A semente que caiu em terra boa: a trajetória de um movimento social em defesa da agrobiodiversidade
Em 1993 um ciclo de discussão foi aberto na região Centro-Sul do Paraná com a proposição da AS-PTA de dar início a um programa voltado para a promoção da sustentabilidade da agricultura familiar. Desde então, em 1995, organizações se congregam no Fórum das Organizações de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Centro-Sul do Paraná com o intuito de defender e promover um projeto de desenvolvimento rural fundamentando nos princípios da agroecologia. Um grupo regional de 120 agricultores-experimentadores dedicados a esse tema se reúne duas vezes ao ano para intercambiar suas experiências, aprofundar seus conhecimentos e avaliar e planejar as ações nos municípios. Com base na ação desse grupo, o programa está atualmente enraizado nos 22 municípios da região e mobiliza diretamente quatro mil famílias. Após alguns anos, o resultado mais visível é a mudança de percepção das próprias famílias agricultoras a respeito de suas variedades crioulas, que deixam de ser semeadas apenas nas grotas, barrocas e roças de toco para assumirem um papel central na composição dos sistemas produtivos. Essa revalorização do patrimônio genético repassado através das gerações de agricultores da região resultou no resgate de 138 variedades de milho, 141 de feijão, 26 de arroz, 25 de mandioca e 12 de batatinha, além de ampla diversidade de espécies de cereais de inverno, hortaliças, condimentos, frutíferas, plantas medicinais e ornamentais e raças crioulas de suínos e galinhas. Além da multiplicação de sementes crioulas, que se faz de forma descentralizada pelas famílias e organizações comunitárias informais, os grupos de experimentadores articulados pelo Fórum implantam campos que produzem em média 300 toneladas por ano. Muitas das variedades resgatadas vêm sendo pesquisadas sistematicamente por esses grupos através da caracterização fenotípica e de ensaios de avaliação agronômica e degustativa. Em um encontro municipal de agricultoras, em 1999, na comunidade de Pinhalão, União da Vitória, foi concebida a idéia de criar uma Feira de Sementes Crioulas para favorecer o livre intercâmbio das variedades entre as famílias e comunidades. Desde então, as feiras municipais e regionais são realizadas anualmente, totalizando uma participação de 12 mil pessoas. No âmbito estadual, duas outras iniciativas ajudaram na revalorização da agrobiodiversidade: as Romarias da Terra e a Jornada de Agroecologia. As romarias mobilizaram multidões em torno de momentos de celebração, mística, festividade, troca de experiências e manifestação política. Já a Jornada da Agroecologia é resultado de ampla articulação de organizações do estado que atuam na luta pela terra e pela agroecologia. Desde o gesto fundador de Acir Tullio, em 1993, esse movimento social se disseminou e vem espalhando suas sementes pelo Centro-Sul do Paraná.