Manejo comunitário de camarões de água doce por ribeirinhos na Amazônia
A Ilha das Cinzas, PA, está localizada no estuário do rio Amazonas, onde as comunidades ribeirinhas se encontram em elevado grau de isolamento. As casas são construídas sobre palafitas porque, em razão dos fluxos da maré, o nível da água pode sofrer uma variação de até quatro metros entre a baixa-mar e a preamar. As principais atividades econômicas dessas comunidades são o extrativismo florestal e o aquático, sobretudo a pesca do camarão. Esta atividade contribui com cerca da metade da renda dessas famílias. Assim, essa população criou um manejo inovador de capturar camarão, selecionando os maiores e libertando os menores. O manejo consiste nas seguintes etapas: 1. captura com matapis – o matapi é uma armadilha como uma gaiola de formato cilíndrico, com 40 cm de comprimento e 25 cm de diâmetro e feita de fibras vegetais. Nas extremidades, apresenta uma espécie de funil que facilita a entrada dos camarões e dificulta a saída. Para atrair os camarões, é empregada a “poqueca”, uma isca elaborada com farelo de babaçu ou outro farelo vegetal (milho ou arroz) e “embrulhada” em folhas de cupuçurana (Matisia paraensis Huber) ou plástico. Nesses matapis que são adaptados, os espaços são alargados de forma a reter apenas os camarões maiores; 2. estocagem em viveiros flutuantes – após a captura, os camarões são colocados em viveiros, onde permanecem por até oito dias. Esse tempo de enviveiramento é o prazo ideal para que seja feita a “apuração” do tamanho e da aparência da produção e os camarões menores escaparem. Já os maiores, que permanecem no viveiro, têm seus estômagos esvaziados, conferindo ao produto melhor aparência depois de processado. Durante esses oito dias, o pescador tem a possibilidade de reunir bons volumes de produção antes do processamento e/ou da comercialização; 3. beneficiamento – cozimento do camarão durante 20 minutos em uma mistura de água e sal (utiliza-se a relação 10 kg de camarão/1 kg de sal); e 4. comercialização – realizada na própria comunidade ou mesmo nos centros urbanos mais próximos, para comerciantes intermediários. Apesar da diminuição significativa do número de animais capturados entre 1997 e 2004, o incremento no valor do produto tem resultado no aumento sistemático da renda das famílias que se sustentam a partir da pesca de camarões. Inicialmente, o projeto foi desenvolvido em parceria com a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (Ataic) e com o Grupo de Mulheres em Ação da Ilha das Cinzas, envolvendo diretamente 40 famílias. Atualmente abrange um universo de mais de 200 famílias e três estados.