Casas de sementes comunitárias e o resgate da diversidade de sementes locais no Ceará

Em 1987, em um evento do Programa de Formação em Agroecologia conduzido pelo Esplar – Centro de Pesquisa e Assessoria, representantes de diferentes localidades do Ceará refletiram a respeito da falta de sementes para o plantio provocada pela seca daquele ano. Nesse contexto, surgiu a idéia de se criar estoques de sementes e foram criadas 18 Casas de Sementes Comunitárias. Em 1991, foi fundada a Rede de Intercâmbio de Sementes do Ceará (RIS-CE) que, atualmente, é composta por 130 Casas de Sementes distribuídas em 15 municípios do estado, tendo aproximadamente três mil agricultores e agricultoras associados e beneficiando indiretamente 14.840 pessoas. Um exemplo de bom funcionamento do projeto é a Casa de Sementes de Barra Cancão, município de Canindé-CE. Para dar início ao trabalho, sócios e sócias estabeleceram quais as necessidades do grupo, levando em conta a quantidade e a diversidade de sementes disponíveis. A partir daí, estipularam a quantia que poderiam tomar emprestado para o plantio do seu roçado e o percentual de acréscimo que seria cobrado na devolução. Todos os anos, no início do período chuvoso, agricultores e agricultoras da Comunidade de Barra Cancão sabem onde tomar sementes emprestadas para plantar. Após a colheita, as sementes são selecionadas e devolvidas à Casa. O armazenamento é feito em silos e/ou garrafas de plástico tipo PET, e o estoque é controlado pela coordenação local, composta por homens e mulheres. Para isso, são utilizadas fichas de entrada e saída de sementes, cadastro de sócios e sócias e recibos comprovantes de empréstimo e devolução. As Casas de Sementes integradas à RIS-CE têm em seus estoques 25 variedades de milho, 40 de feijão, além de outros cultivos como gergelim, mamona, sorgo, moringa, fava, girassol, jerimum, melancia, melão, pepino, arroz, algodão, amendoim, quiabo e diversas espécies de plantas nativas e medicinais.