Casal muda sua história na Zona da Mata: Moacir e Damiana decidiram trabalhar com agrofloresta e transformaram sua terra.
No assentamento Santo Elias, no município de Sirinhaém, Região da Mata Sul de Pernambuco, o casal José Moacir e Damiana Francisca trocou a cana-de-açúcar pelos Sistemas Agroflorestais (SAFs). A mudança trouxe qualidade de vida para a família, segurança alimentar e geração de renda. A experiência acontece numa área de 30 hectares, onde Moacir e Damiana dividem atividades e moradia com as famílias de seus dois irmãos e do seu pai, Sebastião Pedro da Silva, de 84 anos.
Entre 1980 e 2006, a principal atividade agrícola do casal era a monocultura da cana-de-açúcar. “Plantava e moia a cana, mas o preço dos insumos era muito caro. Por conta disso, antes de entregar a cana, já tinha acabado o dinheiro e ainda tinha que pegar dinheiro emprestado”, lembra José Moacir. A mudança aconteceu quando Moacir conheceu os agricultores e as agricultoras que comercializavam na Feira dos Produtores Agroecológicos de Sirinhaém (FEPAS), e passou a visitar e acompanhar a área de seu Zé Caboclo, um agricultor agroflorestal.
As conquistas com a agroecologia
Com a aproximação junto às famílias da feira agroecológica, em 2006, o casal começou a participar de intercâmbios e reuniões realizadas pelo Centro Sabiá.Conheceram várias experiências de agricultores e agricultoras que trabalham com agrofloresta. Os novos conhecimentos foram logo colocados em práticas, e mudança têm trazido conquistas par a família. “A gente vivia há 18 anos em uma casa de taipa. Moacir falava que dava vergonha trazer alguém aqui. Com a venda de mudas e de polpas de frutas construímos uma casa nova”, conta Damiana.
A nova residência, de alvenaria, possui sete cômodos. O abastecimento de água da casa é feito pela força da gravidade. A água vem de uma nascente do próprio sítio, que surgiu após a recuperação de uma área de encosta com o sistema agroflorestal. As mudanças têm influenciado os dois irmãos de Moacir, que também trabalhavam com a cana-de-açúcar, mas que agora estão investindo na agricultura agroflorestal.
A Produção Agroflorestal
A agrofloresta de José Moacir possui mais de 35 espécies produtivas. É dela que sai o alimento da família e a geração de renda, já que parte da produção é comercializada na FEPAS. Para a feira Moacir leva cerca de 20 produtos não beneficiado como coco, banana, laranja, macaxeira, entre outros. Beneficiado ele leva polpas de seis tipos de frutas. De acordo com Moacir, as culturas mais lucrativas, pelos critérios de volume e frequência de produção, são a macaxeira e a banana. Foi com a renda da feira que o casal já conseguiu comprar uma despolpadeira de frutas.
O escoamento da produção até a cidade é apontando como um problema, pela péssima condição das estradas, especialmente durante o período chuvoso, o que dificulta a passagem dos transportes.
Além da FEPAS, o acesso a uma importante política pública favoreceu à família de Moacir em 2011. Trata-se do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, do município de Sirinhaém, Pernambuco. O contrato feito junto ao agricultor garantiu a comercialização de 900 kg de polpa de frutas durante o ano.
No sítio, também tem criação de peixes, aves e abelhas. Tudo isso complementa a alimentação da família. “Na época da cana, era tudo comprado. Agora tenho condições de produzir boa parte dos alimentos que a minha família consome. E os alimentos que eu não tenho, troco com outros agricultores da Feira”, explica Moacir.
Fortalecido pela articulação junto a outros agricultores/as, Moacir participa da diretoria da Associação dos Agricultores do Engenho São Vicente, do Conselho Municipal de Sirinhaém, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Sirinhaém e da Rede de Agroecologia da Mata – RAMA.
Quem visita a propriedade de Moacir e Damiana não deixa de escutar sua história de mudança na lida com a terra e na vida. Tudo, depois que começaram a trabalhar com a agrofloresta. Além da boa produção, da recuperação do solo e das nascentes de água. Moacir ter orgulho de mostrar o seu viveiro de mudas, que também lhe gera renda. Atualmente o viveiro conta com 40 mil mudas, de 26 espécies nativas, disponíveis para distribuição e comercialização. Em 2010 José Moacir se engajou na Campanha “Junte-se a nós, plante mais uma árvore para um mundo melhor, fazendo o reflorestamento das nascentes de água e doando mudas para outras famílias agricultoras plantarem nos seus sítios.