Grupo de Mulheres "SABOR DA ROÇA" - Panificação
Como começou a experiência?
A contaminação dos agricultores pelo uso excessivo de agrotóxicos e as conseqüentes doenças ocasionadas, levou um grupo de famílias a se organizarem e formarem em 1998 o Grupo Ecológico Renascer do qual o grupo “Sabor da Roça” é integrante. O processo inicial ocorreu através da assessoria do Centro Vianei de Educação Popular em parceria com a prefeitura municipal.
Como se desenvolveu a experiência?
O que motivou a iniciativa foi o fornecimento dos panificados para todos os eventos promovidos pelas entidades da Rede de Agroecologia, ou seja, as reuniões, seminários, oficinas e intercâmbios. Com a entrada no Programa de aquisição de alimentos - PAA e Alimentação Escolar, além da oferta de frutas, hortaliças e dos produtos industrializados, inseriu-se vários tipos de pães, bolos e bolachas. A receptividade e sucesso dos produtos panificados baseados em receitas tradicionais das famílias passaram dos muros da escola e caíram no conhecimento e gosto da comunidade
Quais os principais resultados e ensinamentos?
Uma demanda enorme de aproximadamente 50 diferentes tipos de produtos (pães, bolos, bolachas, biscoitos), geléias e sucos de diversas frutas comercializados de forma direta no próprio ponto de vendas; em entregas a domicilio, para o PAA e para Alimentação Escolar.A renda obtida proporciona autonomia, poder de decisão e de compra do que desejam gerando empoderamento proporcionado pela autonomia econômica. Os homens sentem-se orgulhosos do trabalho e do respaldo das atividades desenvolvidas por suas companheiras. Mesmo cansadas, se animam com a chegada dos turistas e a relação que estabelecem com cada pessoa. As trocas de informações e conhecimentos proporcionadas pelo atendimento são os maiores aprendizados.
Se a experiência envolveu mulheres e/ou jovens, como se deu esse envolvimento?
A experiência envolve as mulheres, porém há necessidade de ajuda dos homens da família. As mulheres estão envolvidas mais com a panificação e os homens com a produção agroecológica.
Soluções encontradas, resultados alcançados e ensinamentos.
Adequação as normas da vigilância sanitária, aprimoramento através de processos de formação, manutenção das receitas tradicionais familiares e muita força de vontade e perseverança.
Grupo Sabor da Roça - Resumo expandido da experiência
A experiência do grupo de Mulheres do “Café Sabor da Roça” localiza-se no município de Urubici, um dos lugares de inverno mais rigoroso do Brasil, situado na região Serrana de Santa Catarina. As belas paisagens naturais proporcionam ao município fazer parte de uma estratégica rota turística, além de ser conhecido como a terra da hortaliça. A contaminação dos agricultores pelo uso excessivo de agrotóxicos e as conseqüentes doenças ocasionadas, levou um grupo de famílias a se organizarem e formarem em 1998 o Grupo Ecológico Renascer do qual o grupo “Sabor da Roça” é integrante. O processo inicial ocorreu através da assessoria do Centro Vianei de Educação Popular em parceria com a prefeitura municipal.
Dentro do contexto da produção agroecológica, agroindustrialização e buscas a superar as dificuldades com o mercado, em 2004 a Cooperativa Ecoserra inicia relação com o mercado institucional através da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB por intermédio do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA abarcando produtos de todos os grupos da Rede de Agroecologia de diversos municípios da região. No município de Urubici, além das frutas e hortaliças e dos produtos industrializados, o grupo de mulheres também ofertou vários tipos de pães, bolos e bolachas. A receptividade e sucesso dos produtos panificados ofertados no PAA passaram dos muros da escola e caíram no conhecimento e gosto da comunidade que começaram a fazer pedidos de pães, bolos, biscoitos. O sucesso dos quitutes baseados em receitas tradicionais das famílias levou 03 agricultoras integrantes do grupo Renascer a montar um espaço próprio para a panificação. Assim, a panificação passa a ser para Joceli (46 anos), Norma ( 69 anos) e Sirlene (45 anos) o principal foco.
Mas o que de fato motivou a iniciativa foi o fornecimento dos panificados para todos os eventos promovidos pelas entidades da Rede de Agroecologia, ou seja, as reuniões, seminários, oficinas e intercâmbios. A descoberta do potencial e habilidades que as mulheres do grupo tinham para a confecção de vários tipos de panificados, utilizando-se das receitas, conhecimentos e o saber fazer herdados das suas avós culminou com a entrada no PAA, na Alimentação Escolar, mas principalmente num ponto de vendas na própria estrutura da panificação.
O potencial turístico levou o Grupo Ecológico Renascer e o Grupo Sabor da Roça a desenvolverem uma parceria com a Associação Acolhida na Colônia responsável por fomentar circuitos de agroturismo no estado. Mesmo sendo em poucas, as mulheres participam de vários espaços de articulação como a Rede de Agroecologia da Serra Catarinense; Movimento Slow Food; Acolhida na Colônia; Movimento de Mulheres Camponesas, Clube-de-Mães, integradas em ações relacionadas a estas organizações além de cursos promovidos pelo STR, SEBRAE e SENAR, este último com forte atuação no município.
Com o início do sucesso do grupo Sabor da Roça algumas dificuldades apareceram principalmente na ameaça do funcionamento do estabelecimento devido a adequação do espaço físico perante a legislação sanitária, questões polêmicas porque as exigências descaracterizam a elaboração do processamento artesanal.
O grupo produz aproximadamente 50 diferentes tipos de produtos (pães, bolos, bolachas, biscoitos), geléias e sucos de diversas frutas comercializados de forma direta no próprio ponto de vendas; em entregas a domicilio, para o PAA e para Alimentação Escolar.
Para o mercado do PAA, referente ao período de 2005 – 2011 o grupo forneceu 584 Kg de pão, totalizando R$ 4.532,00 e 2.047 Kg de bolachas no valor total de R$ 17.755,70. Já para a alimentação escolar são fornecidos 844 Kg/mês de bolachas para o município de Balneário Camboriú e 152 Kg/mês para o município de Bombinhas, ambos localizados no litoral do estado de Santa Catarina, totalizando 5.644 kg de bolachas no valor de R$ 45.152,00. O grupo atende por mês com um farto café colonial no estabelecimento em torno de 100 pessoas, incluindo aproximadamente 03 eventos mensais com participação média de 25 a 30 pessoas.
O envolvimento com a produção agroecológica e seu processo organizacional desencadeou inúmeras mudanças na vida das mulheres. A renda obtida proporciona autonomia, poder de decisão e de compra do que desejam, mas nem sempre foi assim. A consciência sobre a construção dos papéis de homens e mulheres e a divisão sexual do trabalho chegou ao grupo através de vários espaços de formação proporcionados por diversos projetos sobre “Gênero, Agroecologia e Educação Popular” desenvolvidos pelo Centro Vianei em parceria com as organizações da Rede de Agroecologia da Serra Catarinense desde 2003.
Houve avanços significativos para estas famílias, principalmente pelo empoderamento proporcionado pela autonomia econômica, contudo as mulheres do Sabor da Roça passam por momentos difíceis com o excesso de trabalho, resultado do esforço perante um empreendimento que está fazendo muito sucesso. Os homens sentem-se orgulhosos do trabalho e do respaldo das atividades desenvolvidas por suas companheiras. Mesmo cansadas, se animam com a chegada dos turistas e a relação que estabelecem com cada pessoa. As trocas de informações e conhecimentos proporcionadas pelo atendimento são os maiores aprendizados.
Ainda há muitas dificuldades, a adequação as exigências da vigilância sanitária, parecem intermináveis, mas o “selo” foi conseguido. Dar conta de atender as demandas tem sido uma das maiores dificuldades, além do aumento da procura. A continuidade para esta iniciativa é que os filhos e filhas venham assumir futuramente.
Mas as atividades das mulheres vão além do “Café Sabor da Roça”, as mesmas voltaram a realizar as atividades da agroindustrialização do pinhão com grupo ecológico Renascer. Nesta safra já processaram de forma experimental 1 tonelada do pinhão de forma cozida e moída. Mas o objetivo é trabalhar com a farinha do pinhão e sua utilização para a confecção da panificação.
Assim mais uma vez o grupo de mulheres Sabor da Roça contribuirá na diferença que os caminhos da agroecologia constroem e na possibilidade da agroecologia inserir as mulheres na construção histórica sob um outro viés.