Da cana-de-açúcar para agrofloresta: Agricultor da Zona da Mata conquistou segurança alimentar e geração de renda.

José Caboclo da Silva, mais conhecido como Zé Caboclo, mora com sua esposa Amara Maria, no engenho Conceição, no município de Sirinhaém, Mata Sul de Pernambuco. Há dezoito anos que o casal mora na propriedade que tem oito hectares de terra e que foi comprada com recursos próprios. Há onze anos que o agricultor e a agricultora mudaram a sua forma de produzir e optaram em trabalhar com os Sistemas Agroflorestais (SAF´s), também conhecido como agrofloresta. Um jeito de plantar onde junta diversas espécies – nativas, frutíferas e culturas de ciclos curtos e médio -, numa única área de terra, formando um consócio. Zé Caboclo e dona Amara sempre foram ligados a agricultura. Antes dele adquirir a terra trabalhava como atravessador. Comprava os produtos de outras famílias agricultoras para vender na feira livre de Prazeres, Região Metropolitana do Recife. Assim que foi morar na terra que comprou começou a planta cana-de-açúcar, que era a tradição da região. Segundo ele, na época sua visão era igual aos demais agricultores, achava que a cana era a única cultura que dava lucro. “Meu sistema era cana, veneno e fogo, na intenção de ganhar dinheiro. Só que era uma ilusão”, diz Zé Caboclo. Conhecendo a Agrofloresta Em 2000, os técnicos do Centro Sabiá, que faziam assessoria na região, o convidaram para participar de reuniões. O agricultor começou a participar, mas confessa que sempre voltava desanimado, pois não conseguia ver a agricultura agroflorestal como uma alternativa. Achava que aquilo tido era uma besteira. Mas a sua esposa o incentivava. “Ela sempre me dizia: ´- vá participar Caboclo. Você já começou, agora vá até o fim para vê os resultados”. A partir da quarta reunião Zé Caboclo resolveu colocar em prática um pouco do que estava ouvindo. Ao iniciar, começou a refletir sobre sua situação econômica com a monocultura da cana-de-açúcar. “Depois que o tempo passou foi que vi que a agricultura que eu praticava era agressiva pra gente e pra natureza. E tava ficando nu da terra ao corpo”, avalia Caboclo. De acordo com o agricultor uma das primeiras experiências que visitou foi em sua própria comunidade, na casa da família de Seu Domingos e Dona Zulmira. Isso o motivou bastante. “Arranquei um hectare de cana. Amara pedia para eu não arrancar ir fazendo aos poucos, mas eu resolvi foi arrancar tudo. E não me arrependi”, lembra ele. Produção de alimentos e comercialização Da primeira área de agrofloresta plantada a família teve uma boa produção de macaxeira, feijão, milho, jerimum, maxixe, quiabo, batata-doce, entre outras culturas. Tudo que saiu da área foi para consumo da família e como foi muita coisa, o que não conseguiu consumir, deu para os vizinhos, já que ainda não estava comercializando. Em 2003 foi fundada a Feira de Produtores/as Aroecológicos/as de Sirinhaém (FEPAS). Com o aumento da produção, Zé Caboclo resolveu comercializar para não perder o que estava produzindo, já que a família não consumia tudo. “Hoje, para onde eu olho na minha propriedade só vejo o que comer. Não vou ao sítio para não trazer uma fruta ou alguma coisa pra cozinhar”, diz orgulhoso. Para feira, em média, ele leva dez tipos de produtos. Grande parte sem ser beneficiada como coco, macaxeira, banana, laranja e ciriguela. Hoje a família beneficia apenas frutas transformando em polpa. Trabalha em media oito tipos de polpa: acerola, cajá, graviola, pitanga, carambola, açaí, araçá e goiaba. A família também tem uma pequena criação de galinha de capoeira, apenas para comer a carne e os ovos. Zé caboclo diz que já criou uma grande quantidade aves, mas agira são poucas em função da mão de obra. É necessária certa dedicação e mais pessoas para dar conta. Atualmente o sítio é organizado apenas por ele e Dona Amara. Embora a comunidade esteja contando com o apoio pontual da prefeitura municipal para o transporte de produtos até a feira, o difícil acesso à cidade, especialmente na época de chuvas, é um fator limitante ao processo de comercialização. As estradas argilosas dificultam muito o transporte dos produtos. As frutas do Sítio de Zé Caboclo e Amara Banana prata, banana maçã, banana pão, banana cumprida, banana anã, banana pacovan, coco verde, coco seco, jaca, cajá, carambola, laranja comum, laranja mimo, laranja cravo, pitanga, jambo,manga,limão, graviola,acerola, ingá,sapoti, ciriguela, amora, cacau, açaí, caju,macaíba e dendê. Plantas Nativas Aumescla, lacre, imbira vermelha, murici, sambaqui, louro, jacarandá, sucupira, burra leiteira etc. Acesso às políticas para a agricultura familiar A família de José Caboclo não acessou nenhum tipo de crédito para produção, nem participou de programas de apoio à comercialização, como PAA, PNAE. O que tem limitado o acesso essas políticas, na sua avaliação é o fato de os municípios não dominarem a gestão de programas, como por exemplo, PAA e PNAE, e a falta de conhecimento sobre a existência desses caminhos para comercializar.

Anexos

Anexo 1