Curso Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio, ênfase em Agroecologia
O Curso Técnico em Agropecuária integrado ao Ensino Médio com ênfase em Agroecologia, assim como o Campus Rural de Marabá é fruto da luta do Movimento da Educação do Campo e busca sintetizar as várias experiências de Educação do Campo que ocorreram no Sul e Sudeste Paraense. Os Movimentos Sociais e entidades comprometidas com a Agricultura Familiar e Camponesa estão na gênese desse Curso, a decisão de elaborar um projeto de Curso Técnico em Agropecuária para ser submetido ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra), antes mesmo do início da construção dos prédios do Campus Rural de Marabá (CRMB), foi tomada em uma reunião do Fórum Regional de Educação do Campo (FREC), em dezembro de 2008. Naquele momento, discutiu-se que apesar do CRMB estar em fase de implantação, era possível ter uma turma de educandos em processo de formação, pois o essencial de uma escola é a clareza da intencionalidade da sua proposta. A partir de janeiro de 2009 o Projeto do Curso foi discutido juntamente com representantes das entidades parceiras que participam do FREC, processo que resultou na construção do percurso formativo do Curso, que deveria ser diferente dos percursos das experiências anteriores. O I Ciclo do Curso tem como foco o Diagnóstico sócio ambiental do PA 26 de Março e do CRMB (duração 1 ano); o II Ciclo estudará os Sistemas Produtivos e Experiências alternativas de manejo (duração 1 ano e ½) e o III Ciclo discutirá a ATES como mediadora do Desenvolvimento Territorial (duração ½ ano). O Curso é organizado pela alternância de Tempo-Espaços: Tempo-Comunidade; Tempo-Escola e Tempo-Prática-Comunidade, realizado no PA 26 de Março, durante os Tempo-Escola. Não há disciplinas mas sim questões sobre a realidade para serem trabalhados, desta forma os conteúdos disciplinares aparecem para contribuir com o estudo/reflexão desta realidade.
Em junho de 2009 constituiu-se o Comitê Gestor do Curso composto pelas seguintes entidades: Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Federação dos Trabalhadores na Agricultura/ Regional Sudeste do Pará (FETAGRI), Universidade Federal do Pará (UFPA), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Laboratório Sócio Agronômico do Araguaia-Tocantins (LASAT), Cooperativa de Prestação de Serviços de Ates (COPSERVIÇOS), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e Secretaria Municipal de Educação de Xinguara, além do CRMB.
Em outubro de 2009, foi realizado o Processo Seletivo que selecionou os 98 jovens oriundos de 14 municípios do Sul e Sudeste Paraense (São João, São Domingos, São Geraldo, Palestina, Parauapebas, Xinguara, Eldorado dos Carajás, Marabá, Itupiranga, Nova Ipixuna, Jacundá, Bom Jesus, Rondon do Pará e Sapucaia). Desde então foram realizadas 6 Alternâncias e em fevereiro de 2011 será finalizado o I Ciclo. Durante os Tempo-Comunidade foi possível realizar visitas de acompanhamento a maioria dos educandos, faltando apenas os jovens que moram nos municípios de Marabá e Itupiranga.
O CRMB está inserido em um contexto regional onde disputam dois grandes projetos de desenvolvimento que se diferenciam e concorrem, a proposta política e pedagógica do Campus tem compromisso com o fortalecimento da Agricultura Familiar e Camponesa. Nesse contexto, o público que se quer formar são os trabalhadores e trabalhadoras que tem seu modo de vida vinculado ao campo, e todo o percurso formativo do Curso é pensado para refletir sobre a realidade do Agricultor Familiar e Camponês.
Uma das temáticas recorrentes dessa educação se refere aos elementos técnicos profissionalizantes da agropecuária regional. Essa importância foi se construindo em função da necessidade de aprimoramento dos aspectos técnicos da produção familiar rural nesta região, marcada por uma presença massiva de migrantes de outras regiões com poucos conhecimentos prévios acumulados sobre o ecossistema local, pela ausência de instituições públicas de pesquisa agropecuária que pudessem gerar tecnologias adequadas, à realidade local e pela predominância de sistemas de produção pouco diversificados, baseados na precoce e intensa pecuarização dos estabelecimentos familiares, resultantes da instabilidade da posse da terra.
Nesse quadro, a aposta da educação profissional e tecnológica das famílias camponesas parte da crítica do modelo tecnológico da chamada ‘Revolução Verde’, ou seja, da homogeneização extrema dos agroecossistemas locais, buscando sua artificialização através de insumos químicos, mecânicos e genéticos de origem industrial. Essa crítica fundamenta-se em aspectos sociais, mais expressamente na concentração de terra e renda que esse modelo significa, constituindo a base da história de expulsão e migração de outras regiões que a maioria das famílias aqui estabelecidas tinha vivenciado. Ao mesmo tempo, fundamenta-se em aspectos ecológicos, reconhecendo os danos ambientais que a aplicação desse modelo significa para a Amazônia, com destaque para os desmatamentos, com isto, a discussão sobre Agroecologia está na pauta do Curso.
Embora o I Ciclo é basicamente de Diagnóstico não há como dissociar a discussão sobre os problemas/limites encontrados com alternativas para solucioná-los, com isto, em vários momentos das Alternâncias foi estudado princípios de Agroecologia e manejo ecológicos dos recursos naturais. Por exemplo, a partir da constatação de que, embora estejamos na região Amazônica, no Sul e Sudeste do Pará há marcadamente um período de estiagem. Nesse período, vários educandos tem problemas com escassez de água, então foi proposta a construção de uma cisterna para acumular água da chuva. Também há por parte da equipe de educadores a preocupação de trabalhar os vários aspectos da realidade sócio ambiental dos educandos, procurando integrar as questões ditas mais técnicas com as sociais e políticas.