Ação Emergencial Mulheres e Crianças em Vulnerabilidade Social - Covid-19


A Ação Emergencial Mulheres e Crianças acabou se tornando uma ação pela demanda, não foi algo que eu pensei que viraria um projeto. Eu comecei a auxiliar algumas mulheres através de um grupo de ajuda nacional via Facebook. Depois decidi escrever um texto sobre essas histórias, relatos dessas mulheres que eu estava lendo, publiquei esse texto na minha rede pessoal de Facebook e um amigo me ofereceu 4 cestas básicas. Eu não possuo carro, então meu próximo passo, além de selecionar as 4 famílias que receberiam os alimentos, foi conseguir uma carona, primeiro para buscar as cestas e depois para levar até as famílias. Chegando até as casas dessas mulheres eu vi que a situação era terrível, faltando tudo, inclusive gás, fraldas para as crianças, leite, roupas, calçados, produtos de higiene e limpeza, etc. E assim começou, além desses itens que citei e das cestas básicas, eu levava outros alimentos, pois percebi que apenas uma cesta básica era muito pouco sem contar a pouca diversidade de alimentos. Elas sempre me pediam leite, as crianças dessas famílias ainda tomam muito leite (no super sempre dei preferência para compra o leite do MST). Outra coisa que elas pedem muito é o que elas chamam de mistura, aquele mucilon. Eu colocava nas cestas vários tipos de farinha (aveia, mandioca, milho), enlatados, mais grãos, e para muitas famílias levei carnes, legumes, frutas, ovos e pães. Levei máscaras para todas as famílias, para adultos e crianças. Ao todo foram 50 famílias auxiliadas, 49 chefiadas por mulheres. A média de filhos era de 4 a 6, quase sempre crianças pequenas. A grande maioria de mães solo. O maior desafio era dar conta de organizar tudo, além de falar com doadores, falar com as famílias para entender suas necessidades, ir buscar as doações, ir comprar tudo que faltava para completar as cestas, fazer tudo de carona, depois organizar cada entrega, pois eu fazia uma entrega personalizada para cada família (separando desde roupas, cobertas, calçados e brinquedos, além dos alimentos). Fiz tudo isso apenas com a ajuda do meu companheiro, ele saía para fazer as coletas e eu as entregas (com alguma carona de amigo). E passávamos as madrugadas enquanto nossos dois filhos pequenos dormiam organizando tudo para a entrega. Fizemos coletas e entregas todas as semanas, de abril a agosto. Dessas 50 famílias acredito que mais da metade eu tenha ido cerca de 3 vezes, teve famílias que fui levar esse auxílio 5 vezes. Minha motivação foi ler os relatos de mães desesperadas dando água com açúcar pras crianças. Depois chegar em suas casas e ver as condições. É um trabalho muito difícil, que exige 100% do nosso físico e mental. Outra dificuldade é encontrar pessoas com o perfil para esse trabalho. Como fazíamos de carona nem sempre a pessoa por mais que tenha bom coração nem sempre aquele trabalho é para ela, pois além de ser um trabalho pesado às vezes pode ser perigoso dependendo da região. Acredito que eu ter empatia por essas famílias me fez realizar esse trabalho, mas ao mesmo tempo eu senti um peso muito grande. Eu não tive dificuldade para conseguir doações, na verdade eu até divulguei pouco pois era impossível falar com tantos doadores. Mas o que complica é saber que por mais que você se desdobre em mil você não vai na verdade conseguir resolver aquele problema pois é algo muito grande e profundo mesmo. Você vai conseguir amenizar a fome daquelas crianças, ou o frio, por duas semanas, um mês, mas aquela família vai continuar precisando. A situação do país é terrível, e nossos governantes deveriam oferecer o mínimo de dignidade para as pessoas, dar formas/meios para que essas mães com seus 5 filhos pequenos possam ter alguma orientação/forma de sobreviver com dignidade.

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