2.1 Faça um resumo dos antecedentes da iniciativa.
Com o início do Projeto Paulo Freire no Território de Sobral, no Ceará, em 2015, foi possível o acompanhamento de aproximadamente 1.400 famílias agricultoras em situação de pobreza e extrema pobreza em 32 comunidades de 16 municípios. O Projeto Paulo Freire (PPF) foi um programa financiado pelo Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrícola (FIDA), via Governo do Estado do Ceará, especificamente a Secretaria do Desenvolvimento Agrário, e executado pelo Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador (CETRA) por meio de um edital público.
O projeto teve como foco principal o desenvolvimento produtivo e capacitação, buscando fortalecer as estratégias de convivência com o semiárido, a agroecologia, a segurança alimentar e nutricional, e promover a igualdade de gênero e raça/etnia e o protagonismo e expressão das juventudes rurais. Além de um intenso processo de mobilização das famílias, foi dada ênfase à valorização dos saberes das/dos agricultoras/es procurando a sua consolidação como forma de enfrentar as causas que geram a fome e as desigualdades das populações do semiárido.
Essas comunidades pouco ou nunca tinham recebido assessoria técnica. Após 1 ano e 8 meses de Projeto Paulo Freire, com a assessoria técnica do CETRA, voltada para a agroecologia, é possível referenciar um marco nessa trajetória, que foi o 1º Encontro Territorial de Agroecologia e Socioeconomia Solidária de Sobral (ETA). O ETA teve a seguinte temática: “Agricultura Familiar e Convivência com o Semiárido: Expressões da Agroecologia no Território de Sobral”. Foi realizado entre os dias 20 e 22 de junho de 2017, em Sobral, com 200 participantes, e contou com uma intensa programação: debates, intercâmbios, cortejo e a 1ª Feira Agroecológica e Solidária de Sobral.
Nesse sentido, dos 10 intercâmbios realizados no ETA, 6 foram das comunidades acompanhadas pelo PPF, o que reflete que essas experiências foram fortalecidas com o Projeto. É importante frisar que essas experiências foram sistematizadas pelo CETRA e disponibilizadas para as famílias no ETA. O CETRA trabalhou no Território de Sobral, por vários anos, na perspectiva da convivência com o semiárido por meio do programa de cisternas de primeira e segunda água. Nesse período, constata-se que existem muitas/os agricultoras e agricultores familiares experimentadoras/es no território precisando serem visibilizadas/os em seus modos de vida, práticas e ações nas suas comunidades e municípios.
O PPF foi o grande potencializador dessa nova dinâmica construída pelo CETRA, na qual todo processo de diálogo com as famílias foi na perspectiva da construção do conhecimento coletivo, tendo como ponto de partida a realidade das famílias agricultoras, seus conhecimentos, seus hábitos e sua vida.
O surgimento da feira se deu a partir de um esforço coletivo da equipe do CETRA/PPF, parcerias construídas com os Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs) e Prefeituras, que acreditaram na organização de um grupo, a partir dos potenciais que as comunidades possuem. Dessa forma, foram mobilizados com as famílias os produtos que mais se relacionam com a cultura da região, os que são produção local, e os que surgiram com o processo de assessoria técnica do CETRA.
Outra questão importante é o levantamento de produtos que estavam de acordo com as normas de produção orgânica/agroecológica vigentes, não sendo cultivados com agroquímicos nem fertilizantes químicos, nem produzidos e/ou beneficiados com produtos sintéticos, como conservantes. Dessa forma, a autonomia das famílias é um atributo de sustentabilidade essencial para que elas não tenham uma dependência de insumos externos para produzir e para que fortaleçam a gestão de seus agroecossistemas. O trabalho com agricultoras/es experimentadoras/es é um método que desperta a família para a construção coletiva do conhecimento, para a resolução de seus problemas a partir da criatividade, da troca de experiência entre os atores locais por meio principalmente de intercâmbios.
Após a 1ª Feira Agroecológica e Solidária, realizada na Praça de Cuba, em Sobral, foi feito um processo de avaliação com esse grupo, discutindo-se o interesse nessa continuidade. O balanço foi positivo e as/os agricultoras/es mostraram interesse em continuar realizando Feiras Agroecológicas e Solidárias, além de constituírem uma Rede de Agricultoras/es Agroecológicas/os e Solidárias/os de Sobral. Nesse caso, a agregação dessas/es agricultoras/es e suas organizações se dá em um momento de reflexão sobre a territorialidade e a importância da agroecologia como um movimento que valoriza os saberes, constrói conhecimento, forma capacidades e protagoniza essas famílias nos espaços políticos existentes. Foram articulados alguns intercâmbios e encontros, e a presença de outras/os agricultoras/es nesse processo coletivo de construção foi essencial para fortalecer o grupo e consolidar a Rede até os dias de hoje.
O CETRA, através do PPF, realizou um trabalho de assessoria técnica agroecológica em municípios do Território de Sobral, e deu apoio à construção de projetos de investimento produtivo nas comunidades, visando apoiar estratégias de produção das famílias agricultoras, valorizando seus saberes e garantindo a segurança e soberania alimentar e nutricional, bem como o excedente da produção e a comercialização em diversos espaços, principalmente em feiras agroecológicas e solidárias.
O início dessa experiência se consolidou no 1º ETA, realizado em Sobral, e foi acordado com o grupo a realização de uma Feira Agroecológica para escoar a produção e melhorar a renda das famílias, além de dar visibilidade à expansão da agroecologia e da produção agroecológica.
A implantação das diversas tecnologias sociais de convivência com o semiárido se deu por meio dos programas governamentais e da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), nos agroecossistemas familiares, gerando autonomia e aumento da produção de alimentos saudáveis. Podem-se destacar, além das cisternas de primeira e segunda água, as tecnologias de biodigestores associados à criação de porcos e os reúsos de águas cinzas associados à criação de galinhas caipiras.
A Rede de Agricultoras/es Agroecológicas/os e Solidárias/os de Sobral foi uma consolidação de uma referência a nível territorial para todas as experiências agroecológicas da agricultura familiar, conseguindo fortalecer as experiências existentes e fomentar a criação de outras.
Um exemplo disso é a comunidade de Morro Branco, em Aracatiaçu, onde se comercializava artesanato em palha. A partir de 2018, a Rede ajudou as artesãs a buscarem a feira e até hoje está dando certo. E isso também favoreceu a participação em outras feiras em outras comunidades.
Foi feito um intercâmbio com a Feira de Agroecologia em Itapipoca, o que animou para que se iniciasse a feira em Sobral.
Como as agricultoras tinham os seus quintais produtivos e teriam produção para comercializar, foi uma ação que conseguiu escoar a produção dessas famílias, além de unir mais produtoras/es e consumidoras/es.