A turma do Pequi
Nos Gerais das Minas, a cerca de 25 quilômetros da sede do município de Montes Claros, fica a comunidade Abóboras. Lá crianças e adolescentes estão descobrindo as riquezas do cerrado e a importância do trabalho e da preservação da natureza. É a Turma do Pequi que, de forma animada, ajuda a construir alternativas para o futuro e para a permanência na própria comunidade, amando e respeitando o cerrado.
Dona Maria Madalena Oliveira Leite, mais conhecida pela turma por Tia Nenza, é da Pastoral da Criança e secretária da associação da comunidade. Ela conta que as crianças e os adolescentes eram uma preocupação muito grande. Nas férias, muitos ficavam nas ruas e nos barezinhos jogando sinuca. Além disso, eram poucos os que se interessavam pela preservação ambiental e pelas riquezas do cerrado. A maior preocupação estava relacionada à dúvida sobre qual será o futuro do campo se os jovens não se interessarem por ele.
Foi aí que resolveram fazer um projeto para criar uma ocupação que pudesse ensinar as crianças e adolescentes sobre as potencialidades da região. Por meio do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, o CAA-NM, do qual Dona Nenzinha também é diretora, foi elaborado um pequeno projeto e apresentado para a Coordenadoria do Extrativismo do Ministério do Meio Ambiente. Para a alegria de todos, o projeto foi aprovado.
No início eram 12, agora já são 22 crianças e adolescentes de 17 famílias participando. Eles se reúnem e, acompanhados, vão para o cerrado onde fazem o extrativismo do pequi, que depois é também beneficiado pelo grupo. Outros frutos nativos também são coletados. Esse trabalho é muito importante para os povos tradicionais da região, pois garante renda deixando o cerrado em pé.
Seu Jair, nascido e criado na comunidade, é considerado o professor do cerrado. É ele quem acompanha a garotada nas chapadas, fazendo com que a coleta do pequi seja sempre uma aula. As crianças e adolescentes vão conhecendo desde as plantas medicinais, sua utilização e como preparar as frutas nativas, até os pássaros da região e orientações para não se perderem no cerrado. Para seu Jair, o símbolo do trabalho na comunidade é o pequi, que deve ser preservado. Ele observa que “antes a garotada vivia para cima e para baixo a toa, e agora eles ficam ajudando e aprendendo”.
A turma se divide em grupos: os catadores, os selecionadores, os sanitizadores, roletadores, tiradores de filhotes, branqueadores e seladores. Laurinéia Fernandes dos Santos, de 18 anos, conta que quando os sacos estão empacotados e selados, vão para o congelador para esperar o carro da Cooperativa Agroextrativista Grande Sertão. Essa cooperativa é formada por famílias agricultoras do Norte de Minas e é responsável pela comercialização dos produtos. Depois que é vendido, o dinheiro é dividido entre todos que participaram. Os outros frutos do cerrado, como o coquinho-azedo e o panã, também são entregues à Cooperativa, que os despolpa e comercializa.
Durante as atividades, os jovens aprendem a importância do trabalho em equipe e da preservação do cerrado, que é um laboratório vivo. Antes, muitos não sabiam, por exemplo, que o pequi serve para fazer polpa. Muitos outros aprendizados foram adquiridos à partir das visitas na chapada, não só sobre as frutas, mas também sobre as plantas medicinais.
Todo esse trabalho tem estimulado a permanência das famílias no campo e a valorização das comunidades tradicionais. As crianças e adolescentes da comunidade estão se engajando e fortalecendo o trabalho, que fica mais bonito pelo fato de ser coletivo.
É também importante ver os frutos do esforço de pessoas como Tia Nenza e seu Jair. Eles provaram que com poucos recursos, mas com muito empenho, é possível desenvolver um projeto tão interessante que consegue mobilizar toda a comunidade, principalmente crianças e jovens: trabalhando com educação ambiental, preservando e aprendendo a respeitar e conhecer o cerrado e toda a sua agrobiodiversidade como fonte de vida, de sobrevivência dos povos e comunidades tradicionais do Norte de Minas Gerais.