Agroecologia e Sagrado Feminino - círculo de mulheres
A presente descrição objetivou sistematizar as impressões e expressões do grupo de acadêmicas matriculados no módulo curricular “Agroecologia e Sagrado Feminino” envolvendo cursos de Serviço Social, Tecnologia em Agroecologia, Turismo e Hospitalidade do Setor Litoral, Universidade Federal do Paraná, município de Matinhos, PR, formado por 11 mulheres. A metodologia pautou-se em rodas de conversa, com atividades de expressão artística por desenhos, poesias, textos, artesanato como formas de captação e compreensão da concepção do feminino e a apreensão de incorporação de novas perspectivas e atitudes enquanto ser mulher e profissional em formação.
A temática foi proposta pela professora do curso de Tecnologia em Agroecologia Gabriela Schenato Bica e coordenada por ela e pela professora também do curso de Tecnologia em Agroecologia Cristiane Rocha Silva e divulgada como atividade optativa para os estudantes da UFPR.
A motivação inicial era dar visibilidade à ação da mulher no campo da Agroecologia, no entanto, o grupo que se matriculou no módulo foram estudantes do período noturno, que manifestaram curiosidade sobre a Agroecologia e formas de intervenção no trabalho social com mulheres, ou para si mesmas.
A partir desse diagnóstico inicial, foi realizado um planejamento participativo dos encontros e das motivações das mulheres, suas potencialidades de expressão, auto-estima e auto-conhecimento.
Os resultados do estudo evidenciam a importância significativa do espaço na formação pedagógica e humana de acadêmicos na reflexão dos condicionantes sociais que regulam a liberdade de expressão e exercício dos direitos nas diferenças de gênero.
A metodologia do estudo consistiu na realização de rodas de conversa semanais durante o primeiro semestre de 2019, totalizando 15 semanas, cada encontro com a duração de 3 horas aproximadamente.
O obteve inscrição por adesão de 11 mulheres estudantes.
O primeiro encontro objetivou apreender a percepção sobre o termo “Sagrado Feminino” para o qual utilizou-se a técnica de mapa mental, a partir dos desenhos que as mulheres elaboraram da sua concepção para o termo “Sagrado Feminino” e associaram com suas histórias de vida e os objetivos pessoais de participação no grupo.
O segundo encontro consistiu na personalização de um diário com tecidos, botões, desenhos, colagens com o objetivo de trazer para fora a capacidade de criação e identificação com a obra da mesma forma que apreensão de um objeto de reflexão e auto-cuidado do seu ciclo fisiológico.
O terceiro encontro foi realizado uma aproximação sensorial com a planta Camomila (Matricaria Recutita), buscando a partir do desenho e colagem identificar a expressão de características físicas e psicológicas da camomila. Problematizando a visão construída da planta como frágil “florzinha para chazinho” e seu potencial medicinal para as questões femininas. Socializando a experiência de Palmira Margarida no seu texto sobre as rodas de Camomila como um fator de libertação da mulher dos condicionamentos de culpabilização e opressão. O grupo adotou a prática do preparo e consumo do chá de Camomila durante as rodas de conversa semanais.
Do quarto ao nono encontro ocorreu com a contação de histórias e incorporação da personagem “contadora” com lenços, saias, adereços ser um facilitador da expressão. Cada mulher escolheu uma história do livro Mulheres que correm com lobos para fazer sua leitura e releitura na contação da história. No décimo encontro realizou-se uma celebração para mãe Terra e o estudo do consumo do fruto da Juçara, como uma fonte de ferro e fortalecimento feminino. A partir do décimo primeiro encontro ao décimo quinto iniciou-se uma série de dinâmicas que evidenciavam o amor próprio e a rede de mulheres, a dinâmica do espelho na caixa para o auto-olhar, fotos de partes do corpo, incentivo aos cuidados diários dedicados assim e a elaboração coletiva de um mural coletivo de bordados, que foi apresentado como síntese no Festival das ICHs realizado no final do semestre.
Relatos de observação:
1) A expressão do feminino no primeiro encontro: Desenhos
A centralidade no ciclo reprodutivo, a integração com a mãe terra, a busca pelo equilíbrio.
2) O potencial criativo interno: personalização do diário
A realização na criação e no exercício na criatividade; a satisfação com a identificação.
3) Aproximação sensorial da Camomila
Os desenhos refletem os paradoxos fragilidade e força; luta e acolhimento; beleza e ausência de amor-próprio; ambiente externo (ciclo lunar) e recolhimento; inteireza e despedaçada; desenho padrão e ousadia.
4) Definição da imagem do grupo nas redes sociais, whatssapp – A Mulher conectora A imagem escolhida a partir dos arquétipos da Deusa para identificação do grupo manifestou uma intenção compartilhada pelo grupo de mulheres.
o papel conector da ICH das mulheres entre si, sua própria essência, seu corpo e o entorno, suas potencialidades em conectar com as causas humanas em seus diferentes aspectos ambientais, sociais e produtivos.
5) A contação de histórias como forma de expressão, os adereços como uma forma de liberação, a reflexão sobre os condicionamentos que silenciam as mulheres, o lugar da raiva, dos desejo, da fala nos espaços sociais foram reflexões propiciadas pelas releituras realizadas pelas estudantes dos capítulos do livro Mulheres que correm com lobos de Clarice Estés Pinkola.
6) As dinâmicas de se olhar, se tocar, deixar-se fotografar, se cuidar despertaram um sentimento de acolhimento entre as mulheres e amorosidade no grupo, demonstrando a importância dos coletivos de mulheres com uma perspectiva de incentivo e fortalecimento umas das outras.
7) o artesanato e os trabalhos manuais foram uma importante forma de expressão e intermediou as diferenças de idade, gênero, formação e história. Trouxe movimento, cor e energias aos encontros.
Os relatos das estudantes nos possibilita observar que a participação na roda de conversa valoriza os ciclos femininos, prepara a mulher para reconhecer seus momentos de potencial criatividade, limites de desgaste físico e cuidados preventivos com a saúde do próprio corpo;
A compreensão dos condicionamentos sociais do papel feminino fortalece a autoestima e a estrutura psíquica da mulher influenciando no comportamento diante de situações de violência.
O reconhecimento da potencialidade do ser feminino empodera a mulher para ocupação e atuação no espaço privado por escolha própria.
Os encontros semanais que ocorreram no período da manhã no primeiro semestre de 2019 com 11 mulheres, se desdobraram em dois módulos a) Sagrado Feminino e b)Sacerdotisas de Si, respectivamente no período da manha e da tarde com o dobro de participantes em cada módulo. O que ressalta a demanda por esse espaço de formação entre as estudantes do Setor Litoral, UFPR.
Referências
Estés, Clarissa Pinkola Mulheres que correm com Lobos : mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem – 1 ed. Rio de janeiro: Rocco, 2014.
Morgan, Ethel A Deusa em nós: dez maneiras de ser mulher; trad. Audrey Maia; ilustrações de Amanda Gallego. _ Curitiba: Arte Editora, 2019.
Blazquez Graf, Norma. El retorno de las brujas : incorporación, aportaciones y críticas de las mujeres a la ciencia / Norma Blazquez Graf. – México : UNAM, Centro de Investigaciones Interdisciplinarias en Ciencias y Humanidades, 2008.
Palmira Margarida Mulheres Camomila: a libertação da culpa Disponível em https://medium.com/@palmiramargarida/mulheres-da-camomila-a-liberta%C3%A7%C3%A3o-da-culpa-3d72d22f3f9e Acesso em março de 2019.