Associação para o Desenvolvimento de Alternativas de Geração de Trabalho e Renda São Benedito
Frente ao contexto histórico do Planalto Serrano de Santa Catarina de expropriação das famílias agricultoras de suas terras e meios de produção, as mulheres da comunidade de Beneditos, no município de Cerro Negro, iniciaram, em 2004, a organização de um grupo com o objetivo de buscar alternativas de renda.
Este processo organizacional teve apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Anita Garibaldi, município vizinho, através de ações regionalizadas. Em sua fase inicial, o grupo obteve apoio através do projeto “Combate à Pobreza Rural no Sul do Brasil”, coordenado pelo Centro de Elaboração, Assessoria e Desenvolvimento de Projetos (CESAP) e pelo Departamento de Estudos Sócio-econômicos Rurais (DESER). As ações visaram desenvolver atividades manuais como pintura, crochê, confecção de acolchoados de lã e confecção de roupas - todas realizadas de forma coletiva como alternativa na busca de renda. Através deste projeto, o grupo recebeu assessoria para a formação da associação, cursos para as atividades manuais, assim como máquinas de costura.
Com este processo de organização, em 2005 o grupo se inseriu na Rede de Agroecologia do Território Serra Catarinense, que naquele momento estava elaborando projetos de apoio às organizações a ela vinculadas através do Pronaf Infraestrutura. Buscava-se adquirir máquinas e equipamentos para os grupos que desenvolviam atividades de agroindustrialização e artesanato. A demanda levantada à ocasião foi a estrutura física para o grupo desenvolver suas atividades artesanais e abrigar suas máquinas.
Em 2006, através de uma parceria com o STR e o Centro Vianei de Educação Popular, iniciou-se um trabalho de produção agroecológica, visto que as mulheres do grupo eram agricultoras e também desenvolviam atividades de produção juntamente com seus familiares. A produção ecológica começou com o milho e o feijão, na maioria dos casos em áreas arrendadas.
Posteriormente, visando diminuir os custos de produção e a dependência de insumos externos, principalmente no que tange a produção de sementes, começou-se um trabalho de resgate e melhoramento de sementes de milho crioulo. O grupo participou de um projeto da Rede de Agroecologia proposto pela Cooperativa Ecológica Ecoserra para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), para compra e doação simultânea de sementes. Através desta parceria, foram produzidas 6 toneladas de sementes de 09 variedades crioulas de milho.
Ainda em 2006, o grupo foi beneficiário de outro projeto através da Rede de Agroecologia: o Programa de Promoção da Igualdade de Gênero Raça e Etnia (PPIGRE). Através deste projeto, o grupo recebeu máquina de bordado, máquina de costurar couro e teares. Paralelamente, o grupo envolveu-se em ações de formação de um outro projeto chamado “Gênero, Agroecologia e Educação Popular”. Através deste projeto, as agricultoras receberam assessoria do Centro Vianei para a formação de Agentes em Gênero.
Posteriormente, em 2008, o grupo assumiu o desafio de instalar um pequeno quintal agroflorestal de forma comunitária para desenvolver práticas de produção agroecológica. A iniciativa teve o apoio do Subprograma Projetos Demonstrativos (PDA), do Ministério do Meio Ambiente, e foi motivada pela preocupação com a segurança alimentar e com a restrição das áreas destinadas ao autoconsumo em função da construção de novas moradias.
O espaço de quintal foi cedido por uma das mulheres do grupo. Anteriormente, a pequena área era destinada à manutenção de um cavalo usado pela família. Devido às dificuldades financeiras para cercar o espaço com tela, as mulheres usaram uma técnica de isolamento com a reciclagem de garrafas PET.
Nesta área as mulheres produziram uma diversidade de produtos como cenoura, beterraba, couve, almeirão, milho, feijão-de-vagem, ervilha, couve-flor, salsa, cebola verde, abobrinha, tomate, brócolis, pepino, moranga, entre outras. Além das espécies hortícolas, avaliou-se a importância de se plantar em consórcio outras espécies frutíferas, com ênfase para as nativas da região como, por exemplo, uvaia, pitanga, cereja e guavirova. Valorizou-se ainda nesse sistema agroflorestal a presença do pinheiro-brasileiro (Araucária angustifolia). Esta estratégia buscou aliar também a adequação ambiental, visto que as moradias se localizam em áreas de preservação permanente (margens de rios). Através do projeto PDA, o grupo recebeu mudas de espécies nativas, hortaliças e sementes.
Como resultado da primeira safra, o grupo conseguiu colher alimentos não somente para o autoconsumo: o excedente foi fornecido para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), gerido pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), totalizando uma receita de R$ 10.500,00. O programa previa a compra e doação simultânea dos alimentos para pessoas com risco de insegurança alimentar, e os produtos foram entregues na própria comunidade, dando prioridade às famílias com idosos e crianças.
Aliadas à produção, ocorreram também atividades de educação alimentar visando melhorar a saúde e consequentemente a qualidade de vida das famílias agricultoras através do cultivo dos alimentos ecológicos.
Atualmente, todas as mulheres do grupo estão procurando desenvolver a produção em seus pequenos espaços de quintal com o intuito de garantir a alimentação familiar, mas também de dar continuidade ao fornecimento para o PAA e comercializar em uma feira local, que está sendo articulada no município com as organizações da Rede de Agroecologia. O início do funcionamento da feira está previsto para dezembro de 2010.
Como resultado de sua organização, o grupo aponta a importância de hoje possuir um espaço próprio para suas atividades artesanais, muito bem equipadas. As mulheres se reúnem uma vez por semana para desenvolver estas atividades, que além de gerarem uma renda extra, são momentos de trocas, de lazer e de reforço dos laços afetivos e comunitários.
O envolvimento com agroecologia proporcionou o resgate da produção para o autoconsumo, a inserção no mercado e mais uma fonte de renda. Mais que isso, entretanto, promoveu o reconhecimento e a valorização da organização em nível local e regional, através do exercício da cidadania. Essas mulheres hoje fazem o gerenciamento de suas atividades, intervêm nas tomadas de decisões e se relacionam com o mercado através da economia solidária, preservando sua identidade e tradições culturais.