Educação do Campo e Agroecologia: A Experiência da UFPA em Marabá

O presente texto tem por objetivo central apresentar e socializar inicialmente os cursos de Licenciatura em Ciências Agrárias, Agronomia (Regular e PRONERA), Especialização Residência Agrária e Licenciatura Plena em Educação do Campo numa perspectiva cronológica, mas com uma preocupação crítica no sentido de enfatizar as modificações e transformações que foram sendo incorporadas durante o processo, refletindo assim, o próprio acúmulo na construção da Educação do Campo no Campus da UFPA em Marabá e os desafios de articular e incorporar a Agroecologia nesse debate. O curso de Licenciatura em Ciências agrárias herda elementos de processos anteriores como DAZ e Programa CAT e apresenta novos, como, uma aproximação das Ciências Agrárias com a Pedagogia, o reforço na parceria entre Universidade e Movimentos Sociais do Campo, a centralidade no entendimento do Funcionamento dos Estabelecimentos Agrícolas Familiares e nos Sistemas Agrários e o estudo baseado na relação teoria / vivência – diagnóstico no campo, por intermédio dos estágios. Com relação ao curso de Agronomia regular, grosso modo, mantém os mesmos princípios da LCA, mas incorpora uma “formação técnica mais extensa”, com ênfase nas disciplinas aplicadas dialogando com uma abordagem diferenciada (visão sistêmica). Quando da realização da turma do PRONERA 2004 e a própria experiência da I turma da EFA Ensino Médio há uma guinada em alguns pilares, tais como: (i) amplitude nova e mais significativa para relação das Ciências Agrárias e Pedagogia e (ii) fortalecimento da parceria entre universidade e movimentos sociais do campo como parte de um movimento mais amplo (Educação do Campo). Esse reforço nos dois pilares da Educação do Campo confere a necessidade em superar a disciplinaridade, nesse caso a primeira turma da EFA Ensino Médio rompe com o modelo disciplinar e aponta novas dimensões para a relação teoria / vivência. A alternância se constitui enquanto uma prática mais profunda do que os estágios, não só em função do tempo e da freqüência, mas sobretudo da relação mais orgânica entre tempo escola e tempo comunidade, além disso elege a pesquisa como princípio educativo invertendo a lógica e privilegiando a observação empírica para trazer elementos e questões para discussão teórica. Do ponto de vista das Ciências Agrárias a turma do PRONERA e a I Turma da EFA Ensino Médio colocam dois limites sérios do processo, a insuficiência da “experimentação agroecológica” nos cursos e a dificuldade da construção e elaboração por parte dos educandos e dos educadores de leituras do específico para o macro. Acreditamos serem esses dois pontos importantes para aprofundar o debate da interface educação do campo / agroecologia. O Residência Agrária foi um primeiro ensaio em apresentar um curso não disciplinar numa tentativa de incorporar os vários avanços construídos até então, mas esbarrou em certa dificuldade de operacionalizar o desafio de quebrar a lógica disciplinar e incorporar mais fortemente o que foram os seus pressupostos básicos: vivência de campo, diálogo de saberes e centralidade na extensão rural em constante diálogo com uma nova perspectiva científica, acreditamos serem esses pontos importantes a serem destacados no debate. Por fim, quanto ao curso de Licenciatura Plena em Educação do Campo, acreditamos ser uma boa síntese e que reflete um conjunto de práticas e acúmulos testados e pensados nos últimos 10 anos e tem como base o diálogo e a prática interdisciplinar ampliando o diálogo das Ciências Agrárias com outras áreas do conhecimento, como as Ciências Humanas e Sociais, a área de Literatura, Artes e Linguagens e Matemática e Sistemas de Informação, além disso, traz a pesquisa como princípio educativo estruturador do percurso formativo e da formação dos educadores. Postos rapidamente alguns elemento estruturantes das quatro experiências apontamos dois gargalos importantes para reflexão e debate que merecem aprofundamento, um primeiro é a experimentação agroecológica na perspectiva de reforçar a relação da universidade com os movimentos sociais do campo e atrelado a esse primeiro a dificuldade de, a partir do diagnóstico / vivência realizar a sistematização e a proposição de intervenções (experimentação), no entanto temos clareza que isso não se resolve no âmbito de um curso, mas da articulação do (s) curso (s) com atividades permanentes de pesquisa e experimentação na escola e no campo, mas também, incorporar esses gargalos nos currículos dos cursos rompendo a perspectiva de considerar essa ações somente como marginais, extras ou de iniciação científica.