O PROCESSO DE CRIAÇÃO DE UMA CASA DE SEMENTES LIVRES

A região onde está localizada a vila de Aldeia Velha tem grande potencial para a agricultura, como já foi demonstrada na sua história. A população descende de negros e índios, que possuem grande tradição agrícola. Hoje, formada basicamente por caipiras, a população se vê no centro de um grande paradoxo, pois ao mesmo tempo em que vive no “meio da mata”, perto da floresta, de poderosas e importantes fontes de água – como a Bacia do Rio São João – não tem à venda no supermercado da vila as hortaliças mais básicas. Parte desse problema está diretamente relacionado à expansão da pecuária, que além de tirar o espaço das roças, deixa o solo pobre e impossibilita futuras plantações. Desse modo, a distribuição de sementes livres, sem modificações genéticas e sobre as quais não incida nenhuma patente, para essa população é uma forma de resgatar suas práticas agrícolas, que são igualmente culturais, e reintroduzir as roças consorciadas nas famílias, livres de agrotóxicos, uma vez que o plantio é todo agroecológico. Além disso, os agricultores da própria região possuem sementes importantes de serem preservadas, como uma espécie de milho branco muito valorizada na área. Esse cuidado é importante, tanto para que as sementes possam ser guardadas, distribuídas entre a comunidade, plantadas e multiplicadas, quanto para o material genético ser armazenado livre de pragas e garantir sua durabilidade. Um dos objetivos para o funcionamento da Casa de Sementes Livres é ser gerido pela própria Escola da comunidade, em parceria com a EMA e colaboradores e amigos do local. A idéia é que um projeto pedagógico norteie atividades e reflexões da comunidade escolar ao longo de todo período letivo. Exemplo: alunos da 5 série vão receber os agricultores, pesar e trocar as sementes por outras, dentro da aula de Matemática, enquanto os da 6 série catalogam as sementes por espécie como atividade da aula de Ciências e assim por diante, propiciando um aprendizado mais dinâmico e condizente com problemas reais do dia a dia. A EMA vem realizando visita aos agricultores da região para cadastrá-los no banco de sementes. Através da visita às suas roças e do preenchimento de um questionário, são identificadas as sementes que eles possuem o costume de guardar em casa, quais eles não encontram mais na região e ainda quais gostariam de obter. Além de guardar e multiplicar essas sementes, a Casa de Sementes Livres vai obter aquelas desejadas pelos agricultores, como as de tomate. Os encontros estão sendo filmados para a produção de um documentário e os convidados escreveram sobre a experiência, para a produção de material didático (DVD+cartilha) a ser distribuído em outras escolas, incentivando a criação de mais bancos de sementes.