Cozinha Solidária
A chegada da Covid-19, em 2020, agravou os casos relacionados à fome não só em Campina Grande, mas em todo Brasil. Além disso, o aumento nos preços dos alimentos, no Brasil, tem tornado difícil manter a refeição de cada dia na mesa. Por isso, um grupo de pessoas da comunidade e grupos da sociedade civil se juntaram e formaram a cozinha solidária no bairro do Jeremias, em Campina Grande, com o objetivo de distribuir alimentos para as pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social na região.
Nesse contexto de negligência, a solidariedade dos grupos comprometidos com a vida da população, como movimentos populares, sindicatos e associações de moradoras/es, prestam um apoio importante para minimizar a situação de milhares de pessoas que passam fome. Em Campina Grande, a iniciativa da Cozinha Solidária teve início no dia 19 de abril de 2021, e chegou a atender mais de 800 pessoas diariamente, com um total de 150 famílias cadastradas. Além do combate à fome, a cozinha promove o diálogo com as populações abandonadas à sua sorte nas periferias.
A cozinha foi instalada em um espaço da Prefeitura onde funcionava uma das cozinhas do projeto Cozinhas Comunitárias, fechadas há 9 anos. As entidades que formam o Comitê Popular Sindical se uniram para ocupar a cozinha e levar alimento para a população do bairro Jeremias. A maior parte dos alimentos que são distribuídos
para as pessoas em situação de vulnerabilidade social, na cozinha solidária, vem de movimentos sociais, como, por exemplo o MST, que já fez a doação de 170 toneladas de alimentos.
Para dar início ao funcionamento da cozinha, foi feito um levantamento das pessoas desempregadas na região, pessoas em situação de vulnerabilidade social, a partir dos cadastros de agentes comunitários de saúde integrantes dos movimentos populares, que durante a pandemia trabalharam voluntariamente junto à comunidade questões como os cuidados necessários para o combate ao vírus e a importância da vacinação. Foram feitos os cadastros de 150 famílias, que recebiam a comida diariamente, uma vez por dia, de segunda a sexta-feira, de acordo com a quantidade de pessoas da casa.
No entanto, a Cozinha do Jeremias não se resume apenas à entrega das refeições. Deve ser destacado o processo de formação de voluntárias/os, desde as capacitações sanitárias em relação à Covid-19, palestras com as mulheres que estão envolvidas na cozinha com temáticas como a violência doméstica, a organização popular, a criação de uma horta no quintal da Cozinha do Jeremias e as trocas de experiência proporcionadas pelas vivências entre voluntárias/os e também com as/os moradoras/es do bairro Jeremias.
É importante destacar o trabalho das mulheres, pois elas são maioria, desde a produção das refeições até a busca pelo alimento para suas famílias. Algumas mulheres da própria comunidade se ofereceram para auxiliar na manutenção do trabalho coletivo, se juntando às lideranças dos movimentos sociais e sindicais na busca da sustentabilidade econômica das cozinhas, que está ameaçada, pois as doações foram diminuindo, por isso as mulheres da cozinha começaram a pedir doações, se mobilizando na busca de alimentos.
A cozinha, atualmente, conta com ajuda de uma equipe multidisciplinar, com a parceria de psicólogas/os, nutricionistas e professoras/es, que ajudam no desenvolvimento pessoal das/os voluntárias/os e até na qualidade da comida que está sendo produzida.
Com 9 meses de ocupação em janeiro de 2022, a cozinha solidária do bairro Jeremias continua firme, distribuindo refeições às famílias carentes, mesmo com as dificuldades oriundas da situação calamitosa em que se encontra o país com a alta nos preços dos produtos. Para isso, é exigido um esforço grande por parte do Comitê e, principalmente, do MST, que tem conseguido manter a doação de comida, mas em escala menor. O movimento vem doando toneladas de alimentos, mas não sabem até quando poderão manter a cozinha do bairro Jeremias; as doações diminuíram e, sem o interesse do Poder Público em ajudar, enfrentam essas dificuldades, mas continuam na luta para fazer sua parte. Com a baixa na oferta de alimentos e nas doações, e sem condições financeiras de suprir essa lacuna, a oferta das refeições passou a ser feita somente nas segundas, quartas e sextas-feiras.