Grupo de Mulheres da Tapera
O Grupo de Mulheres do Assentamento Tapera, distante cerca de 20 quilômetros da sede do município de Riacho dos Machados, tem uma bonita história de luta. Ele é formado por diversas mulheres agricultoras que se autoidentificam como geraizeiras, moradoras dos Gerais, áreas de cerrado. Todas têm filhos. A maioria está na faixa de 31 a 40 anos. Trata-se de um grupo ainda jovem, com muita vontade de crescer e lutar pelo seu reconhecimento e valorização do trabalho realizado no campo da agroecologia.
As mulheres tiveram forte participação no Assentamento desde a sua origem, na luta pela terra. Elas também sempre enfrentaram junto com seus companheiros a luta para garantir a alimentação de qualidade na mesa das famílias. Os agricultores e agricultoras do Assentamento participaram de muitas reuniões e encontros para a melhoria da qualidade de vida, não só deles, mas também por um mundo melhor para todos.
Muitos desses trabalhos foram realizados em parceria com o Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), do qual muitos assentados são sócios. O Grupo de Mulheres do Assentamento Tapera foi criado em 2005. A ideia nasceu, em parte, devido à participação delas no Coletivo de Mulheres do Norte de Minas que, à época, era só das mulheres ligadas ao CAA-NM.
Com a união, as mulheres passaram a se organizar e lutar por muitas melhorias na comunidade. Um dos primeiros trabalhos que elas desenvolveram foi a pesquisa sobre plantas medicinais, onde puderam aprender e resgatar conhecimentos tradicionais.
A experiência com sementes crioulas
A valorização e o resgate das sementes crioulas se fortaleceram depois que começaram os trabalhos com agroecologia. Essas práticas ganharam mais ânimo com o início das atividades de intercâmbio e formação realizadas pelo CAA-NM, em parceria com os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Riacho dos Machados e Porteirinha. As mulheres afirmam que, após conhecerem outras experiências, começaram a aplicar na roça o que aprenderam. Algumas dizem que antes usavam venenos para conservar as sementes, queimavam para fazer a roça, o que enfraquecia a terra que já era pouca para plantio, e a produção era muito baixa. Todos os novos aprendizados eram construídos também com seus companheiros, que participavam de tudo.
O primeiro crédito acessado pelas famílias foi o Procera, que é um crédito próprio para assentados da reforma agrária. Foi muito útil para o início dos trabalhos na agricultura, possibilitando a implantação de pomares, roças, mangas de curral, capineiras, pocilgas e outros.
Com o aumento da produção, potencializado a partir do uso das sementes crioulas e de técnicas de manejo agroecológico, foi possível acessar mercados nunca antes imaginados. Segundo as mulheres, a experiência com a produção de sementes crioulas aumentou a renda das famílias, principalmente com a venda do milho e arroz nas feiras, no comércio local e, através de parceria com a Cooperativa Grande Sertão, para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), gerido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
No Assentamento foi construído um galpão onde são realizadas as trocas e a comercialização das famílias. A venda de frangos, ovos, porcos, farinha, polvilho, amendoim e rapadura também incrementa a renda familiar. Ainda no Assentamento foi construído um Banco Comunitário de Sementes Crioulas, que serve para armazenar as sementes da comunidade, garantindo estoques seguros para a hora do plantio.
No Assentamento, a mulher participa em tudo: tanto nos trabalhos de casa e na roça, quanto nas atividades sociais - algumas delas, por exemplo, fazem parte do Sindicato e do próprio CAA-NM.
Para as mulheres, o trabalho com agroecologia faz com que elas reflitam também sobre as relações do ser humano com terra e com a natureza. Por meio do trabalho na roça, as mulheres da Tapera estão construindo novas relações humanas no interior de suas famílias, na comunidade e na região. Hoje, 14 pessoas fazem parte do Grupo, sendo 12 mulheres do Assentamento, 2 mulheres da Comunidade vizinha Córrego Verde e 2 homens da Tapera colaboradores nos trabalhos.
O mais bonito disso tudo é que não é um grupo em que se busca melhorias só para si: o que as mulheres mais querem é que o mundo tenha mais justiça e qualidade de vida para todas e todos.