Construção do Plano Municipal de Agroecologia e fortalecimento da rede agroecológica de Cametá/PA


O debate sobre Agroecologia e produção orgânica no município de Cametá ganhou um aliado – e um reforço discursivo e mobilizatório – com o lançamento da estratégia “Agroecologia nos Municípios”, proposta pela ANA.
Rede Jirau e IFPA, além de outros organismos governamentais, não governamentais e universitários já desenvolvem trabalhos em parceria com as organizações da AF, alguns deles dentro de uma perspectiva agroecológica. A iniciativa da ANA, portanto, soma-se a essas estratégias, que articulam comunidades produtoras e instituições.
A gestão municipal foi procurada e, desse contato, resultou uma agenda de debates com diferentes secretarias de governo e a participação de organizações produtoras, de assessoria e pesquisa.  
Nos últimos meses, em reunião na APACC convocada pela equipe da Rede Jirau, tomou-se a decisão de que uma proposta de política pública no campo da agroecologia não pode estar desconectada da estratégia de desenvolvimento rural do município; que precisa resgatar os acúmulos do movimento agroecológico local e avançar num desenho de programa que garanta a adesão do governo e, a um só tempo, traga autonomia aos empreendimentos econômicos. O formato do Plano Municipal, nesse sentido, resultante de uma construção coletiva/participativa e multisetorial, deve caminhar nessa direção, com finalização prevista para janeiro de 2022.
Um esboço das propostas a serem aprovadas no Plano deve ser apresentado por ocasião do VI Jirau Agroecológico, entre os dias 2 e 5 de dezembro, na cidade de Cametá.
Um dos fatos mais significativos nesse processo é o envolvimento dos coletivos articulados pela Rede, o que possibilita uma troca de experiências/perspectivas e certo entendimento sobre os desafios do desenvolvimento local, no que se insere a reflexão sobre o lugar da Agroecologia.
A elaboração do Plano está em curso. Um GT foi criado para dar conta dessa demanda e deverá apresentar uma primeira versão do texto até o final de dezembro deste ano. 

2. Antecedentes da experiência

2.1 Faça um resumo dos antecedentes da experiência que antecederam a iniciativa Agroecologia nos Municípios.

O município de Cametá, tal qual o de Igarapé-Miri, apresenta-se como um dos grandes produtores de açaí da região, de pescado e derivados da mandioca, entre outros produtos oriundos de uma economia doméstica. Trata-se de uma dinâmica produtiva em que se revela acentuada diversidade de produtos da agricultura familiar, de base orgânica/agroecológica, inclusive.  

Isto é fruto de uma longa tradição do campesinato, de processos formativos e de organização sociopolítica mediados pela Igreja Católica (até, pelo menos, o início da década de 2000) e de ações de fomento ao desenvolvimento local capitaneadas por ONGs, muitas em parceria com organismos universitários, combinadas com iniciativas governamentais desde a criação do FNO/PRONAF.

A formação de uma Rede de Produtores Multiplicadores, reconfigurada e ampliada, posteriormente, na forma da Rede Jirau é um claro indicativo de que há um “capital social” importante operando na socioeconomia do município. E um “capital” da diversidade produtiva, igualmente, tanto é que a Rede vem desenvolvendo ações relevantes nos últimos dez anos, sobretudo, a exemplo da Feira da Produção Agroecológica e Economia Solidária, promovida todos os sábados em espaço público/aberto da cidade e com grande aceitação popular.

O trabalho desenvolvido por um movimento agroecológico de Cametá, liderado pela Rede Jirau, com os incentivos da estratégia AnM, agora se apresenta como uma demanda ao governo local a fim de inspirar o desenho de uma política pública de agroecologia e produção orgânica.

A decisão foi consensuada em um encontro promovido pela Rede para apresentação do Projeto ANA a lideranças do governo municipal e dirigentes de organizações da AF, em junho deste ano.

O debate seguiu, amadureceu; reuniões foram realizadas (com o prefeito, com secretários, entidades, Câmara de Vereadores...), até que, recentemente, iniciou-se a elaboração do Plano, cuja síntese (em termos de propostas) deve ser apresentada no VI Jirau Agroecológico (encontro de integração das ações da Rede, pesquisa e debate no campo das políticas públicas e desenvolvimento territorial), entre os dias 2 e 5 de dezembro deste ano, na cidade de Cametá.  

3. Participação social e política na experiência de incidência

3.3 A experiência de incidência é realizada conjuntamente a organizações da sociedade civil (grupos, coletivos, organizações, movimentos sociais e outros)?Sim

Indique o perfil dos/as participantes da sociedade civil com quem a experiência de incidência foi articulada durante a iniciativa.

  • Grupos e coletivos
  • ONGs
  • Institutos Federais
  • Redes
  • Cooperativas e Associações

3.5 Em que âmbito se deu a participação da sociedade civil no processo de incidência?

  • Mobilização e fortalecimento de grupos da sociedade civil
  • Reunião com técnicas/os de órgãos públicos
  • Na redação/elaboração de políticas públicas
  • Na articulação com atores políticos (esfera municipal)

3.6 Dentre as pessoas protagonistas, marque o grupo com maior participação:Mulheres

3.7 Dentre as pessoas protagonistas, marque o grupo com maior participação:Pardos/as

3.8 Dentre as pessoas protagonistas, marque o grupo de faixa etária com maior participação:30 - 59 anos

3.10 Como você qualifica os espaços de participação social no município de incidência?Muito efetivos (participação substantiva durante todo o processo)

3.10. 1 Faça uma breve consideração sobre a qualificação dos espaços de participação social a partir da resposta anterior

Cametá já “produziu” muitas organizações e movimentos sociais. No atual contexto, entretanto, nota-se uma fragilidade no processo de participação e engajamento sociopolítico, em razão de uma conjuntura global de ataques e negação das lutas e resistências ao capitalismo.

Apesar disso, existe um “tecido social”/associativo bastante representativo da sabedoria popular que faz de Cametá um município com papel de liderança no conjunto das forças políticas da região.  

Um elemento que parece animador é o avançado estágio de construção do movimento agroecológico, em meio ao qual a Rede Jirau ocupa um lugar de protagonismo. 

3.12 Descreva os resultados e aprendizados do processo de participação da sociedade civil na experiência de incidência.

A inciativa proposta pela ANA vem colaborando com o debate sobre produção e consumo de alimentos orgânicos e de base agroecológica no município de Cametá. E isso recoloca na arena pública a questão da Segurança Alimentar e Nutricional enquanto direito que pode ser desvinculado de uma inclusão produtiva/econômica de base sustentável. Tudo isso tem possibilitado uma elaboração coletiva importante: indicativos em termos de ações e projetos que já sinalizam um desenho de política pública.

Esse debate pode “reinventar” um determinado espaço público cuja discussão, historicamente, transita entre práticas de associativismo/cooperativismo (recentemente chamadas de experiências de economia solidária) e os desafios econômicos do chamado “desenvolvimento rural sustentável”, passando pela questão da organização social e política dos camponeses. O tema da Agroecologia, apesar de todo acúmulo construído a partir da Rede Jirau, ainda reclama investimentos em termos de sensibilização social, não do ponto de vista acadêmico, mas de um comportamento que se traduza em mudança de vida e práticas de produção/consumo. Nesse sentido, os conteúdos e reflexões que estão sendo construídos no âmbito da estratégia AnM pode ser uma contribuição válida.

Percebe-se que alguns aprendizados estão emergindo nas relações que decorrem da incidência ora relatada, a saber:

§  A SAN é um direito humano, mas um direito que não pode comprometer os “direitos da natureza”;

§  A aposta nos produtos orgânicos e de base agroecológica é estratégica para o desenvolvimento socioeconômico do município;

§  A oportunidade de formação e/ou fortalecimento de redes de produtores e consumidores orgânicos deve ser abraçada como caminho para consolidação de territórios agroecológicos;

Não é possível continuar apenas com “experiências produtivas” isoladas, sem capacidade de incidir num determinado comportamento e imaginário social: é preciso avançar na elaboração de políticas públicas, comprometendo o Estado na implementação de mecanismos que estimulem ou fomentem um desenvolvimento com justiça social, econômica e ecológica.    

3.13 Descreva as fragilidades e desafios/dificuldades do processo de participação da sociedade civil na experiência de incidência.

Algumas fragilidades devem ser apontadas neste processo. São desafios à implementação de uma agenda de Agroecologia e produção orgânica enquanto desenho de política pública.

1.        A questão do “conhecimento agroecológico” ainda é um “domínio” muito mais dos acadêmicos, técnicos/assessores, gestores e dirigentes de organizações do que uma cultura socialmente reconhecida, resultando em baixo apelo popular pelos produtos orgânicos e de base agroecológica, inclusive porque a pauta da agroecologia antagoniza com uma forma de vida orientada pela lógica do fast food;

2.       Um interesse por monocultivos de açaí corroborado em razão de um assédio do mercado de exportações, segue colaborando para criar um entendimento de que a aposta na diversidade produtiva, interpelada pelas “exigências” do orgânico, “não é lucrativa” do ponto de vista econômico. Não é uma realidade sentida entre os coletivos da Rede, por exemplo, ou em outras formas organizativas locais, mas um cenário percebido em meio a um grande número de sujeitos que não estão nessas articulações;

3.       Um “ciúme político-institucional” ainda é sentido nos debates públicos. Quem conduz/representa? Quem produzia as ideias? De qual instituição vem o projeto? Criam-se tensões desnecessárias que enfraquecem e reduzem a capacidade de mobilização social.

Não há, até onde se nota, decisão consensuada no governo municipal de que a pauta da agroecologia é estratégica para o desenvolvimento do município. Há atores do governo que defendem essa premissa, sobretudo entre aqueles que têm relações com movimentos sociais. 

NomeInstituto Federal do Pará

Qual o papel da organização na iniciativa?

  • Apoiadora
  • Participante
  • Facilitadora do processo participativo

NomeAssociação Agroextrativista dos Moradores do Ajó

Qual o papel da organização na iniciativa?Participante

NomeRede Jirau de Agroecologia

Qual o papel da organização na iniciativa?

  • Facilitadora do processo participativo
  • Mediadora entre sociedade civil e poder público
  • Participante
  • Apoiadora

NomeAssociação de Apoio a Comunidades Carentes

Qual o papel da organização na iniciativa?

  • Participante
  • Facilitadora do processo participativo
  • Mediadora entre sociedade civil e poder público

NomeCooperativa de Mulheres de Cametá

Qual o papel da organização na iniciativa?Participante

4. Institucionalidade

4.1 Quais esferas públicas estiveram associadas?

  • Executivo
  • Legislativo

Indique o perfil dos/as participantes do Executivo com quem a experiência de incidência foi articulada durante a iniciativa.

  • Prefeita/o
  • Secretária/o Municipal

Indique o perfil dos/as participantes do Legislativo com quem a experiência de incidência foi articulada durante a iniciativa.Vereador/a

4.2 A experiência se deu de forma suprapartidária? Sim

4.3 A experiência se deu de forma intersecretarial/intersetorial? Sim

4.4 Houve envolvimento de conselhos municipais?Não

4.5 A experiência resultou em alguma institucionalização?Programa ou Projeto

Indique qual o nome e/ou número da norma ou instrumento de política pública.Plano Municipal de Agroecologia e Produção Orgânica (em andamento)

Qual o estado atual da norma ou instrumento de política pública?Não se aplica

Há orçamento para execução da política pública?Não

4.6 A experiência está relacionada a outras políticas públicas municipais?Não

4.7 A experiência está relacionada a alguma política pública estadual?Sim

Quais políticas estaduais?

PAA Estadual, gerido pela Secretaria de Assistência Social

4.8 A experiência está relacionada a alguma política pública federal?Sim

Quais políticas federais?

  • Programa Bolsa Família
  • Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
  • Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf)
  • Processos de Regularização Fundiária, Demarcação de Terras e Reforma Agrária
  • Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER)
  • Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)