Cestas Agroecológicas


A iniciativa denominada “cestas agroecológicas” foi concebida pela equipe do projeto de extensão “Agricultura urbana: jardinar para se emancipar” a partir de conversas com o agroecólogo egresso da UFPR Tiago Tischer Coelho, que atualmente trabalha na Secretaria de Meio Ambiente no Município de Matinhos e o técnico administrativo da UFPR Maurício de Sousa. Discutimos sobre a possibilidade de desenvolver iniciativas de amenização aos efeitos da pandemia do coronavírus (Covid-19) que entrou subitamente em nossas vidas. Mas vale lembrar que mesmo antes da chegada do COVID-19, milhares de pessoas, já, estavam enfrentando graves problemas referentes à segurança alimentar no Litoral do Paraná, devido aos acúmulos de perdas com a crise econômica pré-existente. Isso significa que a população local se encontrava em uma situação de crise extrema dentro do espectro da fome: pessoas debilitadas e despreparadas para defender-se dos efeitos do vírus.
Constatamos que as decisões dos agricultores sobre as áreas a serem plantadas e semeadas dependem de garantias de que conseguirão comercializar seus produtos a preços favoráveis, portanto de sua capacidade econômica e sua confiança em poder mobilizar mão de obra coletiva quando necessário. Os efeitos da pandemia afetaram os mercados e sistemas alimentares com a perda repentina e importante das compras governamentais da agricultura familiar, dos mercados para pequenos varejistas, feiras e assim com daqueles fortemente dependentes de seu abastecimento, devido as medidas de restrições de movimento dos consumidores, além da falta de vínculos de comércio eletrônico, ou seja, iniciativas ligadas a diversificação de mercado.
Com base neste cenário o projeto de extensão desenvolve a iniciativa de promover um grupo de consumidores que pudessem realizar suas compras levando em conta fortalecer os agricultores familiares do território. Ao mesmo tempo, incentivamos que os consumidores possam realizar contribuições por meio de doações as pessoas em situação de vulnerabilidade. Desta maneira, as doações são dirigidas a grupos de pessoas com dificuldades econômicas e riscos severos de segurança alimentar. Com as doações compramos dos agricultores familiares e compomos um conjunto de alimentos que denominamos “cestas agroecológicas”.
Com os contatos do Tiago Tischer na prefeitura de Matinhos identificamos a Associação Municipal dos Agentes Ambientais de Matinhos (AMAGEM) o primeiro grupo de pessoas em risco de segurança alimentar. A AMAGEM agrega coletores de material reciclável em Matinhos-PR, teve origem há mais de 15 anos, durante a atuação da Universidade Federal do Paraná em seus projetos de extensão. Neste processo, a Universidade esteve lado a lado com um grupo de trabalhadores que, alternando e substituindo seus sujeitos ao longo de um longo processo de consolidação, buscava regularizar suas práticas através da conquista de um local adequado para o tratamento dos resíduos coletados, e de uma lei municipal que versasse sobre este tipo de atividade. Embora demorado, o processo logrou êxito em seus objetivos iniciais, e agora a associação, a universidade e o poder público municipal têm um histórico de sucesso em suas parcerias, dados os passos trilhados ao longo das lutas da associação.
Com respeito a composição das cestas, estas são elaboradas normalmente com os seguintes alimentos: 5 kg de arroz, 2 kg de feijão, 2 kg de mandioca, 1 kg farinha de milho e/ou trigo, 1 kg de macarrão, 2 kg de banana, 1 kg de queijo, 2 litros de iogurte, no mínimo 05 verduras. O valor de referência é um pouco acima de R$ 130,00.
Com vistas a construir uma ampla possibilidade de escolha de alimentos buscamos iniciar nossas compras com os agricultores e parceiros institucionais que pudessem assegurar a logística e diversidade de alimentos. Nosso principal parceiro que apresenta tais critérios foi a  CCA – Cooperativa Central da Reforma Agrária do Paraná que reúne 19 cooperativas espalhadas pelo Estado e dialoga com outras de diferentes regiões do país. Neste sentido, a marca Produtos da Terra PR, cujo objetivo é fortalecer o vínculo campo-cidade nos propôs uma parceria ofertando seus produtos a um preço mais baixo que comercializado em outros locais. Os Produtos da Terra é uma rede colaborativa que une cooperativas agroecológicas e empreendimentos da Economia Solidária e consumidoras/es conscientes, que apoiam a Reforma Agrária, a Agricultura Familiar, a Agroecologia e a Economia Solidária conectando quem produz cooperativamente com quem consome conscientemente.
Logo, em seguida nossa meta foi construir parcerias com agricultores do Litoral, bem como com outras iniciativas ligadas a empreendimentos da Economia Solidária e agricultura urbana.
As pessoas atendidas e que receberam as cestas de doações foram contactadas para dimensionarmos suas capacidades em implementar hortas domiciliares e mesmo horta coletivas, ou seja, uma abordagem para aproximarmos de estratégias de segurança alimentar e promover uma relação com  abordagem da resiliência das cidades e uma recuperação de terrenos urbanos não ocupados e desta maneira incentivar o uso para fins de produção de alimentos e criação de renda.
As atividades de campo e de entrega dos alimentos, neste momento, consideradas como de risco, a exemplo de coletores, moradores de ruas, foram intensificadas. A mobilização de nossas redes de parceiros e a implementação de ferramentas digitais, hoje, permite a disseminação rápida e ampla de informações de prevenção e foco da atenção, o que diminui um pouco os limites impostos pelo afastamento social tão necessário. Verificamos dois requisitos de direcionamento das informações: por um lado, que as mensagens e ações adotadas respeitem os planos de resposta dos governos Municipais, Estaduais e das recomendações da Organização Mundial da Saúde; e por outro lado, que as formas de implementar essas ações sejam tão seguras quanto possível, tanto para as equipes de trabalho do projeto, quanto para as comunidades envolvidas. Nossos parceiros diretos, também são objeto de coordenação de atividades de trabalho aprimorado em riscos à saúde, principalmente para atividades relacionadas à coleta e tratamento de resíduos.
Por exemplo, ao conversarmos com os trabalhadores que participam da Associação Municipal dos Agentes Ambientais de Matinhos (AMAGEM), localizada no bairro Tabuleiro, Matinhos PR, nossas inquietações em torno dos coletores de material reciclável ampliaram-se, visto que pelo convívio com estes trabalhadores percebe-se o descaso das ações do setor público diante da ausência de políticas públicas específicas para este segmento. O período de confinamento tem sido marcado pelo desdém e pela falta de reconhecimento aos trabalhadores com os quais realizamos nossas atividades na comunidade, o que fica caracterizado com o visível aumento de materiais sólidos urbanos despejados em locais inadequados, ocasionando assim agravamento dos criadouros para vetores e arboviroses. De maneira imediata, com a pandemia de COVID-19, podemos constatar que quase uma centena de coletores e coletoras de materiais recicláveis tiveram que paralisar suas atividades por consequência das empresas que compram papelão separado e/ou prensado, bem como outras fontes de materiais recicláveis diminuíram suas atividades ou reduziram drasticamente o valor pago aos coletores, o que se refletiu rapidamente como perda ou redução da fonte de renda e trabalho desta importante parcela da população.

Anexos

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