Curso Internacional EAD de Extensão em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN): interfaces com a Agroecologia e Sociobiodiversidade na América Latina



O curso de extensão em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional: interfaces com agroecologia e sociobiodiversidade, aconteceu entre janeiro e abril de 2020, por meio de uma plataforma de ensino à distância, o Moodle. O curso foi realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), por meio do Círculo de Referência em Agroecologia, Sociobiodiversidade, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, o ASSSAN-CR, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR), em parceria com grupos e universidades do Brasil, México, Costa Rica, Bolívia, Colômbia e Uruguai, no âmbito da Rede Latino-Americana de Ensino, Pesquisa e Extensão em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede LASSAN). 
O objetivo geral do curso foi “Construir um panorama das interfaces entre agroecologia e sociobiodiversidade, consideradas dimensões intimamente associadas à construção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional. A construção dessas interfaces foi calcada por uma abordagem sistêmica, complexa e interdisciplinar envolvendo desenvolvimento rural, alimentação, saúde, diversidade e equidade na América Latina”. 
Participaram do curso produtoras/es rurais, graduandas/os, pós-graduandas/os, extensionistas, pesquisadoras/es e professoras/es conformando uma comunidade acadêmica interdisciplinar de mais de 100 pessoas, provindas de diferentes países e regiões da América Latina, do Caribe e da África. Participaram da América Central pessoas do México, Costa Rica, Guatemala, Haiti, República Dominicana e Cuba; da América do Sul, pessoas da Bolívia, Chile, Argentina, Colômbia e Brasil; e da África, pessoas oriundas de Moçambique e Guiné Bissau.  
Foram dez módulos de conteúdos, precedidos por um período de boas-vindas e familiarização à plataforma de aprendizagem, sucedido por um período de trabalhos finais em grupo e avaliação do curso. Em termos de execução (sem falar do período de planejamento e construção que se caracterizou por ser colaborativo entre todos os parceiros do ASSSAN-CR da América Latina), foram doze semanas intensas de troca e aprendizagens, nos quais ampliamos os referentes teóricos e metodológicos sobre agroecologia, sociobiodiversidade, soberania e segurança alimentar e nutricional; vivenciamos ricas trocas de saberes; conhecemos muitas das realidades agroecológicas dos âmbitos rurais, peri-urbanos, urbanos e seus atores locais; evidenciamos diversas formas de governança que fortalecem, reinventam e ressignificam os processos em SSAN, sendo o trabalho e a ação das mulheres, diferencial para estabelecer articulações e facilitar processos inovadores; ampliamos nossa concepção das lutas sociais rurais em defesa dos territórios, e a complexidade dos conflitos socioambientais; percebemos a importância das ações de pesquisa, ensino e extensão que universidades e sociedade desenvolvem conjuntamente, e finalmente; viajamos mentalmente até os diferentes cantos da América Latina, por meio dos relatos e fotografias da agrobiodiversidade e sociobiodiversidade compartilhada. 
Os módulos contemplaram as temáticas como: 1- Referenciais e considerações iniciais sobre as interfaces entre Agroecologia,  Sociobiodiversidade, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional; 2- Propostas Analíticas em SAN; 3- Diálogos sobre Gênero e Sistemas Agroalimentares Sustentáveis; 4- Agrobiodiversidade, Agroindústrias e Territórios; 5- Agroecologia e as Etnociências no Contexto da SAN; 6- Agriculturas para a Sustentabilidade do Sistema Agroalimentar; 7- Metodologías em Agroecologia e SAN; 8- Territórios e a Soberania Alimentar; 9- Políticas Públicas e Governança em SAN; (10) Sociobiodiversidade e Governança em SAN: a Rota dos Butiazais. A interação por meio de fóruns de discussão e questionários de fixação de conhecimentos ao longo dos 10 módulos, por parte da comunidade do curso (cursistas, professoras, professores, tutoras e tutores de diferentes nacionalidades); e a elaboração do trabalho final colaborativo por nacionalidades, permitiram o encontro de conhecimentos, experiências e contextos agroecológicos, mediado pelo panorama da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e suas interfaces entre agroecologia e sociobiodiversidade, concretizado na apresentação de seminários virtuais (webconferências), realizados em três dias consecutivos de encontro.  
Uma vez finalizadas as webconferências, a sensação que ficou foi de muita alegria, plenitude e satisfação por saber que, por algumas horas, brasileiras/os, colombianas/os, mexicanas/os, bolivianas/os, chilenas/os, costaricenses, e argentinas/os estávamos falando uma língua comum, a língua da agroecologia, da diversidade dos saberes, dos sabores, dos fazeres e da construção da soberania e da segurança alimentar e nutricional. Na avaliação do curso, muitos cursistas manifestaram que o português ou o espanhol, tinham sido um desafio para a compreensão plena dos conteúdos, mas na partilha dos trabalhos integrativos, o entendimento foi fluído, não fazendo referência só ao entendimento do falado, mas ao entendimento do que como latino-americanas/os, compartilhamos: histórias, desigualdades, injustiças, lutas, problemas de insegurança alimentar e nutricional INSAN, mas também, biodiversidades, manifestações sociais, inovações e múltiplas formas de construir agroecologias, sociobiodiversidades, soberanias e seguranças alimentares nos territórios. 
Dessa maneira, desde o âmbito da formação visibilizamos o curso como de grande alcance para América Latina, por se constituir como um espaço articulador e multidisciplinar, por integrar pessoas de diferentes áreas do conhecimento e ambientes, a saber: ambientes acadêmicos, das ciências agrárias, ciências da saúde (nutrição especialmente), ciências humanas (graduação, mestrando, Bacharelado em Desenvolvimento Rural -PLAGEDER-, doutorando, pós-doutorando e professoras/es); ambientes não acadêmicos, pois muitos dos cursistas manifestaram ter raízes camponesas e forte atuação no rural em seus países de origem, morando e vivendo da sua produção no campo; ambientes da extensão rural e periurbana; e coletivos que buscam a construção de mercados de proximidade desde sua atuação como produtoras/es e consumidoras/es de alimentos agroecológicos. 

Não há resultados tangíveis em termos de impactos à saúde relatados ao longo do período do curso. No entanto, espera-se que os conteúdos desenvolvidos e a rede de contatos tecida, possa fortalecer experiências agroecológicas na América Latina e na África, do que certamente advém inúmeros impactos positivos na saúde. Seja pelo acesso a alimentos mais sadios, culturalmente enraizados e promotores de justiça socioambiental, seja pela redução na contaminação e deterioração de bens comuns, como solos, água e biodiversidade. De maneira indireta, o panorama da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e suas interfaces entre agroecologia e sociobiodiversidade, materializado no trabalho final do curso, permitiu visualizar iniciativas promotoras de saúde, através das temáticas de análise e discussão propostas pelos cursistas. Uma delas, a valorização da sociobiodiversidade para a alimentação diversificada, como estratégia para problematizar e pensar soluções frente à perda de alimentos tradicionais, e a pouca diversidade nas dietas alimentares na sociedade contemporânea.

Sendo uma experiência de formação, não há resultados tangíveis em termos de geração de renda relatados ao longo do período do curso. É importante, todavia, registrar que a proposição e execução do curso gerou (e deve sempre gerar) trabalho e renda para profissionais da área envolvida, ainda que de maneira temporária.

Nossa esperança é que o curso tenha contribuído com a diminuição das distâncias, a aproximação das experiências e a promoção das sinergias que fortaleçam a agroecologia, a sociobiodiversidade, a soberania e a segurança alimentar e nutricional, manifestas nas mais diversas formas na América Latina!

1. Identificação

Nome da organização que está registrando a experiênciaCírculo de Referência em Agroecologia, Sociobiodiversidade, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (ASSSAN – CR)

3. Identificação do tipo experiência

Esta experiência é/foi realizada no Brasil?Sim

Selecione o tipo de experiênciaEnsino-pesquisa-extensão

Se envolve ensino, indique qual(is) o(s) tipo(s) de curso(s)Curso livre (sem titulação)

Se envolve ensino, indique o número total de vagas disponível (por curso/turma)80

Se envolve ensino, indique o número total de egressos (pessoas que concluíram o curso/turma)64

Se envolve pesquisa, indique a área principal da pesquisaOutra

Qual outra?Segurança Alimentar e Nutricional

Se envolve pesquisa, o grupo está cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq?Sim

Insira o link do grupo no Diretório do CNPqdgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/9500852447175890

Se envolve extensão, indique a área principal da extensãoEducação

Se envolve extensão, o grupo encontra-se formalmente institucionalizado junto à pró-reitoria de extensão da instituição de ensino?Sim

4. Sujeitos

Você considera que a experiência tem uma atuação em Rede? Sim

Sexo - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • Feminino
  • Masculino

Se há um sexo com maior participação, indique Feminino

Cor ou raça - indique o(s) grupo(s) que participa(m) da experiência

  • Branca
  • Parda

Se há uma cor ou raça com maior participação, indiqueParda

Faixa etária - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • De 15 a 29 anos
  • De 30 a 60 anos

Se há uma faixa etária com maior participação, indiqueDe 30 a 60 anos

Quais outras/os?Líderes de Redes de Governança como a Rota dos Butiazais

Quais outras/os?Pesquisadoras/es de Centros de Pesquisa brasileiros e estrangeiros

6. Localização e abrangência espacial

Esta experiência está sendo cadastrada pelo celular (via aplicativo ODK Collect)? Não

Países de abrangênciaMéxico, Costa Rica, Guatemala, Haiti, República Dominicana, Cuba, Bolívia, Chile, Argentina, Colômbia, Brasil, Moçambique, Guiné Bissau.

7. Práticas em saúde e agroecologia

Práticas Agroalimentares (produção/beneficiamento/consumo)

  • Agrofloresta
  • Feiras agroecológicas

Outras práticas não especificadas nas opções anteriores Práticas de formação e de extensão em segurança alimentar e nutricional

Esta prática é considerada uma tecnologia social pelos protagonistas da experiência? Não

O que estimula a adoção dessa(s) prática(s)?

  • Curso de capacitação e treinamento
  • Participação em redes de aprendizados e conhecimentos
  • Outro
  • Intercâmbio/vivência

Qual outro estímulo à adoção desta prática?Integração de parcerias

8. Políticas públicas

Caso a experiência tenha acessado uma ou mais políticas públicas brasileiras, indiqueOutra

Qual outra?Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN)

9. Resistências e ameaças

Há conflito(s) ambiental(is) no(s) território(s) onde essa experiência acontece?Não

11. Estratégias de Comunicação e Anexos

Que tipo(s) de ferramenta(s) utiliza para divulgar a experiência e se comunicar com os envolvidos?

  • E-mail
  • Whatsapp/Telegram
  • Outra

Qual outra?Sala Mconf SIG (Special Interest Groups, ou Grupos de Interesse Especial) da NutriSSAN.

12. Redes em saúde e agroecologia

De que forma sua organização poderia colaborar na criação e/ou fortalecimento dessas redes?

I.    Promovendo estudos e ações de ensino, pesquisa e extensão sobre as temáticas da agroecologia, da sociobiodiversidade, soberania e segurança alimentar e nutricional (SSAN) no Brasil, região Sul em parceria com alguns países da América Latina;

II.   Propiciando um espaço de crítica, reflexão, aprendizagens e produção de saberes interculturais que co-participem da compreensão das realidades complexas e heterogêneas da SSAN;

III. Acolhendo pesquisadores e extensionistas do Brasil e de países da América Latina que atuam nas temáticas de alimentação e nutrição, agroecologia, etnoecologia, etnobotânica, Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), sistemas socioecológicos, sociobiodiversidade, acesso ao patrimônio genético, mudanças climáticas, governança, territórios e políticas públicas;

IV. Propiciando a oferta de cursos de formação em ASSSAN no ensino superior, médio e fundamental, desenvolvendo cursos de graduação, disciplinas nos programas de pós-graduação, cursos de extensão e pesquisas, para que pessoas tenham habilidades de atuar nas questões do DHAA, educação alimentar, conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético, sistema nacional e políticas públicas em SAN na América Latina;

V.  Implementando ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) que estimulem práticas e escolhas alimentares saudáveis para a sociedade, conectando as redes em SSAN onde as universidades estão inseridas;

VI. Compreendendo a relação dos agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais com os seus territórios, o manejo da agrobiodiversidade, a SSAN e o DHAA, com base nas interfaces sociobiodiversidade e agroecologia;

VII. Promovendo reflexões acerca da diversidade cultural, a agroecologia, a produção e conservação da agrobiodiversidade, o autoconsumo e os processos de interação com mercados e a etnoconservação;

VIII. Difundindo a agroecologia e seus princípios para possibilitar a conformação de agroecossistemas alimentares produtivos, sustentáveis, resilientes às mudanças climáticas, inclusivos da cultura alimentar, e dos atributos de distinção dos alimentos, acordes ao entorno biofísico, os contextos culturais e socioeconômicos das regiões de atuação dos parceiros da Rede LASSAN;  

IX. Promovendo a integração dos princípios da agroecologia na produção, consumo e sistema de gestão dos alimentos que permita melhorar ações e processos do desenvolvimento rural e responder aos desafios colocados pelos sistemas agroalimentares convencionais;

X.  Fomentando espaços de participação e gestão social compostos por representantes governamentais e da sociedade civil, em especial da agricultura familiar e de povos e comunidades tradicionais visando melhorar a SSAN;

XI. Contribuindo para a melhoramento da implementação de políticas públicas em SSAN nos níveis municipal, regional, nacional e da região sul da América.