Linda - a agricultora que sonha plantar um milhão de mudas A experiência de produção de mudas agroecológicas na Mata Sul de Pernambuco

Desde janeiro de 2002 que a agricultora Lindinalva Maria Assis, mais conhecida como Linda, seu esposo Francisco de Assis, e o neto Marcos Antônio moram no assentamento Amaraji, município de Rio Formoso, Mata Sul de Pernambuco. Antes, a família morava em Sirinhaém, município vizinho. A mudança para o assentamento aconteceu devido à difícil situação em que estavam vivendo: o desemprego do esposo e do filho mais velho. A vinda para Amaraji representava o começar de uma nova vida. No início, a família enfrentou momentos difíceis. “Eu cheguei aqui chorando. Passei um ano e oito meses de fome. Aqui só tinha macaxeira”, lembra Linda. Segundo ela, a terra era inclinada e só tinha cajueiro brabo e capim. Ao longo dos anos a família foi se organizando. Dona Linda conseguiu se aposentar e com a venda da antiga casa, a família começou a construir a nova moradia no assentamento. Investiram na compra de alguns animais como bois e galinhas. Para melhorar a terra diversificaram a área com consórcios de macaxeira, abacaxi, melão, melancia, maracujá, coco, jaca, azeitona, entre outras. “Comecei diversificando, aproveitando o terreno. Passamos a fazer tudo que era mistura de plantas. Sem saber, estávamos iniciando uma agrofloresta”, diz a agricultora. Depois de uma viagem que fez a Fortaleza, Ceará, dona Linda voltou com mais idéias para melhorar sua área produtiva. A família deixou de criar bois, por causa do excesso de trabalho e do pouco retorno que tinha, e começou a plantar mudas. A participação em oficinas realizadas pelo Centro Sabiá, estimulou a agricultora a plantar mudas de espécies frutíferas e nativas da Mata Atlântica, para reflorestamento e comercialização. Dona Linda diz que mudar para uma produção agroecológica é fácil, depende apenas de coragem e força de vontade. Ela se sente uma aluna da agroecologia: “a natureza é minha professora, é minha agrônoma. Eu dou apenas uma pequena contribuição”. Os resultados dessa mudança são percebidos no dia a dia. Até 2010, a família já comercializou mais de seis mil mudas nativas. “Fiquei feliz. Reformei meus banheiros e a casa. Passei o final do ano bem. É outra coisa você pegar num trocadinho a mais, que você nunca esperou. Hoje, tenho outra expectativa de vida. Antes eu vivia do salário mínimo e agora eu já comprei até computador. Isso me incentivou ainda mais a plantar, a vender e a doar mudas”. A comercialização das mudas é feita na propriedade mesmo. É lá que os consumidores e as consumidoras vão comprar. Mas, uma das dificuldades encontrada pela família é o transporte das mudas. Na avaliação da agricultora, o acesso às políticas públicas pelos/as agricultores/as, no assentamento, tem sido muito difícil, principalmente pela ausência de uma licença ambiental, de responsabilidade do Incra, que impede as famílias de obterem a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Sem essa declaração, as famílias não acessar o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Dona Linda também se articula nos movimentos de sua comunidade. Atualmente é tesoureira da associação de Amaraji e também participa da Rede de Agroecologia da Mata Atlântica (RAMA). Ela considera importante participar desses espaços para adquirir e partilhar conhecimentos. A agricultora diz que as práticas agroecológicas precisam ser estimuladas. “Nós agricultores precisamos incentivar outros agricultores. Esses que trabalham com veneno precisam assistir e ver outro agricultor progredindo e eles ficando para trás. Eles precisam aprender que a maneira deles trabalharem está errada. Enquanto eles estiverem matando a natureza, não vai ter prosperidade no sítio ou na parcela se puser veneno ou fizer queimada”, explica Linda. A agricultora resgata uma história contada por sua neta, que dizia que toda mulher precisa, durante a vida, fazer três coisas: escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore. E dessa história ela concluiu: “as mudas que eu já plantei na vida valem por uma livraria inteira... e o meu maior sonho é plantar um milhão de mudas diversificadas”, finaliza. Através desse sonho de multiplicar a vida, ela enfatiza que a agroecologia faz bem para a natureza, para o planeta, para a camada de ozônio, porque não adianta apenas falar, é preciso fazer, e a agroecologia é assim, e diz que sua vida está sendo um desafio muito bom e muito prazeroso.

Anexos

Anexo 1

Dimensões: 2560px x 1707px

Anexo 2

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