MÃE - Mutirão de Agricultura Ecológica
O Mutirão de Agricultura Ecológica é desdobramento do projeto “Estágio de Vivência em Assentamentos Rurais – a geografia vai ao campo”, que se desenvolveu no período de 1996 a 2004 na Universidade Federal Fluminense. Uma nova perspectiva de ensino, saindo da sala de aula, com a intenção de aproximar o estudante das diversas realidades agrárias do país. Assim, cada estudante, após intenso processo de preparação, vivia por duas semanas na casa de uma família de agricultores assentados. Essa experiência a partir da vivência com a realidade proporciona a integração do tripé ensino-pesquisa-extensão.
Em 2005, o Estágio de Vivência retoma suas atividades, e em meados de 2006, os integrantes, com o apoio do Grupo de Agricultura Ecológica - G.A.E. da UFRRJ, condensam essas influências sob a forma de um projeto de extensão “Mutirão de Agricultura Ecológica - M.Ã.E”, que é aprovado para 2007 vinculado a Geografia - UFF. Um grupo que se forma e se estrutura a partir do sentimento de uma lacuna na formação universitária, principalmente no que se refere à prática e extensão, integradas ao ensino e pesquisa. Dialogar com a realidade a partir da experiência vivida, indo além da teoria para poder assim, trocar conhecimentos e não só acumulá-los.
O processo de compreensão da agroecologia no M.Ã.E. vem sendo construído a partir de múltiplas metodologias apoiadas na construção coletiva e autônoma do conhecimento. Assim, a busca por uma prática diferenciada leva à vivência no meio rural, colocando o estudante em contato direto com os agricultores familiares do estado do Rio de Janeiro. Nesse sentido, integrantes do grupo procuram interar diversos eventos e vivências relacionados à agroecologia e agricultura familiar, por exemplo, a Vivência agroflorestal do Sítio São José 2007/2008, X EIV 2009, o Encontro de Agroecologia Serramar em 2009, e muitas outras trocas e mutirões em comunidades do estado. As intervenções se apóiam nas discussões feitas no grupo de estudos do M.A.E. Vai se construindo um processo de aprendizado dinamizado por uma grande rede que vai sendo formada.
A partir desse acúmulo, lidamos empiricamente com as práticas agroecológicas por meio de experimentações no Laboratório Agroflorestal Aroeira. Uma área degradada de aterro sub-utilizada dentro da universidade, que possuía apenas capim colonião e uma aroeira. O Laboratório é um espaço de experimentos que fundamentam pesquisas e ensino no caminho da comunicação/extensão dentro da sociedade. Para começo, este é um trabalho de formação do solo (estamos em solo de origem antrópica) que se fundamenta nos princípios de agrofloresta sucessional. A implantação de um sistema vivo – solo, vegetação, clima, homem – que busca otimizar a energia em fluxo no sistema, direcionando-a para o aumento tanto qualitativo, quanto quantitativo da biodiversidade local e associada a produção agrícola é tarefa árdua porém instigante no que toca ao potencial do manejo agroflorestal da natureza. É um grande mutirão de microorganismos, fauna, flora e seres humanos. Percebemos que podemos fazer parte do grande processo da vida, regenerando e ampliando a vida local. Ao invés de somente consumir passamos a produzir.
Realizamos anualmente uma semana sobre agroecologia. Na forma de mini-curso, estas realizações contam com parceiros das redes e grupos de agroecologia, professores, agricultores, técnicos, estudantes e demais agentes envolvidos com o tema. É um momento de divulgação e debates sobre pensamento agroecológico, com atividades teóricas e práticas. As atividades práticas proporcionaram oficinas de agrofloresta, viveiros, sementes crioulas, permacultura, ervas medicinais, além de grandes mutirões que representaram um pontapé inicial na implantação dos sistemas agroflorestais. A semana de agroecologia também é um momento de renovação do grupo, onde há um retorno do trabalho construído ao longo do ano. O grupo num primeiro momento era formado principalmente por estudantes de geografia, e no decorrer de suas atividades, estudantes de outros cursos e até de outras universidades se juntaram ao grupo.
Adotamos a autogestão como forma organizativa para o grupo, desenvolvendo as nossas atividades de forma em que todos estejam integrados na construção das mesmas. Com a institucionalização do grupo, começamos a contar com o recurso de uma bolsa de extensão. Adquirimos aportes instrumentais, como ferramentas, resultando numa melhora enorme da qualidade de nossas intervenções e organização.
Todas essas trocas e aprendizados confluem no amadurecimento sobre o conhecimento, assim como o Laboratório Agroflorestal Aroeira resulta desse processo, fundamentando pesquisas para uma educação integradora do homem e do ambiente. O espaço experimental também proporciona visibilidade ao grupo na medida em que a paisagem vai se transformando. Hoje são três SAFs em andamento, produzimos sementes de feijão-de-porco, crotalária, guandu, girassol, frutíferas como banana, atraindo maior diversidade de insetos e pássaros que habitam o local. Tudo isso anima mais estudantes a aprender nessa interação com a terra.
Desde a construção desse espaço no interior da universidade nós aprendemos muito, foram plantações que não deram certo e outras que vingaram e vão se fortalecendo. Vivenciamos a dinâmica da natureza e da recuperação da vida em uma área de aterro, construindo empiricamente um conhecimento. Trocamos com outros grupos, outras experiências, acrescentando nessa eterna construção. É essa uma forma que experimentamos a universidade formando novos profissionais, pessoas que vão trabalhar de maneira integrada com a sociedade, considerando as condições locais, percebendo o processo conjunto de construção do conhecimento, construindo participativamente e não mais levando um manual a ser seguido.