Grupo Ecológico Renascer - agricultores ecológicos investem no processamento de alimentos

Urubici é o município da Serra Catarinense que mais produz hortaliças. Infelizmente, a maioria das hortas é regularmente banhada por venenos. O motivo que despertou o interesse de um grupo de agricultores pela produção ecológica foi a dificuldade de comercialização ou utilização do que sobrava das vendas pois, ao contrário dos produtos orgânicos, os convencionais têm muito pouca durabilidade. Outro estímulo à busca por uma alternativa ao sistema convencional de produção foi o fato de que muitos agricultores estavam adoecendo pelo contato regular com os agrotóxicos. A discussão em torno da agroecologia começou em 1998, com o apoio do Centro Vianei de Educação Popular. À época, através de uma parceria entre os agricultores, o Vianei e a prefeitura municipal, iniciou-se o projeto de criação de uma agroindústria familiar. O Vianei prestava assessoria técnica para a produção agroecológica e, junto com um “clube de mães”, este grupo começou um trabalho de industrialização dos excedentes da produção que não eram absorvidos pelo mercado -- sobretudo produtos que não alcançavam padrão para a venda in natura. O processamento das hortaliças teve início em pequenas escolas do interior que estavam sendo fechadas e foram adaptadas para a nova atividade. Lá, frutas e hortaliças agroecológicas eram transformados, por exemplo, em picles, massa de tomate, sucos, doces e geleias. O trabalho corria bem até que a fiscalização sanitária interrompeu as atividades, alegando que as instalações usadas pelo grupo não estavam de acordo com os padrões exigidos. Mas os agricultores não desanimaram: em 2003, com o apoio da Rede de Agroecologia, começaram a elaborar projetos para a adequação da infraestrutura da pequena agroindústria. Entre 2003 e 2006 o grupo conseguiu aprovar alguns projetos que viabilizaram a compra de freezer, despoupadeiras, mesas, liquidificador e até uma kombi. Entre os diversos projetos aprovados, que pouco a pouco foram adequando a estrutura da agroindústria à legislação sanitária, teve destaque um projeto do Pronaf Infraestrutura específico para o fortalecimento de atividades de mulheres, apoiado pelo Programa de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia (PPIGRE). Naquele ano (2006) houve somente 8 projetos deste programa aprovados no Brasil, dos quais apenas 1 de Santa Catarina. À época, o trabalho do Grupo Renascer envolvia mais de 100 mulheres. Em 2007, entretanto, surgiu nova dificuldade: a falta do registro estadual. Os agricultores avaliam que a fiscalização começou a persegui-los porque estavam “crescendo e ficando conhecidos”. O golpe fatal foi a alegação de que a agroindústria ecológica não poderia dividir espaço com nenhuma outra atividade -- precisariam construir um novo espaço. As dificuldades impostas pela falta do “selo” foram tantas que o grupo acabou suspendendo temporariamente as atividades da agroindústria. Os agricultores nunca tinham abandonado a venda de produtos in natura nas feiras locais (chegaram, neste meio tempo, a ter algumas experiências negativas com o fornecimento para grandes supermercados), e começaram então a buscar outras estratégias para diversificar os canais de comercialização. O grupo se integrou à Cooperativa Ecoserra e ao circuito da Rede Ecovida de Agroecologia, firmou contratos com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), gerido pela Conab, e passou a fornecer para a alimentação escolar. Além disso, os agricultores mantiveram entregas em domicílio e abastecimento de pousadas (sobretudo de famílias do próprio grupo). Mais recentemente, o Renascer, que atualmente conta com 13 famílias, começou também a se articular com o Movimento Slow Food e recebeu o reconhecimento internacional da “Fortaleza do Pinhão”, uma estratégia para preservar a cultura alimentar do produto. Apesar de tudo isso, o sonho da agroindústria não morreu. Após a suspensão das atividades de processamento de alimentos, o grupo começou a lutar pela construção do novo espaço exigido pela fiscalização sanitária. O projeto vingou e a obra está sendo concluída em 2010. Brevemente, a agroindústria do Grupo irá Renascer dando prioridade a uma nova atividade: o processamento do pinhão.