3.3 Como se deu a participação das diferentes organizações da sociedade civil (grupos, coletivos, movimentos sociais e outros) na iniciativa?
Importantes políticas públicas e articulações da sociedade civil emergiram na década de 2010. A Plataforma de Apoio à Agricultura Orgânica na cidade de São Paulo foi formada em 2012 e coordenada por 3 instituições não governamentais: Instituto 5 Elementos, Instituto Kairós e Associação de Agricultura Orgânica (AAO). Com o apoio de outras ONGs, cooperativas e associações de agricultores urbanos e rurais, a Plataforma foi responsável por discutir propostas de apoio à agricultura no município, congregar e sistematizar as demandas dos agricultores e articular o tema com políticos do Legislativo e do Executivo municipal para obter o comprometimento para inclusão dessas pautas nos planos de governo. Após o processo eleitoral, a Plataforma tornou-se um espaço importante de articulação entre a Câmara de Vereadores e a sociedade civil, possibilitando o desenvolvimento de políticas públicas importantes e o controle social de acordo com as demandas diretas das/dos agricultoras/es
Foram 6 anos desde a primeira discussão pública do tema na Câmara de Vereadores até a publicação do decreto de regulamentação da lei. Tudo começou com a demanda da sociedade civil junto ao Legislativo e, posteriormente, com o apoio mais efetivo da CODAE na construção participativa do decreto de regulamentação e seu plano de ação, contando com as secretarias do Verde e do Meio Ambiente, da Saúde e de Trabalho e Empreendedorismo.
Foram fundamentais o apoio suprapartidário no Legislativo, o envolvimento de vários setores da sociedade civil organizada, o caráter intersecretarial e uma consulta pública que contou com cerca de 150 contribuições.
Outra inovação foi formar uma Comissão Gestora Intersecretarial de acompanhamento do Plano de Introdução Progressiva de Alimentos Orgânicos que conta com 2/3 da sociedade civil organizada, representantes de 4 conselhos municipais, 1/3 de representantes das 4 secretarias e 2 representantes do Legislativo que se reúnem mensalmente para acompanhar a implementação da lei e dar sugestões (Portaria SME n. 007, de 17 de novembro de 2016).
A articulação da Lei da Alimentação Escolar Orgânica se deu por meio da Plataforma de Apoio à Agricultura Orgânica na cidade de São Paulo. A Plataforma buscou sintetizar as demandas das/dos agricultora/es para construir um compromisso das/dos candidatas e candidatos nas eleições municipais de 2012. O documento foi criado após a realização de alguns seminários na Câmara Municipal, organizados principalmente pelo vereador Gilberto Natalini (PV), com a participação das associações e grupos de agricultoras/es do município de São Paulo. A Plataforma surgiu como um resultado desses seminários, buscando consolidar as demandas que foram trazidas pelas/os agricultoras/es para incentivar e fortalecer a agricultura no município de São Paulo. Após sua criação, a partir das organizações da sociedade civil citadas acima (Instituto 5 Elementos, AAO e Instituto Kairós), a Plataforma foi assinada por diversas entidades para apresentação a diversos candidatos a vereador e a prefeito na época. Diversos vereadores eleitos assinaram a plataforma, assim como o prefeito Fernando Haddad.
Após as eleições, começou um trabalho de acompanhamento das demandas e compromissos explicitados na Plataforma, buscando acompanhar o avanço das questões elencadas e articular politicamente sua efetivação. A partir da iniciativa dessas 3 organizações coordenadoras, foi criado um grupo com várias outras instituições, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), o Movimento Integração Campo Cidade (MICC), algumas pessoas da Associação de Agricultores da Zona Leste (AAZL), da COOPERAPAS, o Greenpeace e outras instituições que apareceram ao longo do caminho. Participaram também desse grupo a assessoria de três vereadores: Ricardo Young (REDE), Nabil Bonduki (PT) e Gilberto Natalini (PV).
Entre os dias 21 e 24 maio de 2013 foi realizada, na Câmara Municipal de Vereadores de São Paulo, a Semana de Agroecologia, com o objetivo de divulgar a Plataforma e conquistar apoio dos parlamentares e órgãos públicos, mobilizando a sociedade civil e articulando a construção de políticas públicas para a agricultura orgânica. A partir do lançamento, o grupo começou a fazer reuniões periódicas para ver e acompanhar o andamento dessas políticas.
Havia um projeto de lei do Natalini que obrigava a Prefeitura a comprar 30% de alimentos orgânicos, da agricultura familiar, repetindo a determinação do PNAE. Em diálogo com o vereador, propôs-se a retirada desse projeto de lei para apresentação de um novo, que exigisse que a Prefeitura comprasse progressivamente orgânicos para alimentação escolar. O PL n. 451, de 25 de junho de 2013, previa uma autorização para que a Prefeitura investisse dinheiro próprio para garantir a priorização de alimentos orgânicos, dando prioridade para agricultoras/es municipais. Para estas/es, estava permitida a compra de alimentos em transição agroecológica, mediante comprovação, pagando-se o valor de 30% a mais por esses produtos, conforme previa o PNAE para produtos orgânicos certificados.
O PL n. 451/2013 foi construído ao longo de sucessivas reuniões da Plataforma, em que se fazia o estudo técnico das proposições trazidas pela sociedade civil e por grupos de agricultoras/es a partir das dificuldades encontradas, a análise de conjuntura e a busca por informações e outras experiências de sucesso pelo Brasil. Participavam do encontro técnicas/os da Prefeitura interessadas/os na temática e que atuavam de forma militante para possibilitar a compra institucional das/dos agricultoras/es do município. O processo participativo de elaboração teve muita contribuição da experiência e da prática da aquisição da alimentação escolar orgânica do Paraná, tanto com a participação de gestoras/es como da Rede Ecovida.
Assim, os 3 vereadores apresentaram o projeto de lei em 25 de junho de 2013 e a Plataforma passou a monitorar sua tramitação, fazendo contato com outras/os vereadoras/es para envolvê-las/los e garantir sua aprovação nas comissões. Ao longo desse processo, outras/os vereadoras/es se comprometeram com a Plataforma e mais 3 vereadores solicitaram coautoria do PL: Goulart (PSD, em 27 de novembro de 2013); Toninho Vespoli (PSOL, em 10 de dezembro de 2013) e Dalton Silvano (DEM, em 11 de fevereiro de 2015, com apresentação de substitutivo). A Plataforma também conseguiu apoio formal da Frente Parlamentar de Sustentabilidade da Câmara, que foi importante para o processo de articulação com as/os demais vereadoras/es. Apesar de assinarem como coautores, apenas as assessorias dos vereadores Ricardo Young, Nabil Bonduki e Gilberto Natalini estiveram presentes em quase todos os encontros.
Como parte de um processo dinâmico e complementar à Plataforma, o Movimento Urbano de Agroecologia de São Paulo (MUDA-SP) surgiu em 2014 e tornou-se um coletivo com ativistas e instituições que propunham ações para o desenvolvimento de uma cidade mais verde, reconectada à natureza, incentivando a promoção da agricultura familiar, a construção de uma cadeia produtiva justa e solidária e a ocupação responsável e coletiva do espaço público. Além disso, o MUDA desempenhou um papel fundamental na criação de um mapa colaborativo do município de São Paulo e arredores, apontando as hortas comunitárias, mercados e feiras livres que comercializam produtos orgânicos e restaurantes que utilizam produtos orgânicos. O movimento se engajou na criação de uma feira livre de produtos orgânicos no Shopping Villa Lobos, além de ajudar as/os agricultoras/es urbanas/os na comercialização dos seus produtos em toda a cidade por meio do apoio à formação de grupos de consumo responsável e no incentivo e apoio aos movimentos de permacultura nas periferias, como a Rede PermaPerifa. O MUDA, em conjunto com o Kairós, a AAO, Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica (ABD) e a Fundação Mokiti Okada, contribuiu também diretamente para a abertura da feira municipal orgânica do modelódromo do Ibirapuera, um dos principais pontos de comercialização das/dos produtoras/es da COOPERAPAS, além de estar envolvido na mobilização #AFEIRAFICA, coordenada pela Plataforma, para a manutenção dessa feira quando a Prefeitura tentou retirá-la do local, em 2014.
No âmbito do Poder Público, cabe destaque à atuação da Coordenação de Alimentação Escolar (CODAE/SME), enquanto promotora dessa política pública, e da Supervisão de Abastecimento (ABAST/SMSUB), que era a antiga Secretaria de Abastecimento (SEMAB), que virou uma supervisão dentro da Secretaria de Subprefeituras e é quem desenvolve assistência técnica para os agricultores. A implantação da lei contou com um esforço grande da CODAE de fazer a compra desses 30% e até na promoção da Lei dos Orgânicos na Alimentação Escolar. Eles foram uma peça-chave para fazer um trabalho intersetorial e garantir um processo participativo com a sociedade civil representada pela Plataforma. Outro ator que, dentro desse processo, foi essencial foi o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (COMUSAN), que garantiu o monitoramento e o controle social da implementação da política junto ao Conselho de Alimentação Escolar (CAE). Em paralelo à lei dos orgânicos na alimentação escolar, o COMUSAN despontou como um conselho forte na cidade de São Paulo na promoção da segurança alimentar, não só a compra da alimentação escolar e compra da agricultura familiar, mas também diversas outras políticas que têm se desenvolvido na cidade.
Com a eleição da quinta Gestão do COMUSAN em 2015, as instituições da Plataforma reconheceram que o COMUSAN era um espaço formal e institucionalizado de diálogo e de articulação dessas políticas. Não dava mais para ter uma Plataforma como um espaço paralelo de articulação, então as instituições decidiram concorrer ao COMUSAN enquanto um espaço institucional que precisava ser fortalecido.
Após a promulgação da Lei n. 16.140, em 17 de março de 2015, técnicos da CODAE/SME iniciaram um processo de construção participativa da regulamentação da lei. A regulamentação traria o Plano de Inserção Progressiva de Orgânicos na Alimentação Escolar, com metas progressivas para cumprimento pela Prefeitura. Houve um processo intenso de discussão e elaboração dessas metas, que exigiu a busca por experiências exitosas em outros estados (no caso, o Paraná foi grande referência, assim como a Rede Ecovida de Agroecologia) e negociação entre a Prefeitura e a sociedade civil representada na Plataforma. O processo de construção do decreto contou com inúmeras reuniões e oficinas com técnicos de diversas secretarias dentro da Prefeitura, como a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, protagonizadas pelos técnicos da CODAE e pela Plataforma. O decreto, com seu plano de ação, foi submetido a uma consulta pública, com 151 contribuições. Por fim, o decreto teve como previsão de que até 2026 São Paulo cumpriria 100% da alimentação escolar orgânica, por meio de uma comissão gestora, regulamentada pela Portaria n. 007, de 2016, que tem feito o acompanhamento da implementação da lei desde então.
Em qual(is) rede(s) a iniciativa foi construída ou articulada?
Plataforma de Apoio à Agricultura Orgânica
3.5 Em que âmbito se deu a participação da sociedade civil?
- Consulta pública
- Conselho municipal
- Reunião com técnicas/os de órgãos públicos
- Na redação/elaboração de políticas públicas
- Na articulação com atores políticos (advocacy)
- Audiência pública
3.6 Dentre as pessoas que protagonizaram essa iniciativa, marque o gênero com maior participação:Não é possível aferir
3.7 Dentre as pessoas que protagonizaram essa iniciativa, assinale o grupo racial com maior participação:Brancos/as
3.8 Dentre as pessoas protagonistas, marque o grupo de faixa etária com maior participação:30 - 59 anos
3.10 Como pode ser qualificado o processo de participação da sociedade civil na iniciativa?Muito efetiva (participação substantiva durante todo o processo)
3.13 Quais os resultados, aprendizados e desafios da iniciativa?
Síntese dos desafios:
Logística
Assistência técnica
Exigência de qualidade
Relação intersecretarias
Burocracia
Desperdício
Educação alimentar nutricional
Comunicação
A burocracia é enorme, a informatização do processo de compra faz muita diferença, tornando-o muito mais ágil e eficiente. Outro ponto é o cardápio, que não pode ser fixo para dialogar com a sazonalidade dos produtos; por exemplo, invés de colocar na chamada “alface”, coloca-se “folhosas”. Quem fiscaliza, dá baixa e controla é a própria escola, que automaticamente cruza os dados no sistema.
A exigência de “qualidade” é surreal. Em São Paulo, se usa o padrão de qualidade CEAGESP. A banana por exemplo, tem que ter o padrão de 15 cm, limitando-se toda a diversidade de espécies de banana. É todo um desafio da logística industrial, como o de controle sanitário para alimentos pouco processados e/ou de equipamentos adequados.
Outro ponto importante é diminuir o desperdício, com aproveitamento integral dos produtos.
Percebemos também a centralidade da questão da educação alimentar. Hoje se desdobra no repensar o papel da horta na escola, ela precisa ficar além do plantar e colher alface, deve abranger o cultivo em biodiversidade e o uso no refeitório. Assim, foi criado o projeto “Viva Agroecologia”, difundindo hortas PANC — plantas que têm maior resiliência —, aumentando a biodiversidade de alimentos.
A iniciativa acabou inspirando outras experiências, como a de Jundiaí-SP, que hoje produz PANCs, além do que já era produzido, abastecendo todas as escolas municipais.
Outro resultado que vem ao encontro do desafio da comunicação é a valorização e reconhecimento da agricultura familiar biodiversa, inspirando a criação de uma série documental “Sabores da Agricultura Familiar”.
De forma geral, os resultados reforçam o apoio da agricultura familiar orgânica, de alimentos saudáveis e biodiversos.
NomeAção da Cidadania
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeOCS São Paulo
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeVitae Civilis
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeS.O.S Mata Atlântica
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeInstituto Pedro Cozzi – Espaço DAR VIDA
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeMovimento Integração Campo Cidade
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeMovimento Urbano de Agroecologia
Qual o papel da organização na iniciativa?Facilitadora do processo participativo
NomeMovimento Boa Praça
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeCampanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeSlow Food São Paulo
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeMOA International Brasil
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeInstituto Refloresta
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeInstituto Pólis
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeInstituto Pedro Matajs
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeInstituto Kairós
Qual o papel da organização na iniciativa?Facilitadora do processo participativo
NomeInstituto 5 Elementos– Educação para a Sustentabilidade
Qual o papel da organização na iniciativa?Facilitadora do processo participativo
NomeInstituto Alana
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeInstituto de Defesa do Consumidor
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeGreenpeace
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeFundação Mokiti Okada
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeCooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa de SP
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeConselho Brasileiro de Fitoterapia
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeCentro Paulus
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeCasa do Rosário
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeInstituto AUÁ
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeAssociação de Produtores Orgânicos de São Mateus
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeAgricultura Natural de Campinas
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeAssociação Biodinâmica
Qual o papel da organização na iniciativa?Apoiadora
NomeAssociação de Agricultura Orgânica
Qual o papel da organização na iniciativa?Facilitadora do processo participativo