Quintais na cidade: a experiência de moradores da periferia do Rio de Janeiro
Desde finais de 1999, a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) desenvolve um trabalho em comunidades pobres da zona oeste, periferia do município do Rio de Janeiro com a finalidade de incentivar práticas de agricultura urbana em áreas de loteamentos irregulares, em particular o Loteamento Ana Gonzaga em Campo Grande. Nessas comunidades são observados elevados índices de desemprego e subemprego, além de sérias carências de serviços básicos. Além disso, muitas famílias enfrentam situações de insegurança alimentar e nutricional. Em pesquisa realizada no Loteamento Ana Gonzaga, foram identificadas diversas famílias sem renda mensal e muitas outras com renda de até R$ 200,00. A restrição de renda para aquisição dos alimentos foi levantada como principal dificuldade relacionada à alimentação. As dietas das famílias se baseiam quase exclusivamente no consumo de café, leite, pão e margarina no café da manhã, e arroz e feijão nas demais refeições. Cerca de 50% das famílias ficam até três semanas sem consumir hortaliças ou carnes. Na região ainda eram encontradas residências com quintais de terra e terrenos sem construções. Em alguns desses espaços eram desenvolvidas experiências agrícolas que adaptavam traços da tradição rural ao ecossistema urbano. Elementos da herança cultural de diferentes regiões do país também são observados nas diversas formas de uso de remédios caseiros à base de plantas e na grande diversidade de hábitos alimentares ainda presentes. Para desenvolver o seu trabalho, a AS-PTA adotou como princípio de sua abordagem metodológica a valorização e o fortalecimento dessas práticas socioculturais. A restrição de espaço e a baixa qualidade das terras dos quintais eram características normalmente apontadas como limitantes à realização da agricultura nos loteamentos. Com a assessoria da AS-PTA, os moradores das comunidades têm buscado alternativas adaptáveis a esse ambiente, como o uso de vasos, latas, potes, pneus velhos, bidês, bacias, canteiros de alvenaria ou madeira para cultivo de plantas ornamentais, medicinais, temperos e outras hortaliças que não necessitam de muito espaço. Dessa forma, o projeto de implementar a agricultura em espaços urbanos é uma forma eficaz de fomentar a segurança alimentar da população de baixa renda.