Fique em casa e garanta a feira: alternativas para a comercialização dos produtos da agricultura familiar em tempo de pandemia



Em março de 2020 as atividades na UFPI foram suspensas para controle da transmissão do Sars-CoV-2 considerando a declaração de pandemia da doença COVID-19 emitido pela Organização Mundial de Saúde, em 11 de março de 2020; o Art. 207 da Constituição Federal; a Lei No 13.979, de 6 de fevereiro de 2020; a Instrução Normativa Nº 21, de 16 de março de 2020, do Ministério da Economia; a Nota Técnica Nº 66/2018, de 30 de janeiro de 2018 do Ministério do Planejamento; a Portaria nº 356, de 11 de março de 2020, do Ministério da Saúde; e a Portaria nº 343, de 17 de março de 2020, do Mistério da Educação, e formalizada pela Resolução No 015/2020 CONSUN/UFPI. Desde então, as atividades nos campi estão restritas aos serviços essenciais. Esse cenário inviabilizou a venda semanal dos produtos da feira no CSHNB (Projeto de extensão intitulado “A feira é livre no espaço universitário: aproximando a agricultura familiar ao ambiente acadêmico do Campus Senador Helvídio Nunes de Barros”, PJ10/18-CSHNB-067-09/20-NV). Além da perda do espaço universitário para as vendas, os/as agricultores/as colaboradores/as do referido projeto foram impedidos/as também de realizar a comercialização na feira livre da cidade, medida adotada por meio do Decreto No 042/2020 da Prefeitura Municipal de Picos para controle do COVID-19.
Diante dessa situação várias preocupações foram geradas: i) a situação dos/as produtores/as, que estavam impedidos/as de vender seus produtos, logo iriam perdê-los; ii) a diminuição/dificuldade de acesso de alimentos saudáveis para a população do município por conta do isolamento social; e iii) a crescente propagação da doença. Dessa forma, com a oportunidade da integração de ações no Projeto “Em busca de extensionistas para o enfrentamento do coronavírus” (PJ03/2020-UFPI-191-NVPJ/PG ) estabelecemos vias remotas para a comercialização dos produtos com a utilização de um espaço alternativo, cedido pela Igreja do Nazareno de Picos, para entrega dos pedidos que cumpria as exigências da Organização Mundial de Saúde e possuía fácil acesso do público alvo. Utilizamos para as entrega o sistema drive thru de modo a contribuir com medidas concretas para evitar o contágio pela doença.
Iniciamos a organização dos pedidos dos clientes usando ferramenta gratuita do Google. Na primeira semana realizamos apenas 16 vendas, todas para servidores da UFPI/CSHNB que já conheciam do projeto. Após divulgação em mídias sociais quadruplicamos o número de famílias atendidas. A ampliação do alcance do projeto nos levou a aumentar: i) as parcerias, que eram com 10 famílias e passou a ser 35, ligadas ao Movimento Internacional da Juventude Agrária Rural e Católica (MIJARC-Piauí), ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Sindicatos dos Trabalhadores Rurais; e ii) a oferta de produtos, que na primeira semana de vendas online foi 30 itens entre hortaliças e frutas e hoje ultrapassa 200, com a inclusão de produtos minimamente processados, plantas medicinais, produtos derivados do leite, carnes, doces, entre outros.
O faturamento médio semanal foi de R$ 2.000,00, com o mês completo de vendas online que menor arrecadou foi abril de 2020 e o de maior venda foi julho do mesmo ano. A média semanal de pedidos foi de 51, com a semana com maior número de vendas atingindo 66 pedidos. Com o aumento no número de doentes na cidade as exigências para o isolamento foram intensificadas e vimos a necessidade da inclusão do sistema delivery para garantir o acesso aos produtos da feira com o mínimo de exposição possível dos clientes e de nossos parceiros.
Esse crescimento exigiu já na quarta semana de comercialização a compra da licença de um site de vendas online (https://kyte.site/feira-cshnb), pago com recursos próprios das coordenadoras do projeto. No entanto, como as vendas dos produtos da feira possuem diversas particularidades que diferem da venda convencional de uma empresa (cujo site adquirido atenderia perfeitamente a demanda), uma parceria com uma startup de computação, Cerebrum, foi firmada para o desenvolvimento de um site que suprisse as necessidades e superasse as dificuldades que estávamos encontrando em operacionalizar as vendas da feira. Esse site (FIG. 6) está em fase de teste e em breve será disponibilizado para efetivação dos pedidos. Os desenvolvedores do site se voluntariaram para o trabalho por acreditarem na potencialidade do projeto.
Além dessa ferramenta digital, intensificamos o uso das mídias sociais, principalmente o Instagram para que pudéssemos alcançar um maior número de clientes. O perfil da feira (https://www.instagram.com/feiracshnb/) conta hoje com 436 seguidos e 52 publicações que variam entre peças de divulgação dos produtos, receitas de clientes, orientações quanto ao funcionamento das vendas online, publicações de outros projetos de extensão com relação à temática do nosso projeto, posts para conhecimento e valorização dos/as agricultores/as colaboradores, entre outras. O feedback dos clientes é muito positivo com muitos deles auxiliando na divulgação do projeto em seus próprios perfis. Outra ferramenta digital que auxiliou na operacionalização do contato com os clientes da feira foi o grupo de WhatsApp que conta atualmente com 159 participantes, incluindo os administradores que são as coordenadoras do projeto, docente colaborador, discente colaborador e agricultoras parceiras. No grupo são publicadas todas as segundas-feiras uma chamada com o link para o site e mensagens de separação dos pedidos para retirada. Essa comunicação é muito importante pois coordena o acesso dos clientes ao local de retirada dos pedidos evitando aglomerações nesse momento de pandemia.
A operacionalização das vendas online é bastante complexa e dependeu da assistência direta das coordenadoras do projeto. No entanto, com o desenvolvimento das ações estamos garantindo e ampliando o acesso do público alvo à alimentos produzidos com boas práticas agrícolas, colaborando para a prevenção de infecções com o COVID 19 no município de Picos e gerando renda para os/as agricultoras/es da região. Uma grande conquista do projeto foi o fato dos/as produtores/as terem optado por continuar a venda online mesmo com a suspensão do decreto da Prefeitura de Picos supracitado, o que demonstra que os ganhos obtidos atendem as expectativas comerciais deles/as e reforçam a eficácia de ferramentas digitais para a oferta e comercialização de produtos oriundos das práticas da agricultura familiar. Além disso, a não exposição dos/as produtores/as ao novo corona vírus no espaço da feira convencional minimiza a disseminação da doença para as comunidades campesinas.

2. Duração da experiência

Essa é uma experiência criada em resposta aos efeitos da crise sanitária decorrente da pandemia do Coronavírus (Covid-19)? Em parte, a experiência já acontecia mas houve ajustes devido à pandemia

3. Identificação do tipo experiência

Esta experiência é/foi realizada no Brasil?Sim

Selecione o tipo de experiênciaComercialização

Tipo(s) de produto(s) comercializado(s)

  • Outro
  • Tempero
  • Plantas medicinais ou outro produto terapêutico (pomada, óleo, unguento, etc)
  • Alimento in natura
  • Alimento beneficiado (polpa, doce, geléia, etc)

Qual outro?laticínio, produtos panificáveis

Forma como comercializa o(s) produto(s)

  • Feira
  • Cestas agroecológicas

4. Sujeitos

Você considera que a experiência tem uma atuação em Rede? Não

Sexo - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • Masculino
  • Feminino

Se há um sexo com maior participação, indique Feminino

Faixa etária - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • De 15 a 29 anos
  • De 30 a 60 anos

Se há uma faixa etária com maior participação, indiqueDe 30 a 60 anos

6. Localização e abrangência espacial

Esta experiência está sendo cadastrada pelo celular (via aplicativo ODK Collect)? Não

7. Práticas em saúde e agroecologia

Práticas Agroalimentares (produção/beneficiamento/consumo)Feiras agroecológicas

Esta prática é considerada uma tecnologia social pelos protagonistas da experiência? Sim

O que estimula a adoção dessa(s) prática(s)?Outro

Qual outro estímulo à adoção desta prática?Acesso/comercialização de produtos de base agroecológica

8. Políticas públicas

Caso a experiência tenha acessado uma ou mais políticas públicas brasileiras, indiqueNenhuma

9. Resistências e ameaças

Há conflito(s) ambiental(is) no(s) território(s) onde essa experiência acontece?Não

11. Estratégias de Comunicação e Anexos

Que tipo(s) de ferramenta(s) utiliza para divulgar a experiência e se comunicar com os envolvidos?

  • Aplicativo desenvolvido pela organização
  • Instagram
  • Site
  • Whatsapp/Telegram

12. Redes em saúde e agroecologia

De que forma sua organização poderia colaborar na criação e/ou fortalecimento dessas redes?Replicando a experiência com outros grupos, principalmente com relação ao uso das tecnologias para a comercialização dos produtos agroecológicos.