Feira de Produtos Agroecológicos de Campos

O município de Campos dos Goytacazes fica localizado na região Norte do estado do Rio de Janeiro. Historicamente, é caracterizado como a principal região produtora de cana-de-açúcar do estado e uma das principais do país. Atualmente, o município possui oito assentamentos conquistados pela organização dos trabalhadores “Sem Terra”, onde metade destes assentamentos são consequência do processo de falência das usinas sucroalcooleira. A comercialização da produção dos assentamentos, sempre foi uma das principais dificuldades encontrada. Uma das poucas opções que surgiam era entregar a produção nas mãos de atravessadores. Fato este que não era benéfico para os assentados, uma vez que o preço pago era muito baixo, além dos calotes que muitos sofriam. A venda direta ao consumidor surgia como alternativa mais segura. Assim, no final de 2004 a Comissão Pastoral da Terra organiza um grupo de assentados que tinham como um dos objetivos a disputa do Sindicato dos Trabalhadores Rurais - STR. Segundo Hermes Cipriano, assentado, eles tinham consciência que não iriam vencer, contudo, queriam gerar a discussão, uma vez que o STR não fazia luta. Esse fato, fez com que esses assentados se organizassem e iniciassem a discussão da construção de uma feira da reforma agrária. Fizeram visitas ao STR e a feira da agricultura familiar de Muriaé-MG; além da feira da Reforma Agrária de São Mateus-ES. Assim, em 29 de abril de 2005 era inaugurada a primeira feira da reforma agrária do município de Campos dos Goytacazes, onde funcionava toda sexta. Com a organização desse grupo, articularam junto a Universidade Estadual do Norte Fluminense – UENF – a instalação de mais uma feira, sendo esta dentro do campus da universidade, onde teve seu inicio em 2006. Dessa forma, funcionaram, paralelamente, as duas feiras. Todavia, no inicio de 2007, a feira criada em abril de 2005 não consegue mais se sustentar e tem suas atividades paralisadas. Os assentados alegam problemas de relacionamento com a prefeitura do município para a paralisação da feira. Assim, somente a feira na universidade é mantida. No período de jornada de luta do MST em março desse ano, os assentados resolvem ocupar a prefeitura do município. Pontos ligados a saúde, educação e produção entraram na pauta de reivindicações. Os assentados estavam decididos e apenas comunicam a prefeitura que iriam reabrir a feira da reforma agrária. Sendo assim, no dia 02 de agosto desse ano, os assentados reabrem a feira. Hoje, existem 20 bancas na feira, contudo, são quase 30 famílias participando, visto que algumas utilizam a mesma banca Segundo Hermes Cipriano, esse número tende aumentar, visto que muitos assentados ainda não têm condições de bancar o transporte. Apesar de utilizarem um caminhão do Território da Cidadania, este não é suficiente para atender a demanda dos assentamentos. Os produtos são dos mais diversos possíveis, no total, são mais de 30 itens comercializados na feira. São frutas, hortaliças, raízes, produtos processados como farinha de mandioca, tapioca, polvilho, queijo, doces, geléias, etc. Segundo regimento interno da feira, somente é permitido utilizar produtos agorecológicos. Não é permitida a utilização de agrotóxicos. Além desses produtos, também é vendido na feira livros da Expressão Popular. A idéia é além de fornecer produtos saudáveis, também se fornecer cultura para a sociedade. A feira deverá funcionar todos os domingos. Os assentados querem aproveitar esse espaço para mobilizar mais famílias a participarem da discussão. O foco é criar mais feiras no município, visto que ele é muito grande e uma feira não consegue dar conta, afirma Chiquinho, assentado. Assim, a perspectiva é espalhar feiras da reforma agrária pelo município de Campos dos Goytacazes. Também há uma discussão de se criar uma feira da Reforma Agrária no município vizinho de Cardoso Moreira, onde se tem três assentamentos. Com a construção dessas feiras, os assentados querem provar para a sociedade que a reforma agrária dar certo e é a forma mais barata de geração de emprego.