A experiência do Grupo Agroextrativista do Cerrado com plantas medicinais
O trabalho com plantas medicinais é um dos grandes destaques do Grupo Agroextrativista do Cerrado. O coletivo é constituído por 12 famílias agricultoras residentes no assentamento agroextrativista “Americana”, no município de Grão Mogol, norte de Minas Gerais.
Seu João Altino Neto, um dos membros do grupo, deve ao pai, de quem herdou a tradição de “raizeiro”, o grande conhecimento que tem das plantas medicinais do Cerrado. Maria Elei Souza, atual presidente do grupo, também já tinha adquirido muitos conhecimentos em um curso promovido no município de Porteirinha pela Associação Casa de Ervas Barranco de Esperança e Vida (ACEBEV), há cerca de 13 anos.
Quando a terra do assentamento foi conquistada, há cerca de seis anos, estes agricultores começaram a organizar o grupo para, entre outras atividades, manejar, coletar e produzir plantas medicinais para a fabricação artesanal de remédios. À ocasião, além dos agricultores, outros dois raizeiros do assentamento foram identificados e aderiram à iniciativa.
Mas embora houvesse entre os agricultores muitos conhecimentos sobre as propriedades medicinais das plantas da biodiversidade local, foi através da assessoria de Honório Dourado, técnico do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA-NM), que eles aprenderam técnicas de processamento das ervas para a fabricação de tinturas, xaropes, pomadas, chás, além de cuidados com a coleta e a secagem das plantas. Novas propriedades farmacêuticas de diversas plantas também foram aprendidas, tanto com Honório como nos diversos eventos dos quais membros do grupo têm participado.
O trabalho com plantas medicinais é todo feito de forma coletiva pelo grupo: desde a coleta das plantas “no mato” até o processamento e envase. Através de projeto aprovado com a ajuda do CAA-NM, conseguiram comprar equipamentos como armário, caldeirão, tacho, vidros, isopor, botas, luvas e toucas. Além da extração de nativas, cujo cronograma também é organizado coletivamente, as famílias cultivam diversas espécies de ervas medicinais.
Entre as plantas nativas coletadas no assentamento estão a cagaita, pau-terra, carqueja, salva-vida, pacari, arnica, umburana, angico-vermelho, aroeira, barbatimão, malva-rosca, rufão, canguçu, velame-branco, carapiá, assa-peixe branco, jatobá do campo, quina-de-papagaio, violeiro, unha d’anta, alecrim-da-vargem, chá-podre, quina-de-vara, papaconha, raízes-de-perdizes, trucisco, barrigudinha, miroró, braço-forte, ruibarbo, gonçalo-alves, ipê-amarelo ipê-roxo, cura-olho e pequi.
Entre as plantas medicinais cultivadas estão 3 variedades de hortelã, poejo, capim-santo, erva-cidreira, alfavaca, alfavacão, alecrim, gergelim, girassol, calêndula, babosa, boldo-do-chile, arruda, chá-da-índia e sálvia.
Hoje o grupo produz mais de 40 tipos de remédios formulados, alguns dos quais combinando várias plantas medicinais.
Os remédios são usados pelas famílias que compõem o grupo e comercializados em feiras e encontros. Há também pessoas que vão ao assentamento para comprá-los diretamente dos agricultores.
Eles calculam que a comercialização dos medicamentos caseiros renda uma média de R$ 300,00 por mês, que são distribuídos entre as 12 famílias do grupo. Mas ressaltam que o lucro maior que têm é não mais gastarem dinheiro nas farmácias: muito raramente compram remédios industrializados.
Eles ainda destacam que o conhecimento adquirido e cultivado pelas famílias do grupo tem ajudado a preservar o cerrado. Por exemplo, na região usava-se tradicionalmente a raiz da arnica para fins medicinais. A planta tinha que ser arrancada para a obtenção da raiz e a espécie estava sumindo. Através dos cursos e intercâmbios os agricultores aprenderam a usar a parte aérea da planta e com isso a espécie está sendo preservada. Outro valor observado sobre o trabalho em grupo é que os conhecimentos sobre as plantas medicinais está sendo repassado para os filhos e familiares dos agricultores e difundido pela comunidade.
Em breve, tanto as plantas medicinais como as frutas também coletadas e produzidas pelo grupo começarão a ser processadas na Unidade Multiuso de Beneficiamento de Frutos do Cerrado, obra já em andamento viabilizada através de projetos aprovados com a Fundação Banco do Brasil, o Programa de Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS) e a Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço).