuação da articulação e da realização de atividades presenciais.
Essa articulação trouxe ganhos para a iniciativa, pois permitiu a ampliação do tema da agroecologia no município de São Paulo e nos seus arredores. Por ser uma região extremamente urbanizada e de relevância econômica para o estado e para o país, apontar a urgência de sistemas alimentares mais localizados, justos e sustentáveis na prática, traz ganhos para a visibilização da agroecologia enquanto projeto político.
Outro ganho desta atuação foi a parceria com a Sempreviva Organização Feminista (SOF) na organização dos Encontros de Soberania Alimentar. Essa parceria permitiu a realização de debates sobre o retrocesso das políticas de segurança alimentar e nutricional no município, bem como a realização de um Ato Público de denúncia sobre o aumento da fome. Essa experiência revelou o protagonismo da sociedade civil em trazer respostas a essas crises, mas que o Estado e políticas públicas são fundamentais para o seu enfrentamento.
Esse esforço de articulação demonstra como as redes são fundamentais para aumentar a visibilidade da questão agroalimentar, sobretudo com o avanço do agronegócio no campo, na mídia e na mente das pessoas.
Anexos
Criação da horta comunitária Carolina Maria de Jesus na Ocupação do MTST com doação da Campanha Gente é pra Brilhar realizada em parceria com o MUDA-SP. Foto: Rita Almeida
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Primeira Reunião Online da Articulação Metropolitana de Agroecologia. Foto: Clara Camargo
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Cartaz dos eventos organizados em rede, em outubro de 2021
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Ato público realizado na Praça Elis Regina em denúncia ao aumento da fome. Foto: Natalia Lobo
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Anexo associado aos antecedentes da experiência de incidência
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