Aflorando a agroecologia com trabalho coletivo: A experiência da Associação de Agricultores e Agricultoras Agroflorestais de Ribeirão/PE - Aflora.
A Associação de Agricultores e Agricultoras Agroflorestais de Ribeirão/PE (Aflora), nasceu da iniciativa de um grupo de agricultores/as que estavam desenvolvendo Sistemas Agroflorestais (SAFs) em suas propriedades na Zona da Mata Sul de Pernambuco.
A motivação veio após participar de algumas visitas de intercâmbio a experiências de outras associações. O grupo estava participando de um processo de articulação e convencimento de novas famílias para aderirem ao trabalho coletivo. Eles e elas tinham sabiam da importância de uma associação para as famílias agricultoras, como afirma Pedro José dos Santos, agricultor agroflorestal, e membro do Conselho Fiscal da Aflora: “a base do agricultor é uma associação. É ela que está à frente do agricultor. Para ter um projeto, só tira pela associação. Então, o primeiro passo do agricultor é acreditar numa associação”, afirma ele.
A Aflora foi fundada, oficialmente, no dia 12 de maio de 2003. Seu objetivo é trabalhar na defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promovendo o desenvolvimento sustentável. Ela possui uma sede, construída em regime de mutirão, numa área comunitária. As famílias que fazem parte da associação vivem em área de assentamento do Incra há mais de 18 anos. Mas até o momento o título de posse da terra não foi emitido.
Atualmente, conta com uma participação ativa de mais de 20 sócios de quatro assentamentos do município de Ribeirão. Destes, poucos são jovens, pois o envolvimento deles na produção de cana-de-açúcar é um grave problema na região. Já a participação das mulheres é bastante ativa. Representam 40% dos/as associados/as, uma delas assume hoje o cargo de coordenadora geral da associação. Além dela, há os coordenadores secretário e financeiro, e três membros do conselho fiscal.
A principal ação que motivou as famílias à experiência de trabalho coletivo foi a produção de mudas frutíferas e nativas da Mata Atlântica, como lembra o Irmão José. “desde o início trabalhamos com produção de mudas. Trabalhamos muito em mutirão, onde trocávamos experiência sobre a produção de mudas e como implantar os sistemas agroflorestais”, explica ele.
O regime de mutirão é apontado como uma ferramenta de estímulo ao trabalho e troca de experiências, além de tudo é mais divertido do que o trabalho solitário.
Em sua trajetória a Aflora passou por duas crises, com momentos de desestímulo dos/as sócios/as. A primeira aconteceu em 2007 e a outra em 2009. Contudo, havia sempre um pequeno grupo que segurava firme, contribuindo para a superação das mesmas. Nesse tipo de organização as dificuldades são muito comuns, já que envolve um coletivo com diversos olhares. Mas o principal a Aflora manteve, a força e a ação coletiva para se reerguer, como lembra seu Pedro: “Problemas sempre têm, mas que a gente pode resolver dentro da associação. É preciso pensar junto como é que podemos resolver, discutir dentro da associação, qual é o lado bom e o lado ruim de cada coisa. Temos que trabalhar como uma família, com amor uns aos outros, escutar uns aos outros, perceber o outro. Numa associação eu não sou eu... somo nós”, conclui.
Os projetos articulados com essa força coletiva fortaleceram ainda mais o grupo. Em 2008, a Aflora trabalhou num projeto para fornecer muda para uma empresa. Em seguida, forneceu 80 mil mudas, para a Secretaria de Agricultura do Recife. Em 2009, teve um novo projeto, que comercializou 300 mil mudas.
Atualmente, as famílias da Aflora comercializam na feira tradicional de Ribeirão. O transporte dos produtos ainda é um obstáculo a se superar. O grupo avalia que é preciso ampliar a ação de beneficiamento e planejamento da produção, melhorar a sede da associação e envolver mais as famílias. Um dos desejos do grupo é o apoio para o beneficiamento da produção para aquisição de despolpadeira e melhorar a infraestrutura física.
Uma das principais conquistas que o trabalho coletivo tem proporcionado é a geração de renda. Cada agricultor/a comercializa uma média de mil mudas por ano, por intermédio da Aflora. Além disso, tem o aprendizado que a associação proporciona para seus associados e associadas. “A Aflora tem tudo de bom pra gente mudar de vida. Traz muita força para nosso alimento. Tem muita explicação, só faz errado se quiser”, diz o agricultor José Severino. Para o jovem agricultor Erivan dos Santos, a Aflora tem um papel importante na comunidade. “Se não fosse a Aflora, seria difícil de trabalhar. Ela tem esse papel de desenvolver a agroecologia, de preservar e cuidar da natureza, de respeitar as pessoas. Esse papel de solidariedade e de união. Os momentos difíceis a Aflora superou porque houve união no grupo”, conclui ele.