Manelito de Taperoá e o resgate de raças de caprinos no semi-árido

Manelito de Taperoá nasceu em 1937 na própria fazenda, viveu nela até os 11 anos de idade, quando se mudou para o Recife para estudar. Formou-se em engenharia civil em 1959 e, por vários anos, teve uma bem-sucedida carreira como engenheiro. Em 1971, retornou para tocar a Fazenda Carnaúba, dando continuidade às atividades do pai, falecido em 1969. Manelito percebeu que não existiam tecnologias que viabilizassem a agropecuária na região semi-árida e criticava os sistemas oficiais que sempre trataram de copiar as tecnologias dos climas temperados ou tentaram resolver os problemas do semi-árido pela via da irrigação. Para ele, a solução do semi-árido não é a água para irrigação; água só é necessária para que as pessoas e os animais bebam. Dessa forma, a atividade agropecuária tem que ser compatível com a chuva que cai na região. Foi a busca dessa compatibilidade que o levou a trabalhar por décadas para resgatar e valorizar a rusticidade das cabras “nativas” do semi-árido adaptadas a sobreviver nesse ambiente seco, mas de vegetação riquíssima e de grande potencial para a pecuária. O desaparecimento das raças nativas de caprinos no Nordeste se deve ao abandono do material genético superior, que a natureza do Nordeste selecionou por ela mesma, criando uma incrível compatibilidade com meio. Para resgatar espécies nativas de caprinos ele precisou selecionar os caprinos dentro dos agrupamentos do mesmo tipo, da mesma raça, mesmo que as raças não tivessem sido oficialmente reconhecidas como tais. Depois, restabeleceu a função leiteira dos animais. Para isso, foi apenas preciso ter alguma competência e paciência. Manelito já resgatou raças como Moxotó, Gurguéia, Marota, Canindé, Graúna, Cabra Azul e Repartida, também conhecida como Surrão. A maior parte das raças de hoje tem orelhas curtas e são descendentes de animais que vieram da Península Ibérica. Já as orelhudas vieram do norte da África, mas são inferiores em termos de adaptação ao ambiente semi-árido se as comparadas às pirenaicas de orelha curta. Em condições normais, são necessários de 15 a 30 hectares de caatinga para manter uma cabeça. Porém, em um ano de seca pode ser preciso 100 hectares por cabeça e vulnerabilidade é a mesma. Assim, é necessário multiplicar as ervas e as forrageiras nativas da caatinga. O semi-árido do Nordeste, dentre as zonas secas do mundo, é onde mais chove, a que tem a vegetação natural mais rica e a que acolhe a maior densidade de população. Infelizmente, o reconhecimento da riqueza da região ainda não aconteceu. No entanto, existem forrageiras nativas adaptadas às condições da região semi-árida que possuem alto valor nutritivo, como a jureminha, o feijão-bravo, o feijão-de-rolinha, o amarra-cachorro, o engorda-magro, a jurema-preta, a malva-doce, além de outras espécies. Para Manelito, o resgate de espécies nativas adaptadas às condições climáticas do semi-árido e o uso de forrageiras são dois princípios fundamentais para que ocorra uma agropecuária sustentável no Nordeste brasileiro.