Rede de Agricultores/as Agroecologico/a e Solidario/a dos Vales do Curu Aracatiaçu



No ano de 2005, um grupo de 54 agricultores e agriculto- ras dos municípios de itapipoca,Trairi,Tururu, irauçuba,apuiarés e amontada participou de um processo de formação em Agroecologia promovido pelo CETRA, com o apoio financeiro da organização internacional Manos Unidas.Além do Cetra, sindicatos de trabalhadores(as) rurais (sTRs) e organizações parceiras contribuíram para incentivar a participação de agri- cultores e agricultoras no curso.
Foram trabalhados de maneira articulada aspectos teóricos e práticos relativos à construção do conhecimento agroecológico, tendo como elemento fundamental a história de vida de cada agricultor e agricultora participante. Os depoimentos dos(as) agricultores(as) sobre suas vivências enriqueceram os debates, contribuindo de maneira decisiva para a rápida compreensão/apreensão coletiva das práticas de manejo, das relações familiares e comunitárias, das lutas pela efetivação da reforma agrária e do valor dos costumes de cada canto do território.
A programação do curso contemplou visitas de intercâmbio que permitiram ao grupo reconhecer a importância não apenas da experimentação, da diversificação e da criatividade para a melhoria das áreas, mas também dos conhecimentos detidos por outros(as) agricultores(as), que muitas vezes se traduziam em técnicas mais adequadas para o enfrentamento de situações comuns a todos(as). Dessa forma, as visitas de intercâmbio evidenciaram o valor das trocas de conhecimentos dos(as) agricultores(as) entre si, bem como entre estes(as)  e os(as) técnicos(as), alimentando relações mais respeitosas, autônomas e positivas entre todos os sujeitos do processo.
A riqueza dessa atividade de formação pode ser verificada pela consistência das intervenções dos(as) participantes e das relações estabelecidas entre os(as) mesmos(as), que, ao final do curso, em dezembro de 2005, decidiram criar a Feira agroecológica e  solidária  de  Itapipoca. Desde  então, a feira se constitui numa espécie de extensão da atividade  de formação, proporcionando a oportunidade para encon- tros, trocas de informações e ampliação do alcance da rede, com a incorporação gradativa de novos(as) participantes. a feira também permitiu a aproximação dos segmentos envolvidos, fazendo com que a produção dos quintais e dos ro- çados chegasse à mesa do povo da cidade pela mão dos(as) próprios(as) agricultores(as). Criou-se, assim, a oportunidade para o estabelecimento de relações de proximidade e confiança entre quem produz e quem consome de maneira responsável. Agricultores e agricultoras passaram a desenvolver estratégias de comercialização que se baseavam em planejamentos coletivos sobre o que levar para a feira, em que condições e em que quantidade, reforçando as ligações de grupo e considerando sugestões de consumidores(as). Com a participação na feira, os(as) agricultores(as) aumentaram seu poder de compra e expandiram o leque de consumo familiar, acessando diferentes bens e produtos ao mesmo tempo em que se ampliava a circulação de informações sobre a produção agroecológica.
Não obstante, já no primeiro ano da Feira agroecológica e Solidária, os encontros mensais se mostraram insuficientes para dar conta das discussões sobre as estratégias de comercialização e das novas exigências que gradativamente o grupo de feirantes estabelecia. Os diálogos sobre transição agroecológica, incorporando novas informações e questionamentos, ampliados pela articulação com os(as) consumidores(as) e pelas necessidades decorrentes do processo de comercialização, encaminharam o grupo para uma outra fase, que exigia maior organização e aprofundamento dos conhecimentos.A partir dessa compreensão, em maio de 2006, o grupo criou a Rede de agricultores(as) agroecológicos(as) e Solidarios do Território de Vales do Curu Aracatiaçu, composta por agricultores e agricultoras que participaram dos processos de formação de multiplicadores(as) em agroecologia iniciados em 2005.
As reuniões da rede acontecem a cada três meses e delas participam, além dos(as) feirantes, outros(as) agricultores(as) multiplicadores(as) em agroecologia, técnicos(as) de organizações de apoio e lideranças sindicais. Na ocasião, discutem assuntos de interesse da agricultura familiar e buscam aprofundar temas e questões que tenham interface com os princípios, valores e objetivos da rede, os quais foram definidos coletivamente e estão registrados em carta de princípios desde agosto de 2006.
A rede é responsável pela organização das Feiras agroecológicas e solidárias que atualmente são realizadas semanalmente no municpio de Itapipoca. Alem dessa ação da feira a rede tambem organiza os Encontros Territoriais de Agroecologia, a rede estabeleceu uma articulação importante com o Fórum Microrregional pela Vida no semiárido de Itapipoca, a partir da qual ja foram realizados Doze edições. Atualmente, os ETAs fazem parte do calendário e da dinâmica do território como atividade de formação, articulação de grupos e outras organizações, diálogo com gestores das políticas públicas e efetiva troca de saberes entre agricultores(as). Os encontros possibilitam a manifestação das culturas local e regional, com a interrelação das gerações e preservando a equidade da participação de mulheres e homens.
Outro aspecto a ser apontado na trajetória da rede é  a prática da sistematização das experiências dos(as) agricultores(as), o que tem permitido que os processos de construção do conhecimento agroecológico se multipliquem nas comunidades do território. Nessa perspectiva, dentro dos planejamentos anuais, a rede assume o compromisso de firmar parcerias para registrar as vivências de seus integrantes e a sua própria história, seja em boletins, videos e outros meios. Dessa maneira, a sistematização da experiência da rede tem sido discutida com o con- junto de seus participantes, que descrevem a sua caminhada, sua influência na dinâmica do território e nos processos de transição nas áreas.
A constituição e a validação desse processo se deram a partir do envolvimento das pessoas, que passaram a adotar a prática da organização coletiva como mais uma rotina de suas vidas. Em suma, os(as) componentes do grupo participam e vivenciam a rede, e é justamente esse senso de pertencimento que lhe dá sentido e da, tendo uma coordenação geral e uma secretaria, cada uma composta por dois agricultores(as). Também possui seis Grupos de Trabalhos - Sementes, Juventudes, Mulheres, Beneficiamento, Feiras Agroecologicas e Fundos Rotativos. Técnicos(as) não fazem parte da coordenação, mas participam das atividades da rede e colaboram nos processos de gestão, de formação, mobilização de recursos, além de promoverem atividades específicas de sua área, como assessoria técnica por meio do acompanhamento dos roçados e dos quintais agroecológicos.
A articulação em rede agrega e incorpora novos significados ao trabalho dos(as) agricultores(as) familiares, permitindo avanços em vários campos e alcançando dimensões políticas, organizativas, de formação, dentre outras. No entanto, não se trata de um movimento linear constituído apenas por pontos positivos. Em que pesem os resultados obtidos, as dificuldades e os desafios estão presentes na realidade cotidiana da rede, que também vivencia momentos em que a participação se reduz, a produção nos quintais não atinge os níveis necessários para cumprir o planejamento das feiras ou os recursos para a manutenção das atividades oscilam. A sustentabilidade financeira, por sua vez, é um dos maiores desafios enfrentados pela rede, visto que a manutenção e a continuidade das atividades dependem ainda de projetos executados por organizações parceiras. Mesmo com a existência de um fundo rotativo mantido pelos(as) agricultores(as) da rede, o montante de recursos ainda é reduzido, sendo suficiente apenas para manter as barracas da feira ou fazer pequenas aquisições. Em face disso, o caráter temporário dos aportes proveniente dos projetos desperta a atenção do grupo para a temática da sustentabilidade e alerta para o risco de descontinuidade dos processos apoiados ou viabilizados pela rede. Ainda assim, prevalece a certeza de que é por meio da organização comunitária que as pessoas  se  fortalecem, e os resultados obtidos pela Rede de agricultores(as) agroecológicos(as) do Território Vales do Curu Aracatiaçu constituem importantes referenciais para seguir na caminhada, assumindo o desafio constante de contribuir para que as dinâmicas territoriais validem as experiências e demandas da agricultura familiar agroecológica.




2. Duração da experiência

Essa é uma experiência criada em resposta aos efeitos da crise sanitária decorrente da pandemia do Coronavírus (Covid-19)? Não, a experiência já vinha acontecendo e continua durante a pandemia

3. Identificação do tipo experiência

Esta experiência é/foi realizada no Brasil?Sim

Selecione o tipo de experiênciaOutro

Qual outro?Organização Social em torno das tematicas de Agroecologia.

4. Sujeitos

Você considera que a experiência tem uma atuação em Rede? Sim

Qual(is) a(s) identidade(s) do(s) grupo(s) social(is) e coletivo(s) que participa(m) da construção desta experiência?Agricultore e Agricultoras Agroecologicos

Sexo - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • Feminino
  • Masculino

Cor ou raça - indique o(s) grupo(s) que participa(m) da experiência

  • Preta
  • Amarela
  • Branca
  • Indígena

Se há uma cor ou raça com maior participação, indiquePreta

Faixa etária - indique o(s) grupo(s) que participa(m) dessa experiência

  • De 15 a 29 anos
  • De 30 a 60 anos

Se há uma faixa etária com maior participação, indiqueDe 30 a 60 anos

6. Localização e abrangência espacial

Esta experiência está sendo cadastrada pelo celular (via aplicativo ODK Collect)? Não

7. Práticas em saúde e agroecologia

Águas e saneamentoCisterna

Práticas Agroalimentares (produção/beneficiamento/consumo)

  • Agrofloresta
  • Adubação verde
  • Feiras agroecológicas
  • Quintais sócio-produtivos (horticultura, pomar, etc.)
  • Casa ou guardiães/ões de sementes

Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) Plantas medicinais e fitoterapia

Práticas Populares e Tradicionais de Cuidado em Saúde ou Saúde Popular Remédios caseiros a partir de plantas medicinais

Esta prática é considerada uma tecnologia social pelos protagonistas da experiência? Sim

O que estimula a adoção dessa(s) prática(s)?

  • Participação em redes de aprendizados e conhecimentos
  • Rodas de conversa e oficinas
  • Curso de capacitação e treinamento
  • Intercâmbio/vivência

8. Políticas públicas

Caso a experiência tenha acessado uma ou mais políticas públicas brasileiras, indique

  • Programa Nacional de Apoio à Captação de Água de Chuva e outras Tecnologias Sociais de Acesso à Água (Programa Cisternas)
  • Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
  • Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)
  • Programa de Fortalecimento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica (Programa Ecoforte)

9. Resistências e ameaças

Algo ameaça esta experiência?

  • Transgênico
  • Disputa territorial ou dificuldade de acesso ao território
  • Sucessão geracional frágil ou inexistente
  • Contaminação/poluição ambiental
  • Agrotóxico

Há conflito(s) ambiental(is) no(s) território(s) onde essa experiência acontece?Sim

Indique o(s) município(s) e respectiva(s) Unidade(s) Federativa(s) onde acontece o conflitoItapipoca

Grupo(s) social(is) atingido(s) pelo conflito ambiental

  • Agricultor(a) familiar
  • Povos indígenas

Atividade(s) geradora(s) do conflito

  • Agroindústria/agronegócio
  • Agrotóxicos
  • Especulação imobiliária
  • Energia eólica

Impactos Socioambientais da(s) atividade(s)

  • Erosão do solo
  • Falta de saneamento básico
  • Desmatamento
  • Alteração no ciclo reprodutivo da fauna
  • Incêndios e/ou queimadas

Possíveis danos à saúde decorrentes da atividade e/ou do conflito

  • Doenças respiratórias
  • Falta de atendimento médico
  • Contaminação ou intoxicação por agrotóxicos
  • Obesidade

A experiência aqui cadastrada está envolvida nesse(s) conflito(s) ambiental(is)? Não, a experiência não está envolvida no conflito

11. Estratégias de Comunicação e Anexos

Que tipo(s) de ferramenta(s) utiliza para divulgar a experiência e se comunicar com os envolvidos?

  • Facebook/Messenger
  • Site

12. Redes em saúde e agroecologia

De que forma sua organização poderia colaborar na criação e/ou fortalecimento dessas redes?Na disseminação da agroecologia por todos os territorios.