Agroecologia e universidade: para além do silenciamento
O objetivo central desta investigação é, a partir do processo de construção de oficinas de Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS), analisar a produção de saberes e práticas em torno da agroecologia, tendo como fios condutores a sociologia das ausências, a sociologia das emergências, a ecologia de saberes e a tradução, propostos por Boaventura de Sousa Santos (2010). Pretende-se, com base em uma sociologia das ausências, compreender como o conhecimento agroecológico é produzido como não existente na universidade e demonstrar se e como os cinco modos ou lógicas das quais deriva esta não-existência operam, sendo: monocultura do saber, monocultura do tempo linear, lógica da classificação social, lógica da escala dominante e lógica produtivista. Assente na sociologia das ausências proposta por Santos, a presente pesquisa tem o duplo objetivo de exercitar a imaginação acerca das possibilidades de ampliação da reflexão sobre a agroecologia na universidade, por um lado; e fortalecer o vir a ser dos atores sociais que pautam suas lutas pelos princípios agroecológicos, por outro. Trilhar o caminho proposto pelas sociologias das ausências e das emergências no escopo desta investigação significa, em uma via, identificar quem e o que vem sendo silenciado no campo epistemológico da agroecologia, e através de que artifícios; em outra via, significa construir uma lógica que permita vislumbrar possibilidades de expressão destes silenciamentos e imaginar um mundo onde estes deixarão de sê-los. Esta pesquisa configura-se como uma pesquisa-ação e pretende se desenvolver a partir de quatro procedimentos metodológicos. O primeiro procedimento metodológico será a elaboração de uma cartografia destes atores sociais no estado de São Paulo, de modo a garantir a voz principalmente àqueles que comumente são privados dela. Um mapa cuidadoso deverá ser elaborado, tendo como fontes de pesquisa universidades, conselhos estaduais, bancos de dado oficiais, informantes-chave, literatura disponível, entre outras. Um forte processo de articulação e mobilização prévia com estes sujeitos deverá ser conduzido, constituindo o segundo procedimento metodológico. Conforme a metodologia da UPMS, este procedimento deve despertar neles o interesse para a participação, além de ser importante por possibilitar a visualização de possíveis parceiros para a execução das oficinas e seleção de participantes. O terceiro procedimento metodológico será a realização em si das oficinas de UPMS. O desenho das oficinas, sua duração, data e local, entre outros, deverá ser feito no decorrer da pesquisa e de acordo com as percepções e informações levantadas nas etapas anteriores. O acompanhamento a posteriori das possíveis conexões a articulações construídas durante as oficinas e suas intencionalidades, conseqüências e efetividades será feito por tempo determinado, compondo o quarto procedimento metodológico.