Levantamento dos agricultores familiares do Território do Caparaó/ES que estão em processo de transição agroecológica

A tese foi desenvolvida com o objetivo de estudar o processo de transição agroecológica no Território do Caparaó-ES, buscando compreender os fatores que estão afetando esse processo entre os agricultores familiares e revelar as perspectivas de contribuição dos sistemas orgânicos/agroecológicos de produção para a sustentabilidade socioeconômica desses agricultores, com base no café arábica. Realizou-se um censo dos agricultores familiares que se encontravam em transição agroecológica no Território do Caparaó-ES, em 2009, e abordou-se técnicos que atuavam com enfoque agroecológico. Foram feitas análises comparativas entre os sistemas orgânico e convencionais de produção de café arábica, em termos de custo, rentabilidade (incluindo a análise de risco), demanda de mão de obra, autossuficiência em insumos, comercialização e saúde da família agricultora. O sistema orgânico se baseou nas experiências dos agricultores familiares (certificados) da ACAOFI, enquanto os sistemas convencionais tiveram como base os coeficientes de produção do Cedagro/Incaper, considerando as produtividades de 20, 40 e 60sc/ha. Demonstrou-se que o único sistema inviável foi o convencional com produtividade de 20sc/ha e que o sistema orgânico obteve as maiores rentabilidades, apesar de ter apresentado os maiores custos unitários. A análise de risco indicou que a produtividade e o preço do café foram as variáveis mais influentes na rentabilidade dos cafeicultores e que o sistema orgânico apresentou a menor probabilidade de se obter prejuízo. Verificou-se que no sistema orgânico a dependência de insumos externos foi reduzida em mais de 50%, mas aumentou a demanda de mão de obra. Para a maioria dos agricultores da ACAOFI, as relações comerciais não melhoraram no contexto da cafeicultura orgânica, mas acreditam que a saúde de sua família melhorou. Também foram considerados um agricultor familiar orgânico do município de Santa Maria de Jetibá-ES e outro de Dores do Rio Preto-ES, em transição agroecológica. O estudo revelou o potencial dos sistemas orgânicos/agroecológicos para proporcionar maior sustentabilidade à produção familiar. A transição agroecológica deve ser trabalhada aos poucos, respeitando a sustentabilidade socioeconômica, com progressiva adoção de técnicas agroecológicas e adequação ambiental das propriedades, sem vinculá-las, necessariamente, à implantação de sistemas orgânicos certificados, como faz o agricultor de Dores Rio Preto-ES. Os agricultores familiares precisam fazer a inversão da lógica agrícola vigente, maximizando o aproveitamento dos recursos locais. Por isso, torna-se fundamental estabelecer políticas públicas integradas, encadeando todas as ações necessárias e com dotação adequada de recursos, de modo a dar condições aos agricultores para que consigam superar as dificuldades e aproveitar todo o potencial. A disponibilidade de mais tecnologias e de assistência técnica com enfoque agroecológico, o crédito rural adequado à transição, o fomento e a comercialização justa são alguns dos grandes desafios a serem trabalhados. É preciso aperfeiçoar a eficiência técnica dos sistemas orgânicos/agroecológicos para melhorar seu desempenho econômico. Nesse sentido, também é preciso ampliar o número de extensionistas do Incaper com dedicação exclusiva na linha orgânica/agroecológica e oferecer capacitação continuada. Além disso, o Incaper deve priorizar a Agroecologia em sua política institucional e as escolas técnicas e de nível superior devem investir bem mais na formação profissional em Agroecologia.

Anexos

Anexo 1