Encontro da Partilha: Saberes e Fazeres em Movimento

Em 1998, Suzana (médica) de Campos, Márcio (Agrônomo) da região metropolitana do Rio de Janeiro e Sonia (Educadora Popular) de Queimados que já realizavam trabalhos com plantas medicinais em seus respectivos grupos, Ao se conheceram se surpreenderam ao saber uns do trabalho do outro. Passaram a se encontrar, periodicamente, para trocar experiências com objetivo de mapear grupos no estado do Rio de Janeiro que realizassem o mesmo trabalho. No ano seguinte, avaliando o trabalho de diagnóstico e levantamento realizado chegaram as seguintes conclusões: Os grupos eram pequenos e realizavam trabalhos comunitários com manipulação de ervas medicinais; tinham dificuldades de refletir sobre o que faziam além de estarem isolados; a maior parte dos grupos realizavam seus trabalhos em espaços da igreja católica; os grupos em sua maioria eram formados por mulheres idosas ou jovens; havia grupos com mais de 15 anos de existência com grandes dificuldades financeiras. Foram mapeados 50 grupos em todo o estado do Rio de Janeiro, diante desta realidade de muitas dificuldades e grande riqueza de experiência e com a preocupação de valorizar/resgatar a cultura popular em saúde organizamos o I Encontro Estadual Popular de Terapias Alternativas em Saúde, realizado em Petrópolis, em Abril de 2000 com a presença de aproximadamente l50 pessoas representando os 50 grupos levantados na pesquisa realizada. Momento em que os grupos puderam se conhecer, trocar experiências, partilhar sucessos e dificuldades e pensar juntos como avançar no trabalho realizado? Neste encontro surgem as seguintes propostas a partir da inquietação acima: - Eleição de uma equipe estadual para articular os grupos no estado do RJ; - Produção de um jornal que sistematizasse as experiências discutidas nos encontros, e; - Realização de encontros estadual anual. Após este primeiro encontro, a equipe de coordenação avaliou e percebeu que apenas um encontro por ano seria pouco para responder as exigências que foram levantadas pelos grupos. Para intermediar um encontro do outro e não haver desarticulação das propostas além de aprofundamento dos desafios das experiências tratadas era preciso mais. Pensou-se em encontros regionais: A Partilha. A Partilha é encontro que acontece trimestralmente. O tema e o local do encontro são definidos no encontro anterior, com a proposta de partilha não só de saberes e práticas, mas também de recursos financeiros para passagens, alimentação, acessoria que são o problema maior para uma efetiva participação dos grupos comunitários. O encontro é iniciado com trocas teóricas; cada participante é convidado a falar o que faz, como faz, por que e para que realiza suas experiências dentro do tema escolhido. É hora de ouvir histórias, contar experiências. Todas as pessoas têm a oportunidade de participar ativamente contribuindo na troca de experiências. Num segundo momento as experiências relatadas e refletidas são postas em prática através de oficinas. A coordenação do encontro que recebe o Encontro da Partilha fica responsável pela infra-estrutura, acolhimento e produção do jornal o Fitotéia que traz as informações, receitas, e reflexões sobre o tema que foi discutido, e que será socializado no encontro seguinte da Partilha. Essa experiência é permeada por princípios de solidariedade, autonomia, participação, ecumenismo, valorização da cultura popular como fonte de conhecimento, preservação e proteção do meio ambiente e respeito às diversidades culturais e muita mística. Os principais resultados obtidos foram a articulação dos grupos no estado do Rio de Janeiro que deu visibilidade as experiências realizadas: formando assim A Rede Fitovida com seus princípios que norteiam as ações dos participantes. Além do amadurecimento das questões discutidas de não institucionalizar a Rede e sim manter viva a memória das experiências de cada grupo utilizando como instrumento o inventário com fins de preservar os saberes em saúde popular dos grupos que fazem parte da Rede em parceria com IPHAN.