Barragem subterrânea: a experiência da família de seu Inácio

Seu Inácio Tota é um agricultor familiar que vive e trabalha no Cariri da Paraíba. Mora com Maria da Glória, sua esposa, e três filhos no sítio Lajedo da Timbaúba, município de Soledade. A família de seu Inácio desenvolve muitas experiências em suas terras. Plantam milho, feijão, algodão, capim, cana, leucena e gliricídea. Criam gado, ovelhas, bodes, galinhas, perus, guinés e abelhas. No sítio tem banana, coco, goiaba, pinha, graviola, batata, cajú, umbu. Possuem ainda campos de palma consorciada. Para armazenar a ração para os animais fazem silo sincho e trincheira. Possuem cisternas de placas, barreiro, poço artesiano a cata-vento. No entanto, seu Inácio se destaca por ser um grande mestre na construção de barragens subterrâneas. Em 1999, seu Inácio e outros companheiros foram fazer uma visita de intercâmbio ao CAATINGA, em Ouricuri (PE), aonde ficaram conhecendo a experiência da barragem subterrânea. O agricultor conta que rapidamente se encantou pela barragem e logo que voltou fez uma em suas terras. "Lá é uma região mais seca do que a minha, aí foi um privilégio conhecer a barragem" - conta seu Inácio, que já viajou bastante e trabalhou muito em obra, o que lhe permitiu aprender a construir a barragem sem maiores dificuldades. Agora ele explica como construir uma barragem. A BARRAGEM SUBTERRÂNEA: Primeiro, devemos procurar a descida da água e analisar o solo, que tem que ter profundidade. Se este for raso, não vale a pena construir, pois acumula pouca água; se for profundo, dá ate para fazer um açude debaixo do chão. Depois temos que procurar uma área mais estreita no riacho para fechar as ombreiras. Para fazer uma barragem, temos que olhar também o espelho do desenho da barragem. O ideal é uma área mais plana, um baixio de meio a um hectare, que será atingido pela barragem. Depois de escolher o melhor local, temos que marcar a vala que servirá de alicerce. Para marcar o balde usamos a mesma referência na ombreira da barragem. Para isso, basta bater uma linha de nível de um ombro ao outro. A barragem subterrânea pode ser feita com barro batido ou com lona plástica. A barragem feita com barro leva mais tempo e depende muito do solo. Ás vezes pode não ter barro suficiente para fechar a vala. A barragem feita de lona é mais rápida, prática e barata. Caso optemos pela de barro batido, devemos então cavar uma vala de 50 centímetros de largura. Temos que cavar até chegar no solo impermeável, ou seja, até o barro duro. No meio dessa vala, cavamos ainda uma espécie de funil com aproximadamente 15 centímetros de largura e uns 20 centímetros de profundidade. Esse funil servirá para ajudar a prensar o barro batido. Devemos começar com camadas pequenas (10 centímetros) para não dar passagem para a água. Para construir a barragem com lona, devemos cavar uma vala de 80 centímetros de largura, ideal para fazer a colagem da lona e o acompanhamento do fechamento da vala. Depois de cavar até o solo impermeável, temos que fazer uma pequena vala de 20 centímetros de altura no pé da parede contrária do caminho da água, para assim chumbar a lona. Com essa vala molhada, colocamos então a ponta da lona e enchemos de cimento. Para esticar e prender com maior eficiência a lona, devemos esticar a lona na corda, para assim ficar mais fácil puxar ela para dentro da valeta sem que embole. Temos que fazer também um sangrador para a barragem. O ideal é que a gente respeite o caminho natural da água. Temos que medir dois pontos nesse local para levantar duas paredes e chumbar o sangrador com a lona dentro. É Melhor que esse sangrador seja ladrilhado ou cimentado. O restante da barragem é fechado com barro batido, que também é usado para prender a lona plástica em toda sua extensão. Depois basta aguardar a chuva chegar e plantar muito. Devemos plantar árvores com raízes profundas ao lado da barragem; no meio, dá até para plantar arroz na época de chuva. Segundo seu Inácio Tota, a barragem subterrânea possui inúmeras vantagens em relação às outras barragens com espelho d'água. Diminuímos ainda o efeito do vento e do sol, além de evitarmos a evaporação. Seu Inácio Tota conta como a vida de sua família mudou depois que conheceu a experiência da barragem subterrânea. Têm conseguido armazenar legumes, seu rebanho está saudável e ainda compraram mais um pedacinho de terra. Sabem e desenvolvem inúmeras experiências e ainda possuem o coração aberto para ensinar para outros agricultores e agricultoras tudo aquilo que eles tiveram a oportunidade de aprender.