Agrofloresta na escola


Agrofloresta na escola


A produção de alimentos dentro do organismo floresta é uma prática tradicional dos povos mais antigos. No Brasil, essa produção em meio a mata foi adotada até a chegada dos portugueses, que através de uma visão eurocêntrica, modificaram as relações de uso do solo e de produção até então aqui estabelecidas. Assim, florestas exuberantes foram tidas como uma barreira natural para a ocupação territorial e expansão das fronteiras. Além disso, os saberes e práticas dos povos originários passaram a ser vistos como um empecilho para o ideal de exploração econômica dos ibéricos.  Recuperar esses saberes ancestrais faz-se necessário, haja vista que, essa prática antiga de agrofloresta é uma das saídas para superarmos os problemas socioambientais oriundos do modelo civilizatório e econômico adotado.
Pautada nos princípios da agricultura sintrópica, idealizada pelo suíço Ernst Götsch, a produção agrícola dentro do sistema agroflorestal, busca a recuperação de solos degradados através de processos naturais que permitem, para além da regeneração da fertilidade, uma consequente elevada produtividade associada a uma grande diversidade de espécies (GOTSCH, 1996).
Neste sistema não há a artificialização de processos naturais, mas sim a potencialização destes para promover uma produção sem prejudicar a fertilidade e biodiversidade local. Além disso, ao conciliar o plantio de árvores com a produção de alimentos, aumenta-se o potencial do sequestro de carbono, uma vez que a área de ocorrência de agroflorestas passar a ter uma maior capacidade para fixar esse gás através das árvores e do solo que permanece constantemente coberto ora por espécies arbóreas, ora por culturas alimentícias ou ainda por espécies de adubação verde.
Nas palavras de STEENBOCK & VEZZANI (2013, p.24) “Fazer agrofloresta é identificar as estruturas e os mecanismos de funcionamento da vida no local de fazer agricultura, “ocupando o nicho” humano por meio do manejo agroflorestal e orientando o sistema para a produção de alimentos e outros produtos em meio à produção de biodiversidade”.
Assim, a produção dentro dos princípios ecológicos que regem os SAFAs, também busca promover a saúde e a qualidade de vida dos agricultores e dos consumidores, pois tem como pressupostos uma produção biodiversa, livre do uso de agrotóxicos e a promoção da soberania e segurança alimentar.
Contudo, para além de uma mudança do atual modo de produção, é necessário também que a sociedade seja mais consciente em sua forma de consumir, evitando o desperdício e buscando por opções mais sustentáveis e saudáveis de alimentos.
É nesse sentido que a escola desempenha um papel fundamental. Ela ainda é um dos maiores espaços de promoção da conscientização. Transcende a transmissão do conhecimento científico historicamente acumulado, visando a formação de cidadãos críticos e conscientes, capazes de levantar problemáticas e propor soluções para tais.
O município de Nova Aliança do Ivaí, onde foi desenvolvido o projeto em questão, embora seja formado por diversas pequenas áreas rurais, possui uma tradição em favorecer a monocultura, fato que se comprova ao longo de sua história, uma vez que os pioneiros que se instalaram na localidade tinham o objetivo de formar grandes plantações de café que foram substituídas em seguida pela produção agropecuária e as formações de pastagens. A instalação de uma usina alcooleira no município vizinho e a possibilidade de arrendamento das terras, mais uma vez mudou a paisagem, sendo tomada pelos grandes canaviais.
A prática das queimadas da palha de cana-de-açúcar, o uso contínuo de agrotóxicos, o arrendamento de propriedades para a produção monocultora, a mecanização do campo e o consequente desemprego fazem parte da realidade do público envolvido nesse plano de ação.
Ao trazer esta temática para dentro da sala de aula, a professora Rose Hélida, da disciplina de Geografia do colégio Estadual Dr. Caetano Munhoz da Rocha, propôs aos alunos uma visita ao pátio do colégio onde há um pequeno e recente plantio de mandioca feito nos moldes convencionais, ou seja, com uso de agrotóxicos, fertilizantes e no sistema de monocultura.
 “Ao pé” deste plantio, foram levantados alguns problemas como a degradação do solo pela retirada da vegetação e a consequente diminuição de absorção do gás carbônico, o uso de agrotóxicos, o risco de perder-se a produção no caso da ocorrência de alguma praga, ou intempérie e o tempo de espera para a colheita da cultura (aproximadamente 12 meses). Diante destes problemas, os alunos foram instigados a apontar soluções para tais. Entre as soluções apontadas destacam-se o plantio orgânico livre de agrotóxicos, uma maior variedade de cultura agrícola e a proteção do solo com cobertura vegetal. Posteriormente a esse momento de problematização, foi apresentado aos alunos o sistema agroflorestal agroecológico (SAFA) como opção ao modelo convencional de produção de alimentos. Após discutir os benefícios do SAFA para a saúde do solo e do alimento, a professora sugeriu aos alunos a implantação de um canteiro agroflorestal piloto em uma pequena área do pátio do colégio (aproximadamente 260m²). 
Com a aprovação da proposta, em meados do mês de julho de 2019, deu-se início à implantação deste projeto piloto. No mês de julho de 2019 foi realizada nas dependências do colégio, uma reunião com os representantes de alunos, de pais, da EMATER e das secretarias municipais de meio ambiente, de infraestrutura e de agricultura, para apresentação da proposta de implantação de um canteiro agroflorestal piloto no colégio. Ao final da reunião a proposta foi aprovada por todos os participantes e neste momento várias parcerias foram firmadas.

Assim, juntamente com os alunos, pais e as parcerias estabelecidas, foi elaborado e implantado um canteiro agroflorestal piloto, com aproximadamente 260m² Com 13 metros de comprimento e 20 de largura, o canteiro agroflorestal se dividi em 4 linhas (de 1 metro) voltadas para a produção de frutas e madeira e 4 entrelinhas (4 metros), subdivididas em pequenos canteiros voltados para a produção de hortaliças.
As espécies inseridas nas entrelinhas foram: alface roxa, alface crespa, alface americana, alho poró berinjela, brócolis, cebolinha, cenoura, coentro, couve, mamão, mandioca, rabanete e rúcula. As espécies inseridas nas linhas foram: banana prata, acerola, jabuticaba, limão taiti, pocã, pupunha e Guaritá.

Tal diversidade foi possível graças ao espaço e tempo de ocupação diferenciado de cada espécie no SAFA. Essa combinação de plantas permite um aproveitamento máximo do canteiro. Por exemplo, rúcula e rabanete foram colhidos com 35 dias, alface com 45 dias, brócolis será colhido com 90 dias, e assim sucessivamente até chegarmos na colheita mandioca, do mamão, da banana cujo tempo produção é acima de 1 ano. No entanto, durante essa espera, várias culturas foram colhidas e serviram de alimento para os alunos.
Essa produção contínua do canteiro foi um dos benefícios que mais despertou a atenção dos envolvidos no processo, além do uso da matéria orgânica da bananeira e de podas de árvores realizadas na cidade para proteger e adubar o solo ao invés de fertilizantes. Outro elemento que foi levantado pelos alunos foi a questão da autonomia e segurança alimentar, uma vez que, diferentemente de uma produção monocultura, caso alguma espécie sofra alguma injúria, existem inúmeras outras dentro do canteiro.

Vários resultados positivos foram alcançados com este projeto. Os alunos se tornaram protagonistas desde o momento de implantação do canteiro agroflorestal até o momento das colheitas das espécies de ciclo curto e seu posterior consumo na merenda escolar. Houve um grande envolvimento de pais e responsáveis, além das parcerias que foram estabelecidas ao longo do trabalho. 

Referências  
GOTSCH, E. O Renascer da Agricultura. Tradução: Patrícia Vaz. 2ªed. AS-PTA, 1996.
STEENBOCK, W.; VEZZANI, F. M. Agrofloresta: aprendendo a produzir com a natureza. Curitiba:  Fabiane Machado Vezzani, 2013.


1. Identificação

Nome da organização que está registrando a experiênciaColégio Estadual Dr. Caetano Munhoz da Rocha de Nova Aliança do Ivaí/PR

3. Identificação do tipo experiência

Selecione o tipo de experiênciaEnsino-pesquisa-extensão

Se envolve ensino, indique qual(is) o(s) tipo(s) de curso(s)Nível médio

Se envolve pesquisa, indique a área principal da pesquisaEducação

Se envolve pesquisa, o grupo está cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq?Não

Se envolve extensão, indique a área principal da extensãoAmbiental

Se envolve extensão, o grupo encontra-se formalmente institucionalizado junto à pró-reitoria de extensão da instituição de ensino?Não

4. Sujeitos

Você considera que a experiência tem uma atuação em Rede? Não

Sexo - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • Feminino
  • Masculino

Faixa etária - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • De 7 a 14 anos
  • De 15 a 29 anos

Se há uma faixa etária com maior participação, indiqueDe 15 a 29 anos

6. Localização e abrangência espacial

Esta experiência está sendo cadastrada pelo celular (via aplicativo ODK Collect)? Não

7. Práticas em saúde e agroecologia

Práticas Agroalimentares (produção/beneficiamento/consumo)Agrofloresta

Esta prática é considerada uma tecnologia social pelos protagonistas da experiência? Sim

O que estimula a adoção dessa(s) prática(s)?

  • Participação em redes de aprendizados e conhecimentos
  • Curso de capacitação e treinamento

8. Políticas públicas

Caso a experiência tenha acessado uma ou mais políticas públicas brasileiras, indiqueNenhuma

9. Resistências e ameaças

Há conflito(s) ambiental(is) no(s) território(s) onde essa experiência acontece?Não

11. Estratégias de Comunicação e Anexos

Que tipo(s) de ferramenta(s) utiliza para divulgar a experiência e se comunicar com os envolvidos?

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