A propriedade de Selma e Cecé: transição agroecológica.
Cecé trabalhava de meeiro quando recebeu por herança, um pedaço de terra cerca de 8 hectares, no final da década de 70. Nesta época ele pegou um empréstimo através do antigo IBC- Instituto Brasileiro do Café para formar a primeira lavoura. O IBC fornecia financiamento para produtores rurais,mas exigia que se usasse a adubação que seus técnicos recomendavam. Na ocasião devido ao excesso de adubo, os pés carregaram demais a produção foi alta, mas a lavoura se desgastou muito e quase morreu, ficou improdutiva por 3 anos. Outra experiência veio logo em seguida. Em 1992, com o dinheiro que conseguiu com o café,a família comprou um outro pedaço de terra.Como o terreno ficava muito longe,ele foi revendido para adquirir um trecho mais próximo da sede, com 10 hectares por influência dos filhos, a família planejou formar nessa área uma lavoura maior. Para isto pegaram empréstimo,desta vez com um atravessador,e plantaram cerca de trinta mil pés de café. Para infelicidade da família, entre 2001 e 2002 o preço do café caiu muito, chegando a R$60,00 a saca. Cecé e Selma ficaram com grande prejuízo, assim como muitos outros produtores na região. Esse foi um momento de grande dificuldade,pois foram obrigados a se desfazer de muitos bens para pagar a dívida com o agiota. Venderam o carro, todas as criações e parte do terreno,que seria dos filhos.
Depois que a tempestade passou era hora da família erguer a cabeça, avaliar os prejuízos e buscar uma solução para os problemas. Aterra estava muito fraca, pois o manejo recomendado pelos técnicos sugeria muita capina e muitos produtos químicos.
Nessa época o sindicato, em parceria com o Centro de tecnologias Alternativas(CTA) promoveu diversos encontros ensinando um modo diferente de cuidar da terra. A família gostou da idéia e resolveu experimentá-la. Deixaram algumas árvores na lavoura,passaram a usar mais adubos orgânicos e a roçar e mato sem capinar.
Cecé observou a partir daí a terra foi melhorando bastante, exigindo cada vez menos adubos químicos. Outra mudança foi na produção, pois a família incentivada a ter de tudo um pouco, começou a produzir uma diversidade de outros produtos além do café.
Além das bananeiras,podemos observar na lavoura outras plantas consorciadas com café: frutíferas como limão, laranja, mexerica, toranja, manga, mamão, abacate- e outras árvores, como ingá, fedegoso, jatobá, imbaúba, capoeira branca, mulungu, alecrim do campo, farinha seca e paineira. Essa variedade permite que os animais visitem a lavoura sem prejudica - lá.
No sistema da família os passarinhos são companhia e não uma praga. Lá pode se encontrar tucanos, sanhaços, sabiá, tico-tico, pica-pau, entre outros. O "chau", que estava extinto na região, voltou a enfeitar a propriedade.Há também visitas de tatus, gambás, cachorro-do-mato e jaguatiricas.
A diversificação da propriedade tem trazidos outros benefícios para o sistema. As árvores e a bananeiras ajudam a melhorar aterra, porque deixam nela muita matéria orgânica que protege o solo e dá nutrientes para as plantas. A sombra que elas fornecem ajuda também a melhorar a qualidade do café, que está amadurecendo mais tarde, com grãos mais cheios e de maneira mais uniforme. A produção é praticamente constante ano a ano e, para completar Selma e Cecé não precisam mais trabalhar no sol.
A família é cuidadosa também com o entorno da casa. No pomar há uma variedades de frutas que são também comercializadas. Por exemplo, tem uma figueira que dá muita fruta, gerando 200 quilos de doce de figo todos os anos. Na horta, além da diversidade de hortaliças, podemos ver muitas plantas medicinais, que auxiliam na cura de muita doenças.
O lixo era um grande problema para a família, e não tinha onde descartar os materiais sem utilidade. A solução, que tem dado certo, foi separar o lixo e vender para empresas de reciclagem. Além de limpar o ambiente, essa prática tem contribuído para afastar os bichos indesejados e ainda gera um dinheiro.
A família não é mais dependente da renda gerada pela lavoura do café, pois produz uma diversidade maior de outros produtos que atende as despesas de casa e ainda são comercializadas de várias formas. Uma das formas mais significantes é na feira livre, aos sábados onde vende hortaliças, abacate, feijão manga, banana, goiaba, laranja, mexerica, galinha, ovos e as deliciosas quitandas feitas por Selma, uma variedade de bolos, biscoitos, pães e doces.
A maior parte das bananas produzidas vão para uma fábrica de doces. Cecé vende banana também para um mercado de Divino e para o CEASA, que busca o produto em sua propriedade. Hoje a banana é uma das principais fontes de renda da família com mais de 2000 pés plantados no meio do café. A produção de banana também é diversificada: tem prata,maçã comum, maçã do pará, ouro, nanica, da terra e banana pão. Após colher a banana, Cecé pica bem a bananeira para facilitar a decomposição.