Jardinagem agroflorestal na educação formal: uma experiência no Distrito Federal

Em setembro de 2009, o "Mutirão Agroflorestal - núcleo Brasília" foi contratado pela Escola "Vila das Crianças" para desenvolver atividades pedagógicas relacionadas à agroecologia, com foco em agrofloresta, por meio de oficinas semanais, aos sábados, entre 8 e 12h, junto a cerca de 100 educandas entre 14 e 17 anos que cursam 8ª ou 9ª anos do ensino fundamental. A Vila das Crianças é uma instituição de ensino onde vivem 800 moças, em regime de internato, cursando do 7º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio profissionalizante. Está localizada em Santa Maria-DF, cidade satélite de Brasília e é mantida pelo Instituto Social Irmãs de Maria de Bonneux. As educandas são oriundas de pequenos municípios do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, como São Félix do Xingu, Redenção, Conceição do Araguaia e Tucumã (PA), Maranhãozinho, Maracaçumé, Rio Doce e Presidente Médici (MA), Conceição e Araguaína (TO) e Canabrava (BA). Esses municípios estão submetidos a forte pressão socioambiental devido à expansão do agronegócio. Os métodos de produção agrícola são agressivos ao meio ambiente, de baixa produtividade e excludentes socialmente. São, portanto, incapazes de manter os agricultores familiares em suas propriedades obrigando-os muitas vezes a migrarem em busca de emprego para a região sudeste, o que vem provocando o inchaço das grandes cidades e todos os problemas sociais e ambientais decorrentes. Todas as educandas da Vila das Crianças provêm de famílias de baixa renda. A escola possui uma extensa área sem construções, sendo que apenas uma pequena parte vinha sendo utilizada, antes do início do curso, em plantios incipientes ou mal manejados sobre uma terra degradada. No curso são utilizados diversos métodos e estratégias pedagógicas visando propiciar o máximo interesse e aprendizagem: exibição de filmes com posterior discussão, apresentação de slides, exercícios para formulação de perguntas criativas, prática seguida de reflexão e apresentação de conceitos, desenhos, danças, elaboração de poesia, e especialmente, prática de plantio e manejo na área da escola. Ao longo do tempo foram implantados canteiros agroflorestais, círculos de bananeiras, hortas agroflorestais e mandalas de hortaliças, visando demonstrar as muitas possibilidades de plantios agroflorestais e criar um laboratório vivo para apresentação de conceitos e técnicas a partir da vivência. Onde no início havia praticamente um deserto, hoje existem mais de 100 espécies de plantas. Na área de plantio já foram colhidos alface, tomate, couve, cenoura, beterraba, milho, abóbora, feijão, sementes de adubos verdes (guandu, feijão de porco, mucuna, crotalária), maxixe, quiabo, mandioca, batata doce, maracujá, mamão, banana, limão, manga, cará do ar, cúrcuma. A transformação da área como fruto do seu trabalho, fortaleceu nas educandas a confiança na sua capacidade de transformar a realidade. Conceitos basilares da Agroecologia como biodiversidade, cobertura do solo e não uso de insumos químicos vem aos poucos sendo incorporados pela escola. Algumas jovens relataram a aplicação dos seus conhecimentos em seus locais de origem durante o período de férias escolares. Há jovens que expressaram o interesse em aprofundar seus conhecimentos em Agroecologia, inclusive do ponto de vista profissional. A direção da escola reconhece o papel do curso no fortalecimento da liderança das educandas. Esse trabalho demonstra a importância da Agroecologia estar presente na educação formal desde os primeiros anos, na mais tenra idade.