Ações de acompanhamento técnico, articulação e trocas de experiências voltado para práticas agroecológicas
A existência de iniciativas agroecológicas / agroflorestais integradas a ocorrência de remanescentes de Mata Atlântica e à realidade sócio-econômica de agricultores familiares e assentados rurais, em conjunto com o plantio de sistemas agroflorestais em áreas de gestão pública, o intercâmbio de experiências e a posterior adequação das técnicas pelos agricultores familiares são condições que favorecem o desenvolvimento de sistemas agroflorestais adequados à produção da pequena unidade familiar agrícola.
Na Baixada Litorânea podemos relatar a conjugação de diversos fatores favoráveis à implantação e ao desenvolvimento desse tipo de sistema produtivo, quais sejam a existência de significativas áreas com remanescentes secundários e primários de Mata Atlântica; a existência de agricultura familiar representada por comunidades de Assentamentos de Reforma Agrária, de Remanescentes Quilombolas e de agricultores tradicionais ocupando áreas descampadas e degradadas adjacentes a áreas de preservação permanente e de unidades de conservação. A agricultura praticada nesta região se caracteriza como de subsistência, valendo-se da mão-de-obra familiar, sendo a banana, o feijão, o milho, o inhame e o aipim as principais culturas, embora a maioria dos agricultores possua também pequenas criações de animais, principalmente gado. Devido às condições de relevo acidentado, e a grande quantidade de áreas de preservação permanente, a agricultura nesta região vem causando fortes impactos ambientais, que refletem diretamente no potencial produtivo dos solos e conseqüentemente na produtividade das lavouras, além de gerar alguns problemas com a legislação ambiental, levando os agricultores desta localidade à insatisfação e ao desestímulo, influenciando a saída dos agricultores para as áreas periféricas das cidades próximas.
Buscando atenuar tais problemas, uma parceira envolvendo técnicos da Secretaria de Agricultura e Pesca de Casimiro de Abreu (SMAP), da Agrojardim e da Associação Mico Leão Dourado (AMLD), verificaram junto aos assentados de Aldeia Velha e da Fazenda Visconde, assim como junto aos produtores da região serrana de Casimiro de Abreu, uma forte demanda por alternativas de produção agrícola, mais viável e adequada às condições sociais e ambientais da região. Tais entidades trabalham na orientação de técnicas e princípios agroecológicos/agroflorestais junto a alguns destes produtores, realizando atividades que estimulem a capacitação e a troca de experiências entre os mesmos, visando a implantação de sistemas agroflorestais em suas propriedades, assim como o incremento de renda e da qualidade de vida destes agricultores.
Na caminhada desta parceria aconteceu, a partir de 2005, o envolvimento dos técnicos e agricultores da região com o movimento agroecológico estadual composto por outras regiões também com as suas práticas agroecológicas características. Este envolvimento resultou na constituição e identidade da Articulação de Agroecologia Serramar (AASM), tendo o projeto “Desenvolvimento participativo de metodologias e processos de construção do conhecimento agroecológico no Estado do Rio de Janeiro”, coordenado pela Universidade Federal Fluminense e pela Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro, como um instrumento condutor das suas ações.
Este projeto visa desenvolver metodologias de identificação, mapeamento, sistematização e intercâmbio de experiências em agroecologia, dinamizando redes locais e regionais de construção do conhecimento agroecológico e potencializar a articulação entre diferentes ações de ATER e ATES desenvolvidas no Estado do Rio de Janeiro, gerando capacidades técnicas e metodológicas voltadas à qualificação e ampliação destas iniciativas, tendo como ponto de partida as experiências desenvolvidas pelos agricultores familiares em nível local.
A AASM também participa de um outro projeto, desta vez articulado com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e outros parceiros, (Campo e Campus – Jovens rurais/quilombolas protagonizando o fortalecimento da agricultura familiar e a construção do conhecimento agroecológico no estado do Rio de Janeiro) objetivando estimular os jovens rurais a procurarem caminhos de formação de qualidade, favorecendo a sua ação como protagonistas do fortalecimento da agricultura familiar em bases agroecológicas e promovendo a permanência juvenil no campo.
São exemplos de atividades desenvolvidas nos últimos anos com os agricultores familiares das referidas comunidades: realização de vários diagnósticos participativos, utilizando principalmente uma metodologia de diagnóstico e desenho, com a confecção de mapas da unidade produtiva e a identificação de características ambientais; realização de cursos de capacitação; viagens de intercâmbio; estímulo à realização de mutirões agroflorestais, valorização do artesanato e do mercado local, reuniões de planejamento e o encontro de agroecologia local.
A SMAP, além de apoiar estas práticas, mantém áreas agroflorestais no Sítio Agrícola, cultivando principalmente café, pupunha, frutíferas e olerícolas.
Assim, em Casimiro de Abreu e Silva Jardim, nos assentamentos rurais de Fazenda Visconde, Cambucaes, Aldeia Velha, e no acampamento Sebastião Lan II, existem cerca de quinze famílias de agricultores familiares, sendo pelo menos 7 mulheres, cultivando em sistemas agroflorestais, baseados nos fundamentos sucessionais. Estes tem tentado e experimentado novas formas de se organizar para melhor comercializar os produtos advindos destas lavouras. Os principais meios de comercialização dos produtos agroecológicos são as feiras locais em Casimiro de Abreu e em Silva Jardim, além das vendas no sistema de porta em porta, sempre atendendo uma clientela fiel.
Além dos produtos gerados nas lavouras agroecológicas, outros produtos tem sido comercializados pelos agricultores, como o artesanato em fibra de bananeira e sementes florestais e derivados do leite. A adoção desse sistema em suas propriedades vem também contribuindo para a recuperação dos recursos hídricos e da paisagem característica da região, sendo estes os grandes potenciais turísticos para o desenvolvimento econômico sustentável da nossa região. Estas práticas agroecológicas são constantemente visitadas por outros agricultores e técnicos de regiões próximas, estudantes universitários e de escolas públicas.
Assim, espera-se que as dificuldades e problemas do difusionismo das técnicas agrícolas possam ser superados já que a construção coletiva do conhecimento agroecológico por meio da valorização e estímulo às trocas de experiências envolvendo técnicos e agricultores são as principais ferramentas metodológicas utilizadas. Contudo, a carência de recursos financeiros e humanos e as complicações sócio-ambientais da região, são alguns dos entraves ao processo de difusão agroflorestal, dificultando que mais produtores adotem tal sistema de cultivo.
Recentemente, com a mudança dos gestores públicos destes municípios tem ampliado as dificuldades já que não há uma clareza das propostas abrangentes da agroecologia, taxando-as como práticas de insucesso na geração de renda e na comercialização em escala dos centros de abastecimento estaduais.