Sítio Gênesis
Narli Barbosa e Antônio Ribeiro, o Toninho, são agricultores familiares que se dedicam diariamente ao cultivo de alimentos saudáveis e livres de venenos. O casal betinense faz parte do assentamento Ho Chi Min (MST) desde 2006, quando puderam finalmente colocar em prática a vontade de trabalhar com agricultura. Participam desde 2010 da Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana, espaço de trocas, lutas e resistências. O Sítio Gênesis está inserido no assentamento Ho Chi Min, localizado na zona rural de Nova União, região metropolitana de Belo Horizonte. O assentamento possui uma área de 758 hectares, onde vivem 42 famílias que se organizam em três núcleos de base: Patativa do Assaré, Manuelzão e Paulo Freire. O lote de Dona Narli e Sr.Toninho possui cerca de 9 hectares e está inserido no núcleo Paulo Freire, juntamente com outras sete famílias.
No ano de 2008 parte do lote onde hoje está localizado o Sítio Gênesis abrigava uma horta comunitária, gerida pelos integrantes do núcleo Paulo Freire para o sustento dos moradores. Lá plantavam banana, couve, alface e outras hortaliças. Com a divisão do território entre as famílias assentadas, em 2011 o lote de Dona Narli e Sr.Toninho passou a ocupar o local onde estava a antiga horta, mas foi apenas em 2014 que mudaram definitivamente para o assentamento associando moradia e produção em um só espaço. Todo o trabalho produtivo é feito pelo casal que conta eventualmente com a ajuda dos vizinhos. Apesar do fim da horta comunitária a agricultura é ainda uma prática comum entre a maioria das famílias do núcleo Paulo Freire. Cada uma delas cultiva individualmente em suas terras mas sempre que possível se organizam em mutirões para troca de sementes, experiencias e mão de obra.
Cultivam maracujá, linhaça e banana, além de outras várias hortaliças, legumes, plantas medicinais, frutas e cultivos de roça podem ser encontradas no sítio. Também produzem grãos, temperos, adubo e sementes. Dona Narli e Sr.Toninho adotam práticas agroecológicas de cultivo respeitando os ciclos da natureza e garantindo a qualidade dos alimentos. Não fazem uso de adubos químicos e agrotóxicos, buscando a cada dia a sustentabilidade do espaço. Produzem, colhem e armazenam sementes crioulas, garantindo a independência em relação às grande empresas produtoras de sementes. Além disso, realizam experiência com produção de composto (compostagem) e constantemente reutilizam embalagens, reduzindo a produção local de lixo.
As cinco famílias que produzem no Núcleo Paulo Freire se organizam semanalmente para a comercialização das colheitas. Sr. Toninho é quem recolhe e encaminha os produtos para as feiras, como a Feira Terra Viva, Feira da Agricultura Urbana do Baixo Onça, Feira Agroecológica de Nova União e outros locais de comércio. A produção das hortas é destinada, primeiramente, ao abastecimento das famílias e o restante é comercializado, doado ou trocado. No Sítio Gênesis a comercialização dos produtos da horta passou a contribuir, desde 2015, na renda da família, mas ainda é necessário recorrer a outras fontes para complementar o orçamento.
O maior desafio enfrentado no Sítio Gênesis está relacionado à captação de água. O núcleo Paulo Freire conta com um sistema construído pelos próprios moradores que dá conta apenas do consumo diário de seis famílias mas não da irrigação dos plantios. A captação da água é feita em uma mina próxima ao assentamento e chega até a casa dos moradores por gravidade. Outro grande desafio destacado por Dona Narli e Sr.Toninho é o próprio trabalho com a agroecologia, que se torna difícil pela ausência de políticas públicas que a incentivem.
Um dos planos para o futuro é implementar no Sítio Gênesis um sistema agroflorestal, fazendo dele dele um espaço de oficinas e trocas, tendo sempre em mente a agricultura urbana e a agroecologia, promovendo maior integração entre os moradores do assentamento e da sociedade como um todo.